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AULA 2: O MOTIVO-GUIA

Publicado em 17/01/2020

AULA 2: O MOTIVO-GUIA

Muitas vezes é comum ouvir a indagação de como uma pessoa com formação completa incluindo o doutorado em matemática iria investir ainda mais seus estudos e pesquisas no campo da filosofia. E ao que nos parece, essa motivação já se apresenta numa conferência inaugural em Hale, onde ensinou de 1887 a1901, Über die ZieleundAufgaben der Metaphysik ("Sobre os objetivos e problemas da metafísica"). O objeto tradicional da metafísica é o estudo do Ser. Neste texto Husserl já apresenta seu método de análise da consciência como o caminho para uma nova e universal filosofia e uma nova metafísica. Para Husserl, a base filosófica para a lógica e a matemática precisa começar com uma análise da experiência que está antes de todo pensamento formal. 

Essa preocupação com a metafísica foi continuada de maneira mais intensa por seu discípulo Martin Heidegger¹  que sustenta um “passo de volta”, de “repetição” e de “desconstrução” da tradição metafísica. Por isso, alguns alunos confundem a proposta da fenomenologia, principalmente no que consiste a dimensão transcendental, e dizem que esse movimento é uma continuidade da filosofia transcendental kantiana. Alguns entendem que não se trata de reconstruir uma nova metafísica, mas recolocar a filosofia em novas bases. Em Meditações Cartesianas escreve: “A fenomenologia exclui apenas uma metafísica ingênua que se refere às absurdas coisas em si, mas não a Metafísica em geral”.

Husserl define a metafísica como ciência dos mais altos princípios e últimos problemas. Contudo, a metafísica clássica é considerada ingênua por que pôs entre parênteses a idealidade (sentido), precisamente aquilo que é a medula de tudo e conserva um caráter de evidência plena.

Na verdade, a crítica da fenomenologia husserliana indica um fracasso da metafísica e tendência positivista que vem desde Galileu, que transformou a natureza num vestido de ideias. Isso leva à perda do sistema de valores e fins racionalmente estabelecidos. “Meras ciências de fatos fazem meros homens de fatos”, nos diz Husserl. As representações científicas acabaram por exercer um afastamento do mundo caindo numa grande abstração, pois o mundo é aquilo que eu vivo e não uma definição. Nesse sentido a metafísica tradicional em seu modo de descrever os seres teve continuidade nas representações abstratas da ciência. Conforme Merleau-Ponty (1994, p. 18), “a filosofia não é o reflexo de uma verdade pré-estabelecida, mas  assim como a arte, é a realização de uma verdade”.

Na obra: “A Crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental”, escrita na maturidade Husserl escreve: “Levar a razão latente à compreensão de suas possibilidades e, consequentemente evidenciar a verdadeira possibilidade duma Metafísica. Eis o único meio de introduzir a Metafísica e a Filosofia Universal no laborioso caminho da realização”.

A extensão dessa crise é maior que imaginamos. A metafísica objetivista da ciência moderna tem responsabilidade na crise contemporânea. A metafísica se transformou numa mera descrição dos entes. E conforme Heidegger, o problema : o sentido do ser caiu no esquecimento. Pois, a metafísica tradicional restringe o ser no que é característico universal.

A fenomenologia então em termos metodológicos propõe um retorno ao mundo-da-vida (Lebenswelt), subjetivo-relativo, dimensão aproximativa, solo de toda operação de conhecimento e toda determinação científica. A crítica ao psicologismo e ao naturalismo cientificista mostra um pouco essa crise que na verdade é uma crise da formação cultural moderna, da formação cultural ocidental.

A metafísica é expressa pela técnica e a instrumentalização geral do mundo. Retorno ao mundo subjetivo-relativo, dimensão aproximativa, (Lebenswelt) que é o solo de toda operação de conhecimento e toda determinação científica. Assim, nas palavras de Merleau-Ponty (1994, p. 19), “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta ‘profundidade’ quanto um tratado de filosofia”.

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¹É de fundamental importância a leitura de Ser e tempo buscando compreender como é fundamental uma espécie de “destruição da história da ontologia”, onde ocorreu uma trivialização da questão do ser.



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