Sobre o curso de Formação
Os Criadores
"Tudo que rejeitamos, apodera-se de nós.
Tudo que respeitamos, deixa-nos livres."
Bert Hellinger
O que é Constelação?
Blog17/09/2022 16:45:29 A EXCLUSÃO FAMILIARNos
últimos tempos a questão da família tornou-se um dos elementos mais importantes
nas diversas pautas políticas e agora aparece de maneira intensa nas
propagandas eleitorais. Até que ponto nossos representantes políticos estão
preocupados com as verdadeiras questões que atingem nossas famílias? Dão a
impressão de estarem preocupados com os votos dos eleitores mais ingênuos. Ao
mesmo tempo, muitas lideranças religiosas empenham seu apoio a certos
candidatos tomando por base esse mesmo discurso em prol da família. Parece que
esse tema se tornou moeda de compra e venda (ops) no mercado eleitoral.
Gostaria de refletir um pouco, de maneira introdutória, a respeito da questão
relativa à exclusão familiar, tão desafiador para as religiões como para a
sociedade, sendo um dos principais problemas investigados pelas ciências
humanas. Um
dos maiores vultos da psicanálise, Jacques Lacan, dizia que “entre todos os
grupos humanos, a família desempenha um papel primordial na transmissão da
cultura”. Portanto, não precisamos nem dar uma fundamentação bíblica a respeito
desse tema. A família exerce um papel determinante na estruturação da
identidade pessoal e social da pessoa. É ponto pacífico na psicologia a
consideração de que é na infância que se estruturam as bases para a pessoa
enfrentar a vida e nesse processo tem papel determinante as funções materna e
paterna (pai e mãe). Um não substitui o outro e nem incorpora a função do
outro. Não há mãe-pai! Mas isso é problema para outro artigo. No
campo das Constelações Familiares, que é uma terapia alternativa já bem
desenvolvida entre nós que busca identificar as causas de problemas e conflitos
pessoais a partir de uma dinâmica de grupo, é certo afirmar que cada um de nós
está ligado ao destino de nossas famílias das mais diversas formas, de maneira
consciente e inconsciente. Em razão desse elo forte que nos une ao grupo
familiar, não estamos isentos de problemas quando alguém é excluído, rejeitado
ou esquecido no seio familiar. Isso
já é suficiente para concluirmos que a redução da questão da família apenas ao
contexto da moral sexual ou religiosa torna a discussão não apenas objeto de
infindáveis discussões, mas não atinge em geral os graves problemas que a
sociedade atravessa. Por isso, a pauta política que os candidatos apresentam
tendo a família como destaque não apenas é superficial, como também dissimula
os reais problemas inerentes às famílias. Interessa-nos
refletir um pouco a respeito da exclusão que ocorre no seio familiar. Não
haverá nenhuma solução do problema caso a opção seja pela indiferença ou
esquecimento em relação ao membro excluído, chamado popularmente de “problema”,
de “vergonha da família”, de “irresponsável”, etc. Imagina como ficará essa
estrutura familiar caso se opte pela agressão, pela violência! Nesse caso, a
exclusão alcança níveis que levam à própria destruição do outro. Como crescem
os assassinatos especialmente os feminicídios dentro dos contextos familiares! Além
disso é preciso considerar que qualquer processo de exclusão executado hoje
terá impacto nas gerações futuras. Ao mesmo tempo, exclusões ocorridas no
passado produzem consequências atualmente nas gerações familiares que provenham
dessa origem comum. Isso nos diz que qualquer membro de uma estrutura familiar
é importante e para o bem do grupo não poderá em nenhuma espécie ser excluído.
Aquele “problema” não pode simplesmente ser descartado. Não
há caso perdido na gênese de nossa estrutura familiar. Qualquer tipo de
exclusão familiar traz graves e profundos desequilíbrios biológicos, sociais e
psicológicos. Somos obrigados à tarefa de incluir todo membro familiar no
presente para que se viva melhor hoje e não provoque desequilíbrios nas futuras
gerações. Cada pessoa deve encontrar um lugar na alma de cada membro da
família. Ninguém é tão poderoso que seja capaz de “deixar para lá”. Carregamos
sempre o outro conosco, mesmo morto. A
identificação de alguma espécie de exclusão no seio familiar é o primeiro passo
para a busca de solução para inúmeros problemas que atropelam a convivência
familiar. É muito cômodo imputar ao filho “problemático” como alguém
desajustado, que se perdeu em função de más companhias. Há que se ter um enorme
esforço de conhecimento para encontrar o nó desse desajuste. Enquanto esse nó
não for desatado, o que não acontece por milagre religioso como tantos buscam,
a situação não apenas deverá continuar, mas irá se agravar. Assumir
a realidade daquele fato, daquele “problema”, de maneira corresponsável, será o
caminho para se encontrar uma boa solução para cada um do núcleo familiar e
para os outros. Dificilmente outras instituições, externas à família, terão
êxito tão alvissareiro sem a luta radical pela inclusão familiar. Grande parte
dos problemas que os professores encontram nas salas de aula tem sua origem na
estrutura familiar presente ou passada. A
título de exemplo podemos mencionar a questão das separações que ocorrem entre
os casais. Quando isso acontece, é preciso tomar inúmeros cuidados para que o
outro não seja excluído sob a forma de assassinato como temos visto crescer
essa prática entre nós. Mas também nas separações não deveriam acontecer
exclusões como um descarte do outro, como negação do outro, ou destruição da
pessoa do outro sob diversos aspectos. Têm
sido noticiados diversos processos jurídicos de condenação de pais por
“abandono afetivo” e muitos homens se queixam que estejam dando a pensão de
maneira regular e podem também serem condenados. É pelas mãos do pai que a
criança ganha caminho no mundo, pois seu olhar volta-se para a amplitude, para
além dos limites da função materna. Por isso estão equivocadas aquelas mães que
se dizem cumprir a função de pai e de mãe. Por
fim, parece-nos que o melhor caminho para tratar da inclusão familiar seja
aquele que busca desenvolver processos de cuidado com as estruturas familiares,
sejam elas quais forem. Com casamento ou não, cada estrutura familiar tem um
papel determinante na saúde da sociedade. Quando crescem as situações de
exclusões familiares, elas irão repercutir nas instituições sociais
especialmente na escola. Sem esse cuidado que antecede a ida à escola
dificilmente o processo educativo terá eficácia no desenvolvimento de cada
criança, cada jovem. A exclusão familiar representa um dos mais graves e
complexos problemas que impacta a sociedade atual. Edebrande Cavalieri - O
autor EDEBRANDE CAVALIERI é Professor Titular da Universidade Federal do
Espírito Santo na área de Filosofia por 33 anos. Doutor em Ciências da Religião
pela UMESP-SP e autor dos livros: Via a-teia para Deus e a ética teleológica a
partir de Edmund Husserl, EDUFES, 2012; Estudos de Fenomenologia da Religião,
CRV, 2018; Ética e Religião, CRV, 2016; Conjuntura eclesial e religiosa, CRV,
2020. Para adquirir entre em contato com o Prof. EDEBRANDE CAVALIERI
pelo telefone: +55 27 99989-6254
17/09/2022 16:45:29 A EXCLUSÃO FAMILIAR Nosúltimos tempos a questão da família tornou-se um dos elementos mais importantesnas diversas pautas políticas e agora aparece de maneira intensa naspropagandas eleitorais. Até que ponto nossos representantes políticos estãopreocupados com as verdadeiras questões que atingem nossas famílias? Dão aimpressão de estarem preocupados com os votos dos eleitores mais ingênuos. Aomesm... Minha mensagem de paz (Prof. Dr. Franz Ruppert)28/03/2022 17:58:39 Minha mensagem de paz (Prof. Dr. Franz
Ruppert) Quais são as causas da guerra numa
perspectiva psicológica? A ideia de que se
deve tomar posse do "mundo" e, para o fazer, ganhar pela força a
soberania militar sobre a terra, a água e o ar, permeia a história humana. Nos
últimos 3.500 anos da história, estima-se que houve
apenas 250 anos sem guerra. Os gregos, romanos, babilónios, otomanos, hunos, alemães, ingleses, franceses, americanos, russos, entre outros, tentaram fazê-lo em nome de um Deus, uma religião, um rei ou imperador, uma "pátria", de "paz e liberdade", de uma economia de mercado livre ou de "socialismo" e "comunismo". A ideia da conquista mundial está sempre ligada à ideia da salvação do mundo. Isto produz castas governantes, "aristocratas", elites financeiras e militares, e elites técnicas que se colocam ao serviço do respectivo poder dominante e desenvolvem os mais recentes sistemas de armamento. Todos eles acreditam que são as melhores pessoas. Isto cria
muitas pessoas oprimidas e escravizadas, que têm de trabalhar para estes
sistemas governantes e ir para a guerra. Estas pessoas são vistas e desprezadas
pelas elites dominadoras, como "massa" de objetos anônimos. Toda a
natureza viva é cada vez mais destruída por tais ideologias e práticas
conquistadoras do mundo. Atualmente
existem dois níveis de guerra mundial: - Uma terceira guerra mundial, que
eclodiu imediatamente após o fim da segunda guerra mundial em 1945 entre o
bloco capitalista ocidental e o bloco comunista oriental e que, devido à posse
mútua e, portanto, dissuasiva de bombas atômicas, está a ser travada entre a
NATO e a Rússia através de guerras por procuração, entre outras na Coreia,
Cuba, Vietnã, Chile, Afeganistão, Síria, Sérvia e atualmente na Ucrânia.
Desde 1945, não há um dia neste globo em que uma guerra não tenha sido travada
em algum momento. - Há um quarto nível de guerra
mundial a ser praticado por uma elite global de finanças-farmácia-IT
(information technology) contra a humanidade, atualmente em nome de
"Corona". Vê a salvação de nós humanos na dissolução dos
Estados-Nação e o controle de todas as nossas necessidades humanas por uma
elite científica, supostos "especialistas", que nos devem transformar
em seres transumanos, entre outras coisas, através da engenharia genética. Em
vez de guerreiros, são agora os espertos que acreditam que podem conquistar o
mundo aparentemente sem violência. Também não estão a lutar contra inimigos
humanos, mas contra "vírus", "doenças" ou "o clima".
No entanto, os lockdowns, as quarentenas, as máscaras, as vacinações não podem
ser aplicadas sem a força policial e militar, a chantagem, a censura e o terror
psicológico e vão contra as necessidades humanas primordiais de contato e
proximidade. - Cada problema interpessoal é um
problema psicológico. Deve e pode, portanto, ser abordado a nível psicológico,
a fim de se resolver permanentemente. - Uma psiquê humana saudável está
orientada para a verdade, o bom e o belo e para uma interação social
construtiva. - Nós próprios somos os melhores
especialistas para a nossa vida, a nossa saúde e a nossa vivência em conjunto. - Para cada ser humano, no início da
sua vida, a sua mãe é "o mundo". A relação com a própria mãe é a
lente através da qual percebemos "o mundo" para o resto das nossas
vidas - até tirarmos essa lente conscientemente. - Se desde o início tenho de manter
viva a minha mãe traumatizada com a minha energia de vida, é um jogo de vida e
morte: sobreviver juntos ou perecer juntos. - Nenhuma pessoa mentalmente sã quer
a guerra, declara a guerra ou prepara-se para a guerra. A guerra é um
traumatismo deliberado e sistemático de outras pessoas - um jogo de vida ou
morte. - As raízes psicológicas da
destruição e da prontidão interior para lutar e travar a guerra estão na
própria infância: não sou desejado pelos meus pais, não sou amado por eles e
não estou protegido da violência. Estou gravemente ferido física e
psicologicamente pela minha mãe e pelo meu pai, logo estou traumatizado. - Isto faz de nós uma vítima de
trauma e leva a uma divisão da nossa psique humana em partes saudáveis,
traumatizadas e de sobrevivência: - Os nossos medos infantis cindidos
são então transferidos dos nossos pais para inimigos externos. Da mesma forma,
a raiva impotente para com eles. Tudo isto acontece inconscientemente. - Aqueles que lutam estão na
realidade a lutar pelo amor dos seus pais e querem ser vistos por eles. Ao
mesmo tempo, têm medo da dor avassaladora que está associada à incapacidade dos
pais em amá-los. - Desta forma, as crianças vítimas de
trauma transformam-se em perpetradores que fazem aos outros o que lhes foi
feito. - Não percebem conscientemente a sua
vitimização nem a sua perpetração. - Cada pessoa que inflige violência a
outra pessoa também se traumatiza a si própria e tem de se refugiar em atitudes
de perpetrador para justificar a sua violência. - A guerra - contra os próprios
filhos, contra os parceiros, contra os empregados, contra os cidadãos, contra
outros governos - só pode ser justificada na mente com falsos argumentos,
mentiras e propaganda, e quando separada das próprias necessidades e
sentimentos saudáveis. - Isto é feito, entre outras coisas, com os meios de reversão vítima-perpetrador: o perpetrador acusa a sua vítima de ser um perpetrador e sente-se justificado para a castigar. - Pelo contrário, as vítimas de
trauma, nas suas atitudes de vítimas, vêem os autores do trauma como os seus
salvadores e benfeitores. - Nas guerras, psicologicamente
falando, não há vencedores, apenas perdedores. - Para além da velha dor não
digerida, a nova dor é sempre sobreposta à anterior. - Os senhores da guerra são pessoas
traumatizadas que se impõem aos outros com a sua vontade de usar a violência e
a sua frieza. - Desta forma, eles colocam-se no
centro e encontram prazer nisso. - Alimentam-se do medo e do sofrimento dos seus semelhantes. Eles precisam que outros dependam deles. Eles próprios estão vazios por dentro. - A guerra é uma tentativa de se distrair da sua própria solidão. - A guerra, no entanto, não os tira do isolamento
interior, apenas o aprofunda. Como perpetrador, traumatizo ainda mais a minha própria psique. Destruo e desumanizo não só os meus "inimigos", mas ao mesmo tempo também eu mesmo.
- Como perpetrador, destruo a vida de
outras pessoas e a minha própria - A violência não resolve problemas,
mas cria continuamente novos problemas. - Guerras e mais armas não criam paz,
mas semeiam as sementes para mais guerras e para a escalada da violência. - Tomar partido do perpetrador ou
vítima, independentemente da dinâmica psicológica de enredo entre ambos, é ser
atraído para uma dinâmica perpetrador-vítima como um suposto salvador. - Isto não põe fim à dinâmica
vítima-perpetrador, mas antes alimenta-a mais. - As guerras atuais também
traumatizam aqueles que ainda não nasceram, até 3-4 gerações futuras. - Não podemos ganhar hoje uma guerra que
já perdemos na nossa infância. - As guerras são a expressão da
dinâmica destrutiva: violência = morte = injustiça = riqueza abstrata (capital
monetário) = ideologia. - A dinâmica construtiva, por outro
lado, é: verdade = vida = justiça/direito = paz = prosperidade concreta. - A paz começa no próprio coração. É
uma sensação de bem-estar, de ser e de se amar a si próprio. - Quem quer paz verdadeira, tem de se
conectar consigo mesmo e trabalhar nos seus traumas e dependências de infância. - Como posso assumir a
responsabilidade pelos outros se não sei quem sou, o que quero e não me amo? - Cada problema interpessoal, por
muito grande e insolúvel que possa parecer no início, pode ser resolvido com
uma atitude de boa vontade mútua e amorosa. - A proximidade interpessoal amorosa
cria segurança e paz. - Aqueles que não acreditam ou não
podem acreditar nisto estão cordialmente convidados a conhecer a minha prática
terapêutica do trauma. Literatura para leitura posterior: Ganser, D. (2020). Império dos EUA. A
potência mundial sem escrúpulos. Zurique: Orell Füssli Publishers. Kennedy, R. F. (2022). A verdadeira
face do Dr. Fauci. Bill Gates, a indústria farmacêutica e a guerra global
contra a democracia e a saúde. Rottenburg: Kopp Verlag. Ruppert, F. (2018). Quem sou eu numa
sociedade traumatizada. Stuttgart: Kösel Verlag. Ruppert, F. (2021). Eu quero viver,
amar e ser amado. Um apelo à verdadeira alegria de viver e à ligação humana em
liberdade. Hamburgo: Tredition Verlag. Munique, 05.3.2022 Prof.
Dr. Franz Ruppert, Professor de Psicologia e Traumaterapeuta
Minha mensagem de paz (Prof. Dr. Franz Ruppert)28/03/2022 17:58:39 Minha mensagem de paz (Prof. Dr. FranzRuppert)Quais são as causas da guerra numaperspectiva psicológica? A ideia de que sedeve tomar posse do "mundo" e, para o fazer, ganhar pela força asoberania militar sobre a terra, a água e o ar, permeia a história humana. Nosúltimos 3.500 anos da história, estima-se que houveapenas 250 anos sem guerra.Osgregos, romanos, babilónios, otomanos, hunos,... Constelações utilizando figuras com clientes individuais13/03/2022 13:03:55 Constelações utilizando figuras com clientes
individuais por Jakob Schneider (Tradutor Rodrigo Diego Ramos) As
Constelações Familiares e Empresariais se tornaram bem conhecidas como um
trabalho de grupo. Este trabalho, assim como as áreas afins do trabalho
sistêmico orientado às soluções e da psicoterapia fenomenológica, alcançou uma
importância fundamental nas áreas psicossociais e também em diversas abordagens
da terapia individual. Existem
muitos terapeutas e facilitadores atuando em situações que não permitem o
trabalho de uma Constelação com grupos. Também existem terapeutas que podem não
se sentir confortáveis para trabalhar grupo. Entretanto, muitos desses
profissionais se sentem profundamente atraídos aos conceitos e ferramentas
implícitos no trabalho de Constelação e procuram por maneiras de integrar essa
abordagem em seus trabalhos individuais, de casais e famílias, ou talvez até na
supervisão de pequenos grupos. O trabalho de Constelação com Figuras ou objetos
proporciona um método simples e direto. As figuras, representando um membro
familiar ou pessoa significativa no sistema em questão, são dispostas em uma
mesa ou um espaço definido do local de trabalho. As figuras O que se
segue é baseado na minha experiência pessoal com Constelações com Figuras.
Pouco após a minha primeira experiência com as Constelações Familiares de Bert
Hellinger e minhas primeiras tentativas para trabalhar com esse método em
grupos, eu peguei uma sacola com os Playmobils do meu filho, que há tempos
foram relegados ao porão de minha casa. Eu comecei a carregá-los comigo para os
lugares em que eu não tinha o apoio de um grupo para os meus trabalhos de
terapias e aconselhamentos. Dentre estes lugares estão inclusos um centro de
aconselhamento de famílias e casamentos, uma clínica psicossomática, pequenos
grupos de supervisão e minhas próprias práticas privadas. Eu estava
compelido de alguma forma a proceder na direção das Constelações. Após minha
primeira experiência com Constelações Familiares em grupo eu já estava certo
que esse seria o “meu” método e a “minha” maneira de fazer terapia, seja em
grupos ou com indivíduos. Utilizar as figuras Playmobil foi algo que aconteceu
muito naturalmente, sem precisar de muita consideração. Elas estavam
disponíveis, eram práticas, fáceis de carregar e possuíam poucas variações
entre elas: simplesmente homens e mulheres em várias combinações de cores. Graças a Deus
que eu não perguntei a ninguém sobre isso neste período, de modo que me foi
possível ganhar experiência com as figuras sem nenhuma opinião ou objeção
externa. Nessa época, eu não tinha certeza de que ainda era possível comprar
essas figuras Playmobil mais simples. Entretanto, o tipo de figura utilizada
não é terrivelmente importante. Existe disponível no mercado, por exemplo, um
“quadro familiar” com figuras de madeira. Contudo,
existem alguns critérios que eu considero importantes na escolha de suas
figuras: Elas devem
ser figuras com as quais o terapeuta possa trabalhar confortavelmente. Não
se preocupe se os clientes irão aceitá-las. Se o método e as ferramentas estão
certos para o terapeuta, os clientes quase certamente irão concordar; As figuras
devem apresentar o mínimo possível de “personalidade”, diminuindo assim
quaisquer preconceitos e distrações quanto ao não essencial. As figuras não são
importantes em si, mas apenas uma projeção espacial dos membros do sistema. Trabalhar com
figuras é mais fácil se estas permitirem algumas distinções básicas. Por
exemplo: entre homem e mulher, alguma forma de indicar a direção em que a
figura olha, talvez cores ou alguma marca que diferencie uma pessoa de outra.
Usar figuras menores para representar crianças pode ser uma distração uma vez
que isso pode sugerir uma fixação temporal na infância do elemento, removendo a
característica “atemporal” do trabalho de Constelações. Experiências anteriores com grupos de Constelações Eu trabalho
principalmente com grupos e meu uso de figuras em trabalhos individuais é
baseado totalmente nos meus trabalhos de Constelações em grupos. Eu não consigo
me imaginar fazendo Constelações com Figuras sem alguma experiência com
Constelações em grupo. Eu acredito que é necessário que um terapeuta possua
experiências com Constelações em grupo para trabalhar com Constelações com
Figuras. Essa experiência não necessita ser a de trabalhar em grupos
diretamente como constelador. Eu recomendaria ao terapeuta assistir a uma Constelação
em grupo trabalhando uma questão sua, observar trabalhos de Constelações
Sistêmicas e vídeos de Constelações que dão algumas impressões de como são as
Constelações. Conheço terapeutas e facilitadores que trabalham com figuras sem
nunca terem trabalhado com um grupo de Constelação, mas eu nunca soube de
alguém que tentou trabalhar com figuras sem ter visto uma Constelação em grupo. Na próxima
seção, entrarei em detalhes sobre quando uma Constelação com Figuras é
apropriada, como eu introduzo o método ao cliente e como eu trabalho em uma
sessão individual utilizando as Constelações com Figuras. Em seguida, abordarei
os riscos e oportunidades inerentes deste método e, finalmente, tratarei sobre
as Constelações com Figuras e o valor dessa abordagem no trabalho de “alma”. O lugar das Constelações com Figuras na terapia O
aconselhamento e a terapia dão suporte a processos que se movimentam para uma
solução. Tais processos podem aparecer em uma variedade de formas. Primeiramente,
existem problemas que podem ser solucionados por mudanças no comportamento do
cliente, através de aprendizado, criatividade e espiritualidade. Neste caso a
preocupação é, até certo ponto, com algum tipo de atividade mental que libere o
cliente de pensar e agir de maneira que bloqueiam a solução. Há também a
área dos traumas, as feridas profundas que geralmente se relacionam com amores
interrompidos, movimentos não concluídos de aproximação à mãe, ao pai, outra
pessoa importante ou até mesmo à própria vida. Estas feridas traumáticas frequentemente
nascem de experiências da infância e podem ser resolvidas por um processo
retroativo de cura da alma entre a criança e aquilo que é essencial à sua vida. Finalmente,
existe uma vasta área de conexões e liberações nos relacionamentos. Problemas podem
aparecer em uma conexão profunda de uma pessoa a um destino comum e suas
consequências, primeiramente dentro da sua família e das pessoas próximas a
ela. A solução é encontrada através de insights dentro das Ordens do Amor. O trabalho de
Constelações se foca nos processos de conexões e liberações na alma. As
soluções emergem através do olhar para todo o sistema de relacionamentos. Todos
no sistema possuem um direito igual de pertencimento e deve ser permitido a
todos ocupar o seu lugar de direito. Cada um dos integrantes do sistema carrega
seu próprio destino por conta própria, evitando meter-se no destino alheio.
Todos os membros do sistema devem permitir que os acontecimentos do passado
permaneçam realmente no passado. O trabalho de Constelações se relaciona com
vida e morte, boa e má sorte, saúde e doença, sucesso ou fracasso nos
relacionamentos, pertencimento e exclusão, dar e tomar, recompensa e débito e
também com auto-afirmação como contraponto a ser apenas um instrumento, sujeito
às influências do sistema. Em essência,
existe um critério que indica quando uma Constelação Familiar pode ser um
método útil: sempre que existir algo na “alma do grupo” que deseja ordem, paz
ou conclusão; quando emaranhamentos estão atrapalhando um processo de solução ou
quando uma dificuldade no destino familiar se mostra um fardo. Procedimentos na Constelação com Figuras Muitos
terapeutas e facilitadores desejarão integrar as Constelações Familiares
utilizando figuras com sua própria maneira de trabalhar e com suas próprias
orientações terapêuticas. Para mim, quando existem problemas nas conexões e
liberações, eu normalmente
faço uma sessão na qual o trabalho se concentra inteiramente na Constelação com
Figuras. Existe, entretanto, uma infinidade de maneiras disponíveis para
trabalhar. Existem
certos elementos importantes ao proceder com uma Constelação com Figuras. Assim
como nas Constelações em grupo, é essencial que, em uma sessão individual, a
Constelação lide com uma questão séria e que seja trazida pela energia do cliente.
O terapeuta depende dessa energia que leva à solução e também depende do “peso
na alma” do cliente em relação à questão trazida. Como um ponto de partida,
perguntas sobre a natureza do problema e sobre qual seria uma boa solução dão
clareza e força, que são cruciais ao sucesso de uma Constelação Familiar. O
terapeuta e o cliente necessitam saber desde o princípio onde direcionar suas
energias. Ambos podem sentir o movimento da “alma do grupo” que irá levar seus
esforços a uma boa solução. Frequentemente,
o problema real do cliente e a força que pode influenciar positivamente o
movimento à solução estão escondidos no início de uma sessão individual. É
então necessária uma condução no trabalho das Constelações e no processo da
alma que dá suporte a esse trabalho. Esta condução deve ser curta, afastando
distrações ou outros problemas não essenciais, trazendo energia e atenção aos
processos familiares fundamentais e construindo a confiança no trabalho em
conjunto (constelador e cliente). Eu costumo comentar brevemente sobre a minha
maneira de trabalhar, sobre emaranhamentos nos sistemas familiares, crises nos
relacionamentos e sobre o que eu irei procurar na Constelação. Se eu já possuo
alguma idéia de onde nosso trabalho pode se encaminhar, eu posso contar uma ou
mais histórias de outros casos que são apropriadas ao trabalho em questão. Se
eu não possuo nenhuma sensação da direção de encaminhamento do trabalho, pode
ser útil utilizar uma variedade de exemplos curtos e prestar atenção às reações
dos clientes. Em uma
Constelação, a base para um passo que leva a uma solução é construída a partir
de informações relevantes: os eventos mais importantes na história familiar (da
família atual e/ou da família de origem) e os destinos dos familiares e pessoas
próximas. Estas informações e a maneira com que o cliente as expressa
geralmente leva a um movimento profundo no sistema de relacionamentos e também
leva a um vislumbre do amor, do respeito e dos emaranhamentos que atuam no
sistema. Ou então você pode sentir imediatamente qual informação possui força e
qual não possui. Se algo importante foi omitido ou se o cliente não possui
alguma informação crucial. Esta troca de
informações é dialógica e ambos (o cliente e o terapeuta) necessitam estar em
contato com a “alma do grupo”. Este processo reside no essencial e existe a
serviço da solução, que pode ser alcançada apenas com respeito e aceitação aos
eventos e destinos envolvidos. O núcleo do
trabalho orientado à sistêmica é a própria imagem da Constelação: encontrar a
dinâmica do sistema de relacionamentos (na verdade, se permitir ser tocado por
esta dinâmica), reorganizar as posições das figuras em uma “imagem da solução”
e falando as frases apropriadas para conexões e liberações. Introduzindo as Constelações com Figuras Quando alguém
já viu ou experimentou uma Constelação Familiar em grupo ou conhece os livros
ou vídeos de Bert Hellinger, geralmente não se faz necessária uma introdução às
Constelações com Figuras. Você pode simplesmente pedir ao cliente que posicione
seus membros familiares utilizando as figuras. Nestes casos, assim como faço
com pessoas que não conhecem Constelações, eu utilizo como referência o
trabalho de Constelações em grupos e explico brevemente como ocorre uma
Constelação dentro de um grupo. Para mim, o trabalho fica mais simples se
utilizo as figuras da mesma forma que trabalharia com os representantes. Após
estabelecer uma conexão entre a Constelação com Figuras e a Constelação em
grupos, eu determino com o cliente quais pessoas são (inicialmente) importantes
para a Constelação e trago as figuras à mesa. Então, eu peço ao cliente que
posicione as figuras umas em relação às outras, sem falar ou me explicar nada,
de acordo com a sua imagem interna, sem considerar qualquer ordem cronológica
ou outra justificativa, mas apenas da forma que ele se sinta bem. Na maioria
das vezes o cliente “monta” a Constelação sem nenhuma dificuldade. Quando surge
algum problema nesses passos iniciais, eles geralmente não são diferentes do
que acontece em um grupo. Talvez não seja o momento certo para fazer uma
Constelação, pois o cliente ainda não está pronto internamente, talvez o
cliente não confie o suficiente no método ou no terapeuta ou então o foco da
Constelação para a questão trazida seja diferente (por exemplo, na família de
origem ao invés da família atual, ou vice-versa). Isso revela
uma das grandes desvantagens da terapia individual quando comparada ao trabalho
em grupo. Em um grupo, você pode trabalhar primeiramente aqueles que estão
prontos. Outros clientes, que podem estar reticentes, indecisos ou em dúvida,
acostumam-se vagarosamente ao trabalho, assistindo os processos de outras
Constelações ou atuando como representantes no sistema familiar de outra
pessoa. Eles podem dar o tempo necessário aos seus processos internos. Se o
posicionamento das figuras se prova muito difícil para o cliente, algumas vezes
eu as coloco de acordo com o que sinto como certo a partir da informação que
tenho. Eu então peço ao cliente para corrigir minha Constelação. Se você tem a
impressão de que a Constelação foi montada a partir de uma idéia ou se, de
alguma forma, não corrobora a informação dada, ou se todas as figuras estão
alinhadas olhando para o cliente (e não sua figura representada no sistema),
você pode pedir ao cliente para verificar a Constelação novamente. A última
dificuldade mencionada, as figuras alinhadas olhando para o cliente, ocorre
repetidamente em meus atendimentos, mas é facilmente corrigida. Lembre ao
cliente que ele (a) já está representado por uma figura e que a Constelação tem
de refletir os relacionamentos de uma pessoa com as outras da família. Trabalhando com uma Constelação com Figuras Uma Constelação
com Figuras serve para revelar os emaranhamentos dos clientes no seu sistema
familiar e para tornar claras as conexões e soluções do sistema. Permite ao
indivíduo tomar o seu lugar apropriado na rede de relacionamentos, uma posição
que é possível tomar honrando e respeitando a ambos os pais. A Constelação
permite que a pessoa libere com amor, que veja o que é necessário deixar ir em
paz e que tome qualquer um que tenha sido excluído no sistema de volta ao seu
lugar de direito e em seu coração. A dinâmica
das conexões e soluções tem de ser explicitada pelas Constelações com Figuras
sem a ajuda dos sentimentos ou feedbacks dos representantes, uma vez que as figuras não
sentem e não falam. É tarefa do terapeuta ou facilitador sentir o sistema e
expressar os sentimentos que refletem a dinâmica familiar. Naturalmente, você
pode pedir ao cliente para ele mesmo faça isso, o que algumas vezes resulta na
experiência do “Aha!”. Em minhas práticas, entretanto, os clientes geralmente
estão cegos às dinâmicas familiares fundamentais. Eles trazem um entendimento
inconsciente do processo, do contrário eles não poderiam montar a Constelação
de maneira apropriada e o terapeuta não conseguiria “sentir” o sistema, mas
esse conhecimento inconsciente é velado. A tarefa do terapeuta, como observador
externo, é ajudar a “alma do grupo” do cliente abrir-se de forma que aquilo que
está escondido seja revelado e dito abertamente. Desde o
princípio, eu apresento o conceito de Constelação em grupo como nosso ideal de
trabalho e baseio meus comentários sobre dinâmicas familiares no processo em
grupo. Como um observador externo, eu falo de meus sentimentos e sensações no
papel de cada membro familiar em sua posição apresentada. Isto é, eu não afirmo
sobre como os membros familiares se sentem em certa posição, mas sim do que os
representantes destes membros provavelmente sentiriam. Eu faço isso porque
desta forma o cliente possui algum distanciamento da sua experiência dominante
com os membros de sua família e porque isso dá ao cliente e a mim mais
liberdade para experimentar e tomar o que puder ser visto na Constelação.
Também me facilita quando for necessário corrigir o que foi dito e circundar
resistências. Se o que digo sobre a dinâmica familiar e os sentimentos dos
representantes têm ressonância e toca algo profundamente, o cliente estará em
contato com sua família em um transe de maior ou menor intensidade. Enquanto
falo, eu presto atenção às reações do cliente. Algumas vezes eu pergunto se
minhas sensações parecem corretas e se fazem sentido ao cliente. Quando eu
tenho sucesso em sentir o sistema e suas dinâmicas, o cliente está “ganho” e
geralmente nada mais irá ficar no caminho do trabalho em direção a uma boa
solução. Muito frequentemente um cliente me pergunta estupefato: “Como você
sabia disso?”. Na próxima
etapa, eu continuo trabalhando com as figuras assim como faria em uma
Constelação em grupo. Então mudo as posições das figuras e digo em voz alta as
mudanças que ocorrem nas dinâmicas e sensações, até que consigamos ver aquilo
que está tentando se revelar. Eu continuo desta forma até nós chegarmos a uma
imagem da solução. Quando eu estou certo, por conta de meus próprios
sentimentos ao ser tocado e também os sentimentos do cliente, eu simplesmente
fico com aquilo que emerge e digo ao cliente. Se eu não sinto certeza, eu
interrompo o processo e pergunto o que o cliente sente, em relação a si mesmo e
aos membros de sua família ao olhar para os movimentos das figuras. Eu peço
mais informações ou tento posições diferentes das figuras para determinar qual
parece ser a mais correta. Eu continuo até que a dinâmica e a solução são
reveladas de maneira suficientemente clara. Eu peço ao
cliente sentir a posição da solução e me contar como é essa sensação. Eu
observo para averiguar se esse lugar traz alívio ao cliente e se parece curar,
solucionar ou tranqüilizar. Algumas vezes, eu paro a Constelação com Figuras
neste ponto. Eu geralmente
faço uso de frases de solução que podem ser faladas em Constelações em grupo
quando o cliente substitui seu representante na Constelação, ou uma frase que o
representante pode falar diretamente ao cliente. Eu faço isso quando o cliente
está com dificuldades em tomar o seu novo lugar no sistema, quando a solução
que encontramos ainda não “assentou” ou parece necessitar de mais
aprofundamento ou elucidação. Frequentemente,
a parte mais importante do processo em uma Constelação com Figuras – assim como
nas Constelações em grupo – é ser tocado pelas frases que revelam a
profundidade das conexões e ser tocado, também, pelo alívio e a liberação das
frases de força. Muitas
vezes eu peço ao cliente falar as palavras apropriadas, internamente ou em voz
alta, e imaginar ou até mesmo fazer alguns gestos como, por exemplo, o
movimento de se curvar em reverência. Caso eu não
sinta meu caminho dentre as dinâmicas do sistema, se eu não tenho nenhum
sentimento pelos membros familiares representados pelas figuras ou pelas
dinâmicas apresentadas, ou se o cliente permanece indiferente à minha “imagem”
da rede de relacionamentos, então eu interrompo o processo de Constelação e
busco mais informações, conto histórias curtas ou simplesmente interrompo o
trabalho. Riscos e oportunidades nas Constelações com Figuras Os perigos e
equívocos que podem ser feitos durante a execução de uma Constelação com
Figuras são basicamente os mesmos presentes ao constelar com grupos: • Trabalhar sem o cliente estar realmente pronto para a Constelação ou
trabalhar sem a força do cliente; • Seguir um padrão pré-determinado que não permita que nada novo e
diferente surja; • Trabalhar com muita informação ou faltando alguma informação crucial; • Ser influenciado por padrões visuais ou associações que não encontram
harmonia na alma. A principal
deficiência das Constelações com Figuras, comparada com uma Constelação em
grupo, é que não é possível a um terapeuta entrar em contato com as dinâmicas
do sistema através das declarações dos representantes. Em casos difíceis, com
dinâmicas novas ou incomuns, isso é crucial. Por exemplo, se uma pessoa em um
sistema é atraída a sair em favor de outro membro, isso geralmente não se
mostra de maneira clara na Constelação. É na fala dos representantes que esse
tipo de dinâmica pode ser evidenciada. Se uma terapeuta suspeita de algo desse
tipo, é mais fácil de verificar em um grupo. A energia e a participação dos
membros do grupo observando a Constelação também dão indicações importantes
sobre a precisão dessas hipóteses. Essas
dificuldades, entretanto, não são críticas. As dinâmicas da “alma de grupo” do
cliente não são reveladas pelos representantes, mas sim pela própria alma do
cliente. Em um atendimento individual também é possível sentir força quando uma
hipótese traz algo essencial à luz. O último
critério é uma sensação de harmonia e a sensação de ambos, o terapeuta e o
cliente, serem tocados. Isso pode ser muito surpreendente em uma Constelação
com Figuras. O terapeuta vê a solução através de uma compreensão direta do
cliente. Compreensão significa tomar aquilo que emerge das profundezas. A
antiga palavra grega para “verdade” significa aquilo que não está oculto da
visão. Aquilo que se desemaranha e é solucionado, geralmente vem de maneira
inesperada e silenciosa. Nos toca, serve à paz e favorece o movimento. Honra e
é benéfica a todos do sistema. Constelações
com Figuras também são uma oportunidade de trabalho para terapeutas ou
facilitadores que não se sentem competentes para lidar com processos em grupo.
Um grupo de Constelação pode tomar uma dinâmica própria, que não serve ao
sistema do cliente, se este grupo não possuir visão, percepção precisa e o
terapeuta não possuir certa capacidade de liderança. Uma Constelação com
Figuras também evita o perigo de representantes
trazerem seus próprios problemas pessoais à Constelação. O preço para o
controle dos fatores citados é que, concomitantemente, existe menos controle
sobre os preconceitos e “pontos cegos” do próprio terapeuta e, em uma prática
individual, um terapeuta pode ser mais vulnerável aos caprichos do cliente
(algumas vezes de maneira considerável). Constelações com Figuras e o Trabalho da Alma Em
Constelações em grupo, aqueles que são posicionados na Constelação estão em
ressonância com a alma do sistema. Figuras não conseguem fazer isso. Elas
permanecem objetos representativos cuja função é a visualização. Você não
precisa pedir a uma figura para sair de seu papel ao final da Constelação. Constelações
com Figuras podem ser limitadas a uma representação visual, que é como
trabalhei em meus primeiros anos. As figuras providenciam uma ponte visual, uma
descrição gráfica do que está em discussão, um método que talvez permita
sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito útil, mas uma Constelação pode
oferecer mais. É incrível como ela estabelece um espaço para alma onde a “alma
do grupo” pode ter ressonância. Essa ressonância é transferida ao terapeuta e
ao cliente. O trabalho de
Constelações não se trata apenas de trabalhar com imagens visuais. Ele nos toca
profundamente e nos comove porque dá dimensão a essas imagens. Imagens
espaciais são diferentes de imagens bidimensionais planas, não apenas em
evidenciar a correta dimensão dos relacionamentos, mas principalmente porque
permitem que algo surja através da imagem. Aquilo que se mostra é algo difícil
de descrever e não é visível ao se olhar apenas para a imagem. O que surge é um
campo de ressonância. A ressonância
do cliente e do terapeuta com a “alma de grupo” e suas dinâmicas não vem das
figuras, mas através delas. Ao mesmo tempo, a Constelação com Figuras dá
suporte ao processo terapêutico que é externalizado e se afasta de pensamentos
internos e idéias. O processo se situa mais próximo da realidade do que
simplesmente quando o cliente e o terapeuta “falam sobre o assunto”. A
profundidade surpreendente da sensação de ser tocado não vem somente da
Constelação. A “ressonância” é também algo conectado por palavras: palavras que
refletem verdades básicas, palavras que esclarecem palavras de conexão e
“desemaranhamento”, palavras de amor e de força. As experiências profundas e
comoventes também surgem de gestos, uma expressão física dos movimentos da
alma. Trabalhar com
figuras tem um efeito profundo apenas quando é considerada além dos aspectos
visuais e vai ao campo da rede de relacionamentos, quando é permitida que a
força desse campo penetre e revele os gestos e palavras de cura e solução. O valor das Constelações com Figuras como um método Qualquer um
que está convencido da profundidade de alcance dos processos em sistemas
familiares e na alma pode, é claro, trabalhar a caminho das soluções sem
Constelações, grupos ou figuras. Apenas através da consciência de fatos e
eventos essenciais e permanecendo em harmonia com a alma da pessoa que solicita
ajuda em suas questões. Entretanto, tais métodos normalmente facilitam o
trabalho do terapeuta e também dão ao cliente acesso ao que é essencial e
crucial. Os processos
de Constelações coletam informações, estruturam os processos e focam a atenção.
Ao usar as Constelações, é mais fácil para o cliente e o terapeuta experimentar
uma jornada, abertos ao que emergir das profundezas. Eles se juntam em um
espaço na alma do cliente, apenas pelo período necessário, para encontrarem uma
solução. Em uma Constelação com Figuras e na imagem da solução o cliente
experimenta algo que pode ser levado para casa – algo que continua a trabalhar
na sua alma e frequentemente se desdobra em sua potencialidade apenas após
certo período. Talvez seja
algo análogo a uma performance de teatro. Apenas ler a peça pode me deixar
enfeitiçado, mas a performance no teatro é geralmente uma experiência mais
profunda e impressionante. Isto é verdade, entretanto, somente quando a
performance se mantém fiel à essência da peça, à realidade e à uma
transformação da audiência. Título
Original: Using Figures for Family Constellations with Individual Clients Autor:
Jakob R. Schneider Tradutor: Rodrigo Diego Ramos Fonte: www.constellationset.com/pdf/schneider.pdf http://www.constelacoessistemicas.psc.br/textos/constelacoes-utilizando-figuras-tipo-playmobil
Publicado
originalmente em: Weber, Gunthard (Ed.) (2000): Praxis des
Familien-Stellens. Beiträge zu Systemischen Lösungen nach Bert Hellinger.
Heidelberg (Carl- Auer-Systeme)
Constelações utilizando figuras com clientes individuais13/03/2022 13:03:55 Constelações utilizando figuras com clientesindividuais por Jakob Schneider (Tradutor Rodrigo Diego Ramos) AsConstelações Familiares e Empresariais se tornaram bem conhecidas como umtrabalho de grupo. Este trabalho, assim como as áreas afins do trabalhosistêmico orientado às soluções e da psicoterapia fenomenológica, alcançou umaimportância fundamental nas áreas psicossociais e também em div... SOBRE A TEORIA, O CONTEÚDO E O MÉTODO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES120/10/2021 19:42:43 Jakob Robert Schneider Abordarei a seguir, de uma perspectiva pessoal, alguns
aspectos do trabalho com constelações familiares que podem ser socialmente
desafiadores. Deixo ao leitor discernir o que nisso é realmente novo e leva a
novos modelos da ajuda, e o que apenas provoca os espectadores, embora já goze,
de longa data, de aceitação geral. A constelação
familiar Para o nosso entendimento de processos psíquicos, a
vivência de constelações é de fato desafiante. Até mesmo consteladores
experimentados se surpreendem sempre com o que nelas observam e experimentam.
Como é possível que os representantes se sintam, falem e apresentem sintomas
como os membros da família, embora não os conheçam e disponham de pouca ou
nenhuma informação sobre eles? Para esse fenômeno ainda não temos explicação,
muito menos uma explicação científica. Mas nos espantamos, descrevemos os
processos e procuramos, às vezes, imagens ou modelos que os façam aparecer como
compreensíveis e comunicáveis, sem postular explicações precipitadas. Talvez a explicação mais simples seria esta: o cliente
exterioriza sua imagem interna, e a posição dos representantes reproduz uma
certa estrutura de relacionamento que está arquivada em nosso aparelho de
percepção, com sua respectiva dinâmica. Mas como se explica que os
representantes sintam coisas tão diversas em constelações de configurações
semelhantes ou mesmo idênticas? Por que razão surge nas constelações processos
que tocam emocionalmente o cliente e fazem sentido para ele, mesmo quando o
terapeuta escolhe e coloca os representantes, ou quando se coloca apenas uma
pessoa - para não falar das chamadas “constelações invisíveis” -? Uma teoria bem aceita entre os círculos de consteladores é
a de Ruppert Sheldrake e seus “campos morfogenéticos”. Entretanto, mesmo ela só
nos fornece até o momento uma explicação de caráter mais metafórico. Mas a
falta de uma explicação científica para um fenômeno observável não prova a
inexistência desse fenômeno. As observações de uma “participação psíquica” para
além das informações comunicadas são tão numerosas e tão independentes da
experimentação dos consteladores individuais que também pode ser útil a
observação atenta de pessoas externas à “cena”. Por exemplo, um representante coloca de repente as mãos nos
ouvidos e diz: “Não estou escutando nada” e o cliente que colocou as pessoas
diz, estupefato: “Meu irmão, quando era pequeno, ficou soterrado na guerra e
desde então ficou surdo”. O que acontece num caso como este? Outro exemplo: O representante do irmão de uma cliente é
introduzido na constelação dela, e a representante da cliente exclama: “Não
tenho mais o antebraço”, e a cliente exclama, espantada: “Meu irmão teve de
amputar o antebraço aos vinte anos depois de um acidente”. O que explica este
caso? Mais um exemplo: Numa constelação, o representante do avô
da cliente leva ambos os braços ao rosto. Perguntado sobre o que acontece,
responde: “Algo me atinge os olhos e me arranca a cabeça”. Com efeito, esse
avô, quando mostrava à sua tropa como desarmar uma granada, a fizera explodir
por descuido e ela lhe arrancou a cabeça. E não foi dada informação prévia
sobre esse fato. Tais exemplos poderiam prosseguir indefinidamente.
Naturalmente, tais observações dramáticas não constituem a regra nas
constelações, porém são suficientemente frequentes para gerar confiança no que
se manifesta nelas. Um professor que veio participar de grupo com ceticismo,
escreveu posteriormente numa carta: “... Embora me pareça haver muito de
verdade na forma de ver o mundo como uma união de almas, na necessidade de
intervir reconciliando e de proporcionar a cada criatura seu lugar condigno,
parece-me um mistério que pessoas estranhas fiquem disponíveis e caiam em bloco
sob o feitiço de pessoas inteiramente desconhecidas, comportando-se como elas.
Minha própria constelação atestou isso, na medida em que os representantes
agiram de um modo incrivelmente “autêntico”, inclusive em alguns detalhes que
não puderam perceber de nossa conversa preliminar, por exemplo, a reação de
minha filha...” Todos os consteladores conhecem declarações e surpreendentes
concordâncias como esta, mas essas experiências não são constituem provas.
Seria preciso sermos cegos se pretendêssemos simplesmente ignorar esses
fenômenos que questionam nosso entendimento atual de processos de informação. Explicar os fenômenos das constelações como frutos de
sugestão pelo constelador ou como uma espécie de mágica de grupo ou mesmo como
charlatanismo seria igualmente precário. Presume-se que, dentro de prazos
previsíveis, os cientistas irão examinar em que medida o recurso à constelação
será válido para a pesquisa sociopsicológica e para os processos terapêuticos,
e irão desenvolver novas teorias, talvez fundamentadas, sobre essa difusão de
informação em contextos anímicos e comunicativos. Também em muitos domínios das
ciências naturais a teoria frequentemente se segue à observação. A falta de uma
teoria não significa ainda que estamos nos movimentamos em áreas esotéricas.
Além do mais, muitas teorias até aqui não confirmadas da moderna física, por
exemplo, a teoria dos universos paralelos, fazem um efeito bem mais espetacular
e “esotérico” do que o que observamos nas constelações. A alma – o
“campo dotado de saber” As constelações familiares se referem de uma nova maneira
àquilo que chamamos de “alma”. Podemos denominar assim a força invisível que
animando (ou pelo menos no mundo animado) congrega partes num todo de uma tal
maneira que o todo é mais do que a soma das partes e de suas funções dentro
dele. A alma não se identifica com nossa consciência, pois inclui o
inconsciente. E não se identifica com os processos fisiológicos e físicos em
nosso corpo e em nosso cérebro, embora esteja inseparavelmente unida a eles.
Não se identifica tampouco com nossos sentimentos, embora o sentir seja o modo
de expressão por onde se experimenta a alma. Ela é antes como o espaço ou o campo que une, ultrapassando
espaço e tempo, tudo o que constitui uma pessoa, criando uma identidade. A
abordagem típica da ciência natural atual, que busca o que “não difere”, a
saber, as partes e partículas e suas mútuas conexões, exclui por seu próprio
método a possibilidade de descobrir uma alma. Porém nossa experiência
quotidiana se dirige ao que é “mais do que”. Não há conversa, nem arte, nem
política, nem vida de relacionamento sem participação da alma. Como a
experiência psíquica não pode ser reduzida ao que material e quantificável, a
língua desenvolveu “palavras da alma” como liberdade, paciência, espírito,
coragem, amor, etc. O que entendemos por “amor” não pode ser adequadamente
entendido a partir de genes ou de funções do cérebro. Sabemos que para falar dos domínios da alma dependemos de
imagens, metáforas, imprecisões, vivências, experiências, intuições
perceptivas, bem como da função anímica da avaliação sensitiva e de coisas
semelhantes. Por mais que as ciências da natureza nos ajudem com seus
conhecimentos e nos obriguem, por exemplo, a repensar nossa liberdade de
decisão, a ocupação com a alma, que ultrapassa o âmbito da experiência da vida,
pertence mais às ciências do espírito ou à psicologia como ciência do espírito.
O trabalho com as constelações familiares se apresenta no concerto da teoria e
da prática psicológica modernas de um modo amplo e desafiador, descortinando a
alma redescoberta e suas leis. Da mesma forma como em nossa alma pessoal somos maiores do
que aquilo que percebemos conscientemente em nós, assim também em todos os
níveis de relações estamos envolvidos em contextos maiores, formados, em termos
anímicos, por “espaços” ou “campos” (tomados como metáforas), que juntam as
partes para constituir algo “mais” e “maior”: uma união familiar, um grupo de
amigos, uma empresa, uma comunidade social, um Estado - que se integra na
natureza e no cosmo como um todo. Essa nossa vinculação, em sua grandeza e totalidade,
recebe frequentemente de Bert Hellinger a denominação de “grande alma”. Isso
não significa para ele algo místico ou do além, mas a totalidade da existência
individual e coletiva, que justamente através das conquistas das ciências
naturais nos aparece de modo cada vez mais misterioso, nos sustentando, ligando
e talvez mesmo dirigindo. Entre os consteladores também existem divergências sobre a
conveniência e a medida em que se falar de alma. Para alguns isso envolve uma
carga excessivamente mística ou religiosa. Outros não partilham essas
restrições. Pois diariamente, ao abrirmos um jornal ou revista, lemos em
diversos artigos, seja na política, na economia ou na parte esportiva a palavra
“alma” num contexto imediatamente inteligível para cada caso. Por exemplo, em
manchete: “O templo de Ankor e a alma ferida do Camboja: em busca de nossa
identidade”. Quando se fala de “alma”, seja no trabalho com as
constelações, seja de modo geral na psicoterapia ou na vida quotidiana, isso
não acontece com ânimo anticientífico. Um consultor familiar não pode esperar
que a ciência natural lhe forneça dados e métodos exatos, cientificamente
comprovados e universalmente reconhecidos, para a solução de conflitos
conjugais. Ele trabalha de uma forma mais ampla, orientado por vivências e
pelas “regras da alma”. Uma das realizações de Bert Hellinger é ter condensado
e desenvolvido um modelo preexistente de constelações familiares, reduzindo ao
essencial, de uma forma experimentável, os processos anímicos e os complexos contextos
de relações, e abrindo o acesso a mudanças profundas na alma. Quem se disponha
a nisso pode comprová-lo pela própria prática do próprio Bert Hellinger,
amplamente documentada, e de milhares de consultores e terapeutas. O sistema Por ocasião do aconselhamento matrimonial, no mais tardar,
percebe-se que o modelo puramente causal de explicação não é mais utilizável
quando ouvimos um dos parceiros e lhe damos razão, e ouvimos o outro parceiro e
igualmente lhe damos razão. As dinâmicas do relacionamento e os processos da
alma são contextos altamente complexos, que não podem ser suficientemente
apreendidos recorrendo a explicações e conexões causais lineares. Por esta
razão, já vem sendo colocada há mais tempo no domínio psicossocial a seguinte
questão: “Como é possível intervir adequadamente nos sistemas de relação sem se
deixar apanhar nas armadilhas do pensamento e do discurso causal, mas
respeitando ao mesmo tempo a determinação estrutural dos sistemas vivos? A
psicoterapia sistêmica de enfoque construtivista encontrou para isso um caminho
muito elegante. Ela utiliza a estrutura causal da linguagem, por exemplo, por
meio de perguntas circulares, de tal maneira que uma família já não consegue
manter facilmente as descrições causais que sustentam o comportamento
sintomático. O sistema de relações é estimulado por meio de perguntas
hipotéticas a desenvolver por si mesmo comportamentos novos e mais funcionais
para a vida familiar. Em que medida a constelação familiar é um método sistêmico?
Primeiramente, ela percebe o cliente, desde o início, em conexão com as pessoas
relevantes de seu campo relacional. As constelações permitem experimentar
imediatamente como o comportamento humano apresenta uma multiplicidade dos
aspectos cambiantes, conexões e interações. Até o momento, nenhum outro método
visando informação e intervenção possui uma perspectiva sistêmica tão ampla
como as constelações familiares, abrangendo gerações, embora se deva também
mencionar Ivan Boszormenyi Nagy, Helm Stierlin e outros, que direcionaram a
terapia sistêmica familiar para uma perspectiva multigeneracional. O simples significado do “emaranhamento” basta para mostrar
que nas constelações não se manifestam apenas os fenômenos individuais causais
lineares do relacionamento. O olhar para o enredamento de destinos e para o
efeito de eventos traumáticos nos sistemas familiares, frequentemente através
de várias gerações, ampliou e aprofundou, de modo impressionante, o pensamento
sistêmico e o correspondente procedimento terapêutico. Nenhum método na
psicoterapia conseguiu até hoje, como as constelações familiares, tornar
visíveis e experimentáveis os processos de compensação sistêmica que atravessam
gerações, colocando à disposição os procedimentos específicos adequados. A
complexidade do que acontece em relacionamentos humanos não contradiz a ação de
regularidades nos relacionamentos. O bater das asas da borboleta, utilizado
como exemplo na Teoria do Caos, introduz, é certo, alguma incerteza no evento
climático, mas não anula suas regularidades e as forças que atuam no conjunto.
Para dizer de outra forma: pertence à essência da sabedoria que ela é capaz de
articular inteligentemente e de modo esclarecedor a regularidade e a
singularidade da situação individual. Em segundo lugar: Uma constelação se compõe de imagens. Os
sistemas, na medida em que não podem ser descritos de um modo causal, só podem
ser expressos por meio de imagens, linguagem imaginativa e histórias. Através
de uma imagem, um grande número de informações e de processos podem ser percebidas
simultaneamente e como um todo. Desta maneira procedemos constantemente de
forma sistêmica em nossa percepção. Dificilmente um método terapêutico
utilizará isso de uma forma processual e mais concentrada do que as
constelações familiares. As frases de ligação e solução, às vezes ritualizadas,
atuam igualmente associadas a imagens. Uma constatação ou descrição causal
obtida a partir do que acontece numa constelação serve para trazer à luz uma
“verdade”, mas não é essa verdade. Observações gerais de consteladores, por
exemplo, sobre anorexia, câncer ou psicoses, não são modelos causais de
explicação – mesmo quando são apresentadas como tais -, mas indicações, adquiridas
por experiência, destinadas a instigar no cliente uma atitude de busca que o
leve adiante e faça descobrir. Uma – impossível – dissolução do que acontece na
constelação em passos individuais de causação linear atuaria justamente como
obstáculo para a sua eficácia. As constelações, pelo menos de consteladores
experimentados, estão se tornando cada vez menos faladas e comentadas, e
confiam cada vez mais no que as pessoas podem ver. Portanto, a dinâmica
sistêmica não é ocultada, soterrada ou coarctada pelas palavras. A evidência
sistêmica se introduz na alma do cliente e pode “vibrar em uníssono” no
constelador e nos participantes do grupo, justamente porque não é fragmentada
em observações individuais e em argumentos “compreensíveis” que seriam –
justamente – passíveis de crítica. Fenomenologia e
verdade O que significa “verdade” numa constelação? Seria uma
grande incompreensão do que acontece nela tomá-la como concordância entre a
realidade objetiva e o conhecimento, ou como sua expressão em linguagem. A
verdade nas constelações é antes comparável à verdade de uma peça teatral. Ela
se faz presente, de forma algo condensada, na imagem e na linguagem, permitindo
que venha à luz a realidade oculta. As constelações não são uma reprodução da
realidade de um relacionamento. Elas des-velam uma realidade, no sentido do
conceito grego de verdade (a-létheia). Esta é também a essência da arte.
E, como muitas formas de terapia ou de aconselhamento, as constelações dão
muitas vezes um passo além disso. Elas ajudam a assumir a realidade, tal como
ela se apresenta e atua, e a preenchê-la com amor. Fenomenologia significa, de modo geral, perceber e
descrever a realidade tal como ela se manifesta. Num sentido filosófico mais
elaborado, a fenomenologia se refere a uma forma de experiência, em que a
realidade – através de sua forma de manifestação – se dá a conhecer em sua
essência, seu sentido e seu ser mais profundo. A percepção fenomenológica é
nosso último recurso quando queremos olhar para fenômenos da alma que se
ocultam por trás da superfície de suas aparências. Quem busca ajuda precisa de
um conselho ou de uma terapia para encarar o que ele não pode saber, e para
entendê-lo em sua razão mais profunda. Na grande maioria das relações sociais dependemos do
conhecimento fenomenológico. Até mesmo uma grande parte de nossas ciências
naturais começa por uma visão do fenômeno. Aquilo que se manifesta nas
constelações sob a forma de conhecimento fenomenológico só se comprova, em
última análise, por seus efeitos e pelo fato de que também outras pessoas vêem,
de repente, o que antes estava oculto. Presumir nos participantes de uma
constelação uma submissão completa ao dirigente do grupo seria enganar-se
redondamente. Os participantes, em sua maioria, olham com muita atenção o que
se passa, e o dirigente do grupo com frequência percebe isto de imediato quando
interpreta erradamente o que acontece na constelação ou quando faz afirmações
implausíveis, contrariando a percepção dos participantes e do cliente. Para ver precisamos de um “artista” que vê o que se esconde
na profundidade – e aqui “profundidade” não quer dizer algo místico. Ele é
comparável a um rastreador que descobre e interpreta vestígios que permanecem
ocultos a um espectador inexperiente. Como Bert Hellinger e a maioria dos
consteladores não realizam controles posteriores sobre o efeito das
constelações, a percepção dos “rastros” muitas vezes carece de comprovação. Mas
existem suficientes informações de retorno, imediatas ou posteriores, por parte
dos clientes, que atestam a veracidade e a eficácia desse rastreamento. Naturalmente, a contemplação fenomenológica está sujeita a
fantasias, interpretações equivocadas, erros, construções mentais e pressões de
grupos. Por esta razão, muitos consteladores se treinam constantemente para
voltar a ser receptivos e livres diante da realidade da alma, da forma como ela
se manifesta. As constelações requerem uma extrema contenção do terapeuta no
que toca a perceber, interpretar e agir. Fenomenologicamente verdadeiro é o que
se realiza imediatamente numa constelação e, além dela, na vivência pessoal
imediata, e não o objeto da crença num terapeuta ou numa instância superior. “O
presente é irrefutável”, no dizer de Kafka. O método fenomenológico aparece como provocante somente
quando se aplicam a uma dinâmica social padrões científicos inadequados e
incompatíveis, ou quando se acredita que a verdade pode ser manejada e
produzida em discursos. A fenomenologia só é provocante para o puro
construtivista que se limita a apurar se “a chave serve”, sem reconhecer uma
certa cognoscibilidade à fechadura e à própria chave. O construtivismo e sua
compreensão da realidade se apresentam associado a um impulso ético. Numa
entrevista ao jornal Die Zeit, Heinz von Förster, um dos epígonos do
construtivismo, afirmou que seu conceito de verdade é o contrário da mentira ou
da inverdade. Por razões éticas, disse ele, excluiria do dicionário a palavra
“verdade”, em razão de toda mentira e infelicidade que já aconteceram em nome
dela. Perguntado sobre o que lhe restaria nesse caso, respondeu: em lugar da
“verdade” (truth), “a confiança” (trust), a confiança que nasce
quando utilizamos nossos olhos e nossos ouvidos. Aliás, esta é uma perfeita
descrição da atitude fenomenológica. A ordem As relações não se configuram de um modo caótico e arbitrário,
mesmo quando às vezes são experimentadas dessa forma. Como toda realidade, elas
se subordinam a determinadas ordens. Isto é indiscutível. A questão está em
saber como se originam essas ordens e se podem ser reconhecidas. Frequentemente
Bert Hellinger e outros consteladores são acusados de declarar universalmente
válidas e tentar impor ordens arcaicas, culturalmente condicionadas e há muito
ultrapassadas. Essa crítica parece compreensível à primeira vista, quando,
por exemplo, se fala da “hierarquia pela origem”, do significado da união
conjugal, de uma mudança de nome ou de uma reverência aos pais. Estamos
acostumados a desconfiar de ordens culturalmente preestabelecidas e a
reivindicar nossa autonomia e emancipação. Quando vemos – e não só em constelações
– o que acontece nas relações, deparamos com algo desafiador, a saber, que
nelas atuam forças ordenadoras, ancoradas em nossa alma como uma marca
biológica e uma realidade coletivamente ordenada, presente no fundo de nosso
inconsciente. Essas forças estão apenas encobertas devido a nossa evolução em
termos individualistas e de razão esclarecida. Uma das conquistas do trabalho
das constelações foi ter nos levado a experimentar essas ordens ou
regulamentações que atuam independentemente de nosso pensamento consciente,
permitindo-nos assim lidar sabiamente com elas. Entretanto, são ordens vivas,
que estão a serviço da sobrevivência, do crescimento e do progresso nos
relacionamentos. Além disso, são ordens que fazem sentido em termos de
evolução. Podemos descobri-las, direta ou indiretamente, nas descrições da
realidade humana presentes na literatura de todos os séculos. À semelhança das leis da física, essas ordens de
relacionamentos são sempre atuantes. Por exemplo, quem não respeita a lei da
gravidade, cai redondamente no chão, porém aquele que a respeita e percebe em
conexão com outras leis, pode construir aviões. Assim também as regulações da
alma permitem uma série de possibilidades de manipulação, não porém ao
bel-prazer. A hierarquia pela origem, por exemplo, é uma simples ordem
básica: primeiro vem quem chegou primeiro, em seguida vem quem chegou depois.
Ela vale no interior de um sistema familiar e indica a cada um sua posição e
seu lugar dentro da família. Primeiro vêm os pais, depois os filhos. Entre os
filhos, primeiro vem o mais velho, depois o segundo e o terceiro. Em primeiro
lugar vêm os pais. Isto significa que sua sobrevivência tem precedência sobre a
sobrevivência dos filhos. Isso é compreensível em função da sobrevivência do
grupo, pois a sobrevivência dos pais assegura uma nova geração mais rapidamente
que a sobrevivência dos filhos. Todo o restante que faz parte das
transformações culturais da hierarquia da origem resulta disso e deve ser
medido por sua função original. Entretanto, em épocas de superpopulação sua
avaliação pode obedecer a critérios diferentes. A hierarquia pela origem é completada pela “hierarquia pelo
progresso”. Por outras palavras: entre dois sistemas diferentes, o novo sistema
tem precedência sobre o anterior. Assim, quando os filhos deixam seus pais e se
casam e têm filhos, essa nova família tem precedência sobre a família de
origem. Isso também faz sentido em termos de evolução e de abertura para o
futuro. É sempre emocionante experimentar como são úteis essas
ordens, básicas mas fundamentais, para configurar relacionamentos e resolver
conflitos. Todo mundo percebe imediatamente, por exemplo, como é útil quando
uma mãe grávida diz à sua filha de três anos: “Você vai ganhar um irmão. No
início eu precisarei cuidar muito dele, do mesmo jeito como você mesma precisou
muito de mim quando era bebê. Mas você será sempre a minha filha primeira e a
mais velha”. As ordens do amor contribuem para o sucesso dos
relacionamentos. Elas são geralmente imediatamente compreensíveis e fundam numa
base confiável as relações entre pais e filhos, homem e mulher, e dentro do clã
familiar. Aqui as constelações familiares realmente proporcionam ajuda e
orientação. O grande interesse delas se prende à capacidade de solucionar que
possuem as “ordens do amor”. Muitas oposições contra essas ordens se relacionam
menos à emancipação cultural e pessoal do que a outros contextos, muitas vezes
inconscientes. Uma mulher foi a um grupo devido a problemas no casamento.
Tinha mantido “naturalmente” o seu sobrenome de solteira e também o filho único
conservou o sobrenome da mãe.2 Era a mais nova de três irmãs. Quando o
terapeuta disse: “Talvez vocês conservaram o seu nome de solteira para que seu
pai tivesse um descendente de sua estirpe”, - vieram-lhe lágrimas e ela
confirmou com a cabeça. Será mostrado em que medida essas ordens mudam de acordo
com a evolução humana. Mas deve ficar claro que a realidade não se orienta de
acordo com o nosso arbítrio e a nossa opinião. O movimento ecológico demonstrou
que quando nossa ação desrespeita as regulamentações e seus efeitos de longo
prazo, ela acarreta resultados danosos e até funestos. As “ordens do amor”
representam talvez uma transposição do pensamento e da ação ecológica para o
domínio das relações. Elas também nos permitem levar em conta em nossos
relacionamentos os efeitos de longo prazo que nosso comportamento produz nas
gerações subsequentes. Como podemos estruturar nossas relações, de modo que
nossos filhos e os filhos de nossos filhos não precisem pagar o seu preço?
Mesmo em nossa época, com toda a aparente amizade pelos filhos, temos a
tendência de sacrificá-los não só por necessidade, mas também por vergonha, medo,
interesse próprio e falsa autonomia e emancipação. O destino A compreensão de nosso destino e o assentimento a ele estão
no cerne do trabalho das constelações. Chamamos de destino as forças que,
vindas do passado, nos ligam inelutavelmente ao efeito bom ou funesto de certos
eventos. O efeito dos acontecimentos nos é imposto, quer o queiramos ou não, e
não temos a possibilidade de interferir nele. A força do destino se revela, em
relação a acontecimentos traumáticos numa família, de uma forma às vezes
inquietante. Nas constelações experimentamos constantemente, e de modo
impressionante, que somos muito pouco livres e reeditamos em própria vida, sem
o saber nem querer, destinos passados e acontecimentos dolorosos, numa espécie
de compulsão repetitiva. O efeito maior das constelações consiste em nos fazer
perceber como, sem necessidades próprias, revivemos necessidades passadas e não
aquietadas de outras pessoas, como se o que passou tivesse de ficar em paz e se
tornar definitivamente passado. Este é o pão habitual do trabalho com
constelações. A concordância com a ligação ao destino significa por acaso
fatalismo? De maneira nenhuma. Pelo contrário. É verdade que a configuração de
nossa vida pelos destinos anteriores não pode ser anulada, mas para o futuro
nos tornamos mais livres através do que se mostra nas constelações. Então o
destino alheio poderá ser de algum modo exteriorizado, tornando-se uma
interface à qual já não estamos cegamente entregues. Pois a alma não liga
indissoluvelmente a destinos, ela nos libera deles através de um insight, de um
movimento próprio inconsciente ou, às vezes, de um modo totalmente casual (com
ou sem constelação). Numa época em que às vezes julgamos que nossa vida está
completamente em nossas mãos - uma ilusão de muitos individualistas -, o
reconhecimento do destino e o assentimento à ligação com o destino próprio e
alheio constitui um desafio. Tanto nos acostumamos à ideia de uma livre razão e
de uma autonomia individual que nos recusamos a reconhecer o que em épocas
passadas foi descrito como daimonía e eudaimonía – a triste sina
e a felicidade presenteada. O trabalho das constelações é seguramente uma
afronta a uma psicoterapia que valoriza acima de tudo a autonomia e a
emancipação individual e considera a humildade como uma submissão. Porém basta
ler jornais e romances para perceber como atua o destino e como o nosso poder e
a nossa impotência partilham a realidade. Muitas pessoas sentem instintivamente como um processo
benéfico a reverência diante do destino ou diante de pessoas a que somos
ligados pelo destino. Uma reverência autêntica é quase sempre experimentada por
nós como solução e liberação. Quem precisa se curvar não é a criança pequena,
mas o adulto. E a reverência abarca vários processos: o ato de curvar-se, o
deixar que algo morra, e o ato de erguer-se. Bem longe de ser um processo
humilhante, a reverência exige coragem. Ela proporciona força, alívio da
respiração e abertura de espaço. O destino, como força que inelutavelmente dispõe, não faz
caso de nossa vontade: ele a toma de roldão, sem esperar o nosso consentimento.
O destino não é uma pessoa, embora frequentemente seja representado por uma
pessoa nas constelações. É um acontecimento direcionado a partir do passado, um
movimento que nos liga, através da alma, à realidade maior. Quantas vezes os
clientes falam de sua luta para não se tornarem iguais a seu pai ou a sua mãe,
e quantas vezes acrescentam que essa luta resultou em fracasso! Quantos
clientes quiseram fazer melhor que seus pais, e quantos confessam que não o
conseguiram! Um dos paradoxos da vida humana é que a luta contra o destino nos liga
ainda mais a ele, e o assentimento ao destino nos torna mais livres. É como um
redemoinho num rio. Quem luta contra a sua sucção é puxado ainda mais para o
interior, e quem sem pânico se entrega à sua força é muitas vezes impelido para
fora. Reconhecimento do destino não significa entregar-se à
doença sem vontade e com resignação. Significa acompanhá-la com as forças do
corpo e da alma. Então, como num redemoinho, elas são de novo liberadas da
atração da doença ou da morte. Aqui muitas vezes faz sentido perguntar: O que
há na doença que quer curar? Naturalmente, o doente precisa de apoio externo. E
muitas constelações ajudam pessoas enfermas a se confiarem aos serviços
médicos. Mas as constelações também as fazem confrontar-se com a morte. Uma
senhora, gravemente doente de câncer, procurava saber através de uma
constelação as causas de sua doença. O representante da morte, colocado diante
dela, olhou-a com carinho, colocou-se ao lado dela e abraçou-a pelo ombro. Ela
se defendeu com lágrimas, mas o representante da morte não cedeu. Dois anos depois, essa senhora escreveu ao terapeuta: “Eu
me defendi muito contra a morte, e finalmente a aceitei. Agora ela está a meu
lado já há algum tempo, e estou viva”. Mas também existe o movimento oposto. Outra mulher com
câncer em estado grave, que se sentia fortemente atraída a seguir na morte seu
pai, enredado em grave culpa, pediu ao terapeuta que se esforçava por
desprendê-la da morte: “Por favor, deixe-me ir para meu pai!” Ela se deitou
junto do representante do pai, estreitou-o nos braços, sorriu para ele com amor
entre lágrimas, até que se acalmou completamente. Na continuação do grupo ela
atuou com alegria e energia e colocou muitas questões práticas sobre seu
comportamento em relação ao marido e aos filhos. Notou-se que ela se preparava
para sua morte. Que vontade terapêutica teria aqui a força e o direito de se
opor à sua morte? Os mortos Num filme amador, perguntaram a um curandeiro do Nepal quem
procurava um médico em caso de necessidade, e quem vinha a ele. O curandeiro
respondeu que os que tinham doenças comuns procuravam um médico, e aqueles
sobre quem pesava a maldição de algum morto vinham até ele. O encontro com os mortos
a quem somos existencialmente ligados toma um grande espaço nas constelações. Sem constrangimento, os consteladores tomam pessoas vivas
para representar mortos, para que possa ser esclarecido, com seus efeitos, um
envolvimento cego ou um seguimento amoroso para a morte. Acontecem então
impressionantes encontros entre vivos e mortos, e são iniciados curtos diálogos
que ajudam a união de corações, a paz recíproca e a liberação mútua. Será um
fantasma? Nada sabemos sobre a existência dos mortos em torno de nós
ou num outro mundo. Porém todos sabemos que um laço entre vivos e mortos
permanece na alma para além da morte. Falamos com mortos, lembramo-nos deles
nos cemitérios ou em discursos, continuamos a amá-los e a temê-los como se não
tivessem morrido. Nossas questões existenciais, em sua maioria, abordam, além
do amor, a morte. E quem olha em torno com certa atenção pode perceber
diariamente como a morte e os mortos sobressaem em nossa vida. O trabalho das constelações retoma, de uma forma não mágica
e realizável pelo homem moderno, antigos ritos xamânicos em favor da paz entre
ritos e mortos. Como é tocante quando numa constelação uma mulher adulta se
deita nos braços da mãe que perdeu quando criança em virtude de um acidente! As
emoções da criança, talvez bloqueadas pela carência e pela dor, passam a fluir,
e o amor e a despedida podem ser agora realmente vividos. Como se sentem
aliviados os representantes de mortos que são reconhecidos pela primeira vez
como pertencentes à família, ou dos que, porque honrados em seu sofrimento, se
livram de uma maldição! Como se sentem liberados os representantes de
criminosos ou de vítimas quando sua condição de culpados ou de vítimas já pode
ficar com eles e os vivos renunciam a se imiscuir nisso! Como se sentem redimidos
os representantes de mortos quando se sentem acolhidos entre outros mortos e já
podem realmente ser acolhidos na “grande morte”! Não é de hoje que tendemos a reprimir a morte e as ligações
carregadas de dívidas que por amor, medo ou dor mantemos com os mortos e com as
histórias de suas vidas. Isso já é, de longa data, conhecido pela psicoterapia.
No decurso de nossa evolução cultural, perdemos o acesso a muitas formas
rituais e sociais de superação da morte e de respeito pelos antepassados. Mesmo
sem as constelações familiares e muito tempo antes delas existe um profundo
anseio de lidar com o morrer, a morte e os mortos de uma forma liberadora e
pacificadora. E para isso as pessoas sempre precisaram de um apoio, por
exemplo, através de um sacerdote ou com a ajuda da psicanálise ou da
assistência ao morrer. Nesse ponto, o trabalho das constelações assume uma
necessidade profunda e supre talvez uma lacuna de rituais e de luto coletivo. Além disso, as constelações abrem a perspectiva para o
enquadramento psíquico maior do encontro com a morte e com os mortos na alma.
Elas fazem ver o fato individual enquanto enquadrado no contexto e na história
da família, ou de um grupo de camaradas que viveram juntos coisas terríveis na
guerra, ou no destino comum de perpetradores e vítimas, e sempre transcendendo
a morte. Ou elas abrem a alma para a “grande morte”. Isto só parece estranho e
até mesmo absurdo quando é encarado de longe e não no contexto da contemplação
e da experiência imediata. Para os clientes envolvidos e os participantes de
grupos, o encontro entre vivos e mortos geralmente se realiza como que
naturalmente e é muito emocionante e curativo. E mesmo que não saibamos ao
certo o que acontece nas constelações nos domínios fronteiriços dos vivos e dos
mortos, podemos perceber o seu efeito e nos apoiar nisso. Neste particular, as
constelações atuam como uma “cura de almas”. A reconciliação A palavra grega therapêuein significa, em sua
acepção original, “servir aos deuses”. Embora em nossa época a terapia seja
vista de uma forma profana, nela permanece algo do sentido primitivo da
palavra, na medida em que, decaídos de uma ordem ou abandonado uma opinião e um
bel-prazer que nos prejudicam, retornamos a uma ordem saudável. Em nosso
linguajar coloquial, exprimimos isso com as palavras: “Preciso pôr alguma coisa
em ordem”. Os conflitos da alma surgem quando forças contrárias nos dividem
inconciliavelmente e conservam-se em oposição irredutível em nós ou entre nós.
A psicoterapia é sempre um trabalho de mediação e reconciliação, embora várias
tendências terapêuticas tenham enveredado pelo caminho oposto, enfatizando a autoafirmação,
uma perspectiva unilateral da autonomia pessoal, a separação e a luta, por
exemplo, contra os pais, os destinos funestos ou as pessoas consideradas más. Bert Hellinger, ousando chegar a limites extremos, trilhou
imperturbavelmente um caminho que pode abrir dimensões novas (ou retomar
antigas, de uma nova maneira) para a solução de conflitos e o trabalho de
reconciliação. Os passos para a reconciliação, embora basicamente simples,
geralmente nos parecem difíceis. O procedimento inicial faz com que os
perpetradores reconheçam o mal que fizeram às vítimas. Precisam assumir as consequências
de suas ações e encarar as vítimas e seus sofrimentos. Um segundo procedimento
induz as vítimas a encarar os perpetradores e a aceitar sem reservas sua
ligação de destino com eles. A vítima precisa abandonar a atitude de se julgar
melhor e de se colocar, mesmo perdoando, acima do perpetrador. Num terceiro
procedimento, tanto as vítimas quanto os perpetradores e os descendentes de
ambos honram o acontecimento funesto. Reconhecendo suas oposições, todos eles,
em sua condição de vítimas ou de perpetradores e com seus sentimentos de
vingança e de expiação, se entregam a uma força maior que é “indiferente” para
com bons e maus, assim como o sol brilha sobre ambos, e a morte os trata com
igualdade. A dificuldade de aceitar criminosos em condição de
igualdade e em sua dignidade humana é uma experiência comum para os
consteladores. Um exemplo: Uma mulher contou que sua mãe, quando era jovem, foi
violentada e quase morta. Confrontada na constelação com o representante do
perpetrador, essa mulher gritou para ele, cheia de ódio: “Eu mato você!”.
Quando o terapeuta observou que sua frase fora a mesma do agressor diante de
sua mãe, ela ficou profundamente impressionada. Ela viera ao grupo porque os
homens sempre a abandonavam, alegando terem medo dela. Vê-se como é difícil
conceder ao criminoso um lugar na própria alma e no sistema familiar, e reconhecê-lo
como equiparado à sua mãe. Às vezes, as próprias vítimas são mais capazes de
fazer isso do que seus amorosos descendentes, que não dispõem dos mecanismos de
elaboração da pessoa envolvida, e por isso ficam entregues à indignação ou ao
desejo de vingança e de cega compensação. Outras vezes é mais fácil para os descendentes, devido ao
maior intervalo de tempo, atuar na reconciliação, ajudando as almas do agressor
e da vítima a se encontrarem face a face e a se reconciliarem. Às vezes só
resta aos atingidos o esquecimento e, reconciliados ou não, o assentimento e a
reverência diante do destino que os associou como vítima e agressor. E aos
pósteros, só resta às vezes a reverência diante dos antepassados, reconciliados
ou não. Talvez eles possam se tornar “permeáveis” a algo maior no que toca ao
efeito do destino de vítimas e agressores, para que esse efeito possa ser
abolido nessa realidade maior. É o próprio processo da constelação que determina como
iniciar a reconciliação ou o que é preciso observar em cada passo. O terapeuta
limita-se a olhar e a escutar a alma do cliente e de sua família, abrindo
espaço, com suas poucas intervenções, às forças que resolvem os conflitos e
atuam de forma reconciliadora. Seja qual for o caso, abuso ou assassinato de
filhos, trapaça financeira, paternidade clandestina, traição, atrocidades de
guerra, extermínio de judeus ou terrorismo de qualquer espécie, as constelações
mostram uma força incrivelmente reconciliadora e liberadora, em que pesem as
imperfeições e as tentativas frustradas, superficiais ou mesmo traumáticas dos
consteladores. Acusar de antissemitismo ou de tendências fascistas esses
procedimentos das constelações é uma atitude absurda e degradante. Que, depois
de homenagear as vítimas, também se encare a dignidade dos perpetradores e as
fronteiras imprecisas entre criminosos e vítimas, é uma atitude que choca
muitas pessoas, e os próprios consteladores enfrentam dificuldades na presença
de graves injustiças. Mas quem lê as publicações mais recentes percebe também a
manifestação de um novo empenho, não somente para que sejam honradas as vítimas
e seu destino, mas também para que os criminosos sejam considerados como seres
humanos e seja respeitada sua dignidade. Foi um rabino judeu que afirmou: “Não
haverá paz até que o último judeu faça a oração dos mortos por Hitler”. Embora
Bert Hellinger e os consteladores não estejam sozinhos nesse trabalho de
reconciliação que honra tanto as vítimas quanto os criminosos, o significado do
“amor aos inimigos” dificilmente é experimentado no domínio da psicoterapia e
do aconselhamento de forma tão sensível como nas constelações. Entretanto, não existem realmente diferenças objetivas
entre bons e maus? E a observação de que tanto as vítimas quanto os criminosos
estão a serviço de um destino maior, não abre ela as portas para a
arbitrariedade e a injustiça no comportamento humano? Não podemos dizer que
temos sempre uma resposta para isso, mesmo abstraindo de destinos concretos.
Muitas vezes, porém, um primeiro passo importante para a reconciliação e a paz,
apesar das oposições e mesmo da luta pela própria causa, que frequentemente é
necessária, é reconhecermos o adversário como igual a nós e não nos
considerarmos melhores do que ele. Diariamente experimentamos que a realidade costuma ser
maior do que nossa vontade. Mesmo quando criamos uma realidade, nem sempre
podemos controlar as consequências de nossas ações. Um dos efeitos profundos do
trabalho das constelações é que nos ajuda a confiar no desenvolvimento do
sentimento humano, para além da culpa e das incriminações, renunciando a
flagelar nossos semelhantes como desumanos. Só entramos em sintonia com a
realidade quando também reconhecemos o funesto e o terrível como fazendo parte
dela, e lhes deixamos um lugar. Muitos desenvolvimentos positivos recebem sua
força e seu direcionamento desse reconhecimento e respeito pelo terrível. A ajuda Como prestadores de ajuda, somos obrigados a colaborar no
desenvolvimento de algo bom que faça progredir aqueles que se encontram em
necessidade. A ajuda3 é uma faculdade que se baseia em treinamento e
experiência. Estamos acostumados a ver a faculdade terapêutica encaixada em
instituições de psicoterapia e aconselhamento e em sua respectiva
administração, que velam pelo desenvolvimento dessa faculdade e para impedir
abusos em seu exercício. O trabalho das constelações familiares, como
originariamente muitos outros métodos de ajuda, se desenvolveu fora da
psicoterapia estabelecida e não reivindica lugar como um método terapêutico
reconhecido. O que muitos teóricos e praticantes sentem como afronta no domínio
da terapia é a observação de Bert Hellinger, partilhada por muitos
consteladores – não por todos – que o trabalho com constelações vai muito além
da psicoterapia. Os críticos objetam que com isso se abrem amplamente as
portas para tolices esotéricas. Afirmam que o trabalho com as constelações visa
realmente efeitos terapêuticos e que por isso ele deve sujeitar-se às leis que
regulam a terapia e às normas de uma terapia cientificamente controlada, ou
deve deixar de existir. Neste particular também vem acontecendo importantes
discussões entre os consteladores, e campo está aberto para o desenvolvimento.
As “Ordens da Ajuda” de Bert Hellinger 4, que resumem sua longa experiência e
suas convicções sobre o tema da ajuda, contém matéria explosiva que exerce
provocação, tanto sobre a esfera externa quanto sobre o “cenário” dos
consteladores: Somente é capaz de ajudar quem assumiu plenamente os
próprios pais e a vida. Só é capaz de ajudar quem renuncia a dar ao cliente
mais do que ele precisa. Só pode ajudar quem tem a capacidade de dar o que o
cliente necessita. Muitos ajudantes5 correm o risco de que seu impulso de
ajudar resulte de sua própria carência, de uma simpatia que se restringe aos
fracos e às vítimas, e da pretensão de estarem à altura de todos os destinos de
seus clientes. Toda ajuda deve ajustar-se às circunstâncias na vida do cliente
e só pode intervir em caráter de apoio, e quando o permitam as circunstâncias.
Somente respeita a dignidade do cliente a ajuda que não se coloca acima dessas
circunstâncias, do destino do cliente e de sua vocação pessoal, de suas
aptidões e de sua capacidade de decisão. Na psicoterapia tradicional infiltraram-se padrões de
pensamento segundo os quais os terapeutas poderiam ser mecânicos, juízes,
cônjuges ou pais. Principalmente esta última tendência foi grandemente
reforçada através do modelo teórico e do prático de transferência e
contratransferência, com a “elaboração” de conflitos e a ideia de
acompanhamento posterior com o correspondente prolongamento da terapia. A constelação familiar não trabalha com transferência e
contratransferência, embora não conteste a existência desses processos. Mas o
constelador se desprende deles, da melhor forma possível. O terapeuta ou o
aconselhador conduz o cliente, quando isso é necessário, diretamente para os
pais dele. Ele só os representa transitoriamente e por pouco tempo, apoiando,
por exemplo, a recuperação do movimento amoroso, sem colocar-se, entretanto, no
lugar dos pais. Ele renuncia a acompanhar o cliente durante um período de sua
vida e a oferecer-lhe um espaço de substituição ou de proteção para seu
crescimento na segurança do espaço terapêutico. Ele só lhe dá um estímulo para
o crescimento, geralmente sem acompanhar a realização de seu crescimento na
vida concreta. A constelação familiar, entendida desta maneira, não é uma
terapia. Ela se assemelha realmente a uma “predição”, um “oráculo” ou um
“vaticínio”, na medida em que traz à luz laços de destino e seus efeitos. Ela
ajuda a “ver”, sem buscar influenciar o que o cliente fará com ela, e sem que o
ajudante desempenhe um papel nisso. Para além de uma “predição”, a constelação
também ajuda as pessoas a sentirem o próprio amor, frequentemente oculto no
destino cego. Ela possibilita abrir os olhos para o amor, estabelecendo
relações cara a cara. E também aqui o terapeuta se coloca antes a serviço do
diálogo do cliente com seu sistema de relações do que a si mesmo como
interlocutor do diálogo. A constelação familiar mostra os caminhos para uma
compensação positiva em vez de uma compensação funesta. Ela fornece indicações
sobre o que ordena as relações, tanto para o mal quanto para o bem. Ela faz
confrontar, às vezes duramente, com a realidade, mas não diz o que a pessoa
deve fazer ou deixar, ou como será seu futuro. Nesse particular, ela deixa a
pessoa que busca auxílio sozinha, ou no círculo de sua família e de outras
relações existenciais. Isso muitas vezes parece ser chocante para as pessoas no
exterior, se bem que muitos clientes experimentem justamente essa atitude como
confiável, aliviadora e fortalecedora, pois com ela são tomados a sério e se
sentem livres. Outra coisa que incomoda observadores externos é que os
consteladores às vezes olham menos para o que a própria cliente precisa do que
para as necessidades de outros membros do sistema, principalmente dos excluídos
ou incriminados. A principal atenção se dirige para a incorporação dos que
estão separados num sistema de relações, e não apenas para o cliente e sua
autonomia. O autêntico ajudante, no sentido de Bert Hellinger, resiste à
diferenciação entre o bem e o mal e, com isso, à consciência pessoal do
cliente. Ele antecipa a necessária ação do cliente, na medida em que dá em sua
alma um lugar aos excluídos ou incriminados. Ao abrirem um espaço para além dos efeitos da consciência
do grupo, os consteladores têm em vista o que sugere a “grande alma” – um
contexto que aponta para além dos grupos individuais – numa determinada
situação de vida, como conveniente para o crescimento ulterior. Tanto a
consciência pessoal quanto a coletiva são acolhidas numa espécie de consciência
“universal”, direcionada para o todo maior. Aqui a configuração de sistemas de
relações também se distancia de uma psicoterapia e um aconselhamento puramente
orientado para soluções. Abre-se um nível mais espiritual, na medida em que se
encara a ligação com algo “maior”, que está fora de nossa disponibilidade e
possibilidade. Orienta-se no sentido do crescimento e do desenvolvimento na
direção de um “espaço aberto”. Nisso reside o que na constelação familiar é
“mais que uma psicoterapia”. A ajuda que ocorre no interior desse “mais” dificilmente se
enquadra nas instituições de ajuda e em seus regulamentos. Nesse ponto se
insere, talvez, a crítica dos teólogos e a luta contra o método das
constelações, como se ele fizesse parte de uma cena esotérica. Como esse “mais”
abrange aconselhamento e psicoterapia, e o trabalho das constelações se
processa tanto dentro quanto fora das correspondentes instituições, os
conflitos são facilmente compreensíveis e quase programados por antecipação. A
responsabilidade em constelar Em razão da euforia fundada na profundidade das vivências e
na densidade humana de muitas constelações, muitos consteladores correm o risco
de se descuidar, justificando as críticas. O que nos ajuda para trabalhar
responsavelmente com constelações familiares? O cuidado significa aqui agir com sobriedade e clareza,
correção e plausibilidade. Além da atitude e da reserva fenomenológica,
constantemente aconselhada, precisamos nos direcionar para a vida comum. Não se
trata de direcionar os clientes ou suas famílias a um padrão único, de acordo
com nossas concepções, mas de colaborar para que o que é “maior”, seja o que
for, possa atuar como incentivo e solução no dia a dia do cliente. O milagre
não está na unidade do múltiplo, mas na multiplicidade do uno. Toda a sabedoria é inútil quando não se refere a situações
individuais ou coletivas. Por mais que encaremos a alma humana como uma espécie
de “campo”, ela não deixa de abranger pessoas individuais. Ela só existe e se
mostra através de indivíduos. Por mais que os movimentos sistêmicos permaneçam
no primeiro plano das constelações, eles não existem sem os indivíduos num
sistema, isto é, sem a mãe prematuramente falecida, sem o avô suicida, sem o
cliente com sua necessidade ou doença. “You cannot kiss a system”. Para
corresponder realmente à necessidade do cliente, a atenção do terapeuta deve
realmente passar através de seu sistema de relações, porém sem perder de vista
o cliente e suas necessidades concretas, e absolutamente sem feri-lo. No tocante aos efeitos externos do trabalho das
constelações, recomenda-se considerar os seguintes aspectos: Quem oferece
constelações como psicoterapia também precisa possuir habilitação legal para a
prática da psicoterapia. Quem não a possui não deve despertar a impressão de
praticar terapia, nem atender a expectativas terapêuticas no sentido
tradicional e legal. Precisa limitar-se ao aconselhamento, que até agora –
felizmente – não foi regulamentado. Naturalmente, no trabalho concreto fica
difícil definir os limites entre psicoterapia e aconselhamento, entre curar e
aconselhar. Seguramente não se justifica enaltecer a constelação
familiar como o único método capaz de resolver tudo e trazer felicidade. Por
mais liberador e saudável que seja seu efeito para a alma, ela não produz
redenção nem salvação. Por mais espiritual ou religiosa que possa ser ela não é
uma religião. O êxito de um método tende a colocá-lo em evidência, em lugar da
intenção ou da necessidade do cliente, ao qual o método serve. Muitos clientes
preferem fazer uma constelação a descrever seu problema, seja ele uma briga
entre irmãos, um conflito conjugal, a busca do lugar certo em sua vida ou o
risco de suicídio de um filho. Mas a participação numa constelação não
significa por si só uma receita de sucesso. O “mais” do trabalho das constelações é em muitas situações
também um “menos”. Por exemplo, a constelação familiar não substitui o
tratamento psiquiátrico, embora frequentemente seja útil para famílias onde se
manifesta um comportamento psicótico. Não substitui o tratamento médico em
casos de doenças. Não substitui o atendimento social, com as decisões de sua
competência. Não substitui todas as instituições que se dedicam a intervenções
em casos de crises. Nem substitui os métodos de ajuda à alma, quando alguém
precisa apreender o que necessita para o domínio de sua vida e que, pelas circunstâncias
de sua história, ainda não aprendeu. As constelações não são úteis para
mudanças de personalidade, embora possam interferir profundamente no processo
de crescimento da pessoa. Elas não substituem o treinamento ou a disciplina
espiritual, quando alguém quer se desenvolver nesse sentido. E não substituem
os domínios da experiência quotidiana dos clientes a que servem, mesmo que
possam proporcionar-lhes luzes extraordinárias. O cuidado no trabalho com constelações também envolve a
aprendizagem. Nesse particular, muito se discute nos círculos de consteladores
sobre o que é necessário aprender para dirigi-las. Até o momento pertence a
cada um testar-se para sentir se está pronto e capaz de assumir a
responsabilidade por esse trabalho. Note-se que a atitude fenomenológica que
abre mão do saber só tem significado para aquele que sabe algo. Ela não
significa “sem capacidade”, “sem experiência” ou “sem competência”. A atitude
de agir “sem medo” não significa ausência de respeito pelas forças com que
temos de lidar nas constelações. A atitude de atuar “sem intenção” não
significa que nos deixemos arrastar nas constelações pela arbitrariedade e pelo
acaso. E o atuar “sem amor” se refere ao domínio da transferência e da contratransferência,
e não significa falta de amorosidade. Também de nós, consteladores, continua exigindo um
constante esforço assumir cada pessoa, cada família, cada sistema, cada
realidade como ela é, de modo que também o cliente possa reconhecer mais
facilmente o que necessita para a solução de seus problemas e para o seu
próprio crescimento. 1 A tradução, autorizada pelo Autor, reproduz quase
integralmente o artigo “Wille und Schicksal” (Vontade e Destino),
publicado originalmente em resposta a críticas levantadas recentemente na
Alemanha contra o trabalho de Bert Hellinger. Foi excluída da presente tradução
a página inicial, pelas referências a um contexto para nós desconhecido. (N.T.) 2 Na Alemanha apenas se usa o sobrenome paterno, que as mulheres
normalmente substituem no casamento pelo sobrenome do marido. (N.T.) 3 Entendida num sentido profissional. (N.T.) 4 Publicado no site www.hellinger.com. Existe uma tradução de nossa
autoria. (N.T.) 5 No original, Helfer. Entendem-se
aqui sobretudo os profissionais da ajuda. (N.T.) Agradecimento Muito agradeço aos amigos e colegas que me apoiaram
neste artigo com valiosos estímulos e correções: Bernhard Haslinger, Eva
Madelung, Albrecht Mahr, Wilfried de Philipp, Katharina Stresius,Gunthard Weber
e Berthold Ulsamer. Tradução: Newton Queiroz Rio de Janeiro, fevereiro de
2004.
SOBRE A TEORIA, O CONTEÚDO E O MÉTODO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES120/10/2021 19:42:43 Jakob Robert Schneider Abordarei a seguir, de uma perspectiva pessoal, algunsaspectos do trabalho com constelações familiares que podem ser socialmentedesafiadores. Deixo ao leitor discernir o que nisso é realmente novo e leva anovos modelos da ajuda, e o que apenas provoca os espectadores, embora já goze,de longa data, de aceitação geral. A constelaçãofamiliarPara o nosso entendimento d... SOBRE CRÍTICAS ÀS CONSTELAÇÕES16/09/2021 22:47:37 A propósito de críticas
recentes ao trabalho com as constelações e à Associação Alemã para Constelações
Sistêmicas (DGfS) Jakob
Robert Schneider Caros colegas Por ocasião de minha despedida
como presidente da DGfS, quero dirigir-lhes algumas palavras. Considero o
biênio que passou como uma fase de transição para uma nova geração de
consteladores, que agora assume a responsabilidade pela nossa associação.
Desejo à nova presidente Barbara Innecken e aos novos integrantes da
equipe de trabalho uma feliz e proveitosa colaboração, em favor da estabilidade
e do desenvolvimento da DGfS, juntamente com aqueles que mantiveram suas
importantes tarefas na direção. Penso sobretudo em Wilfried De Philipp na
imprescindível gerência financeira, e em todos os que continuam exercendo suas
importantes tarefas nas comissões de reconhecimento e de formação. Na medida em
que cada um de nós puder oferecer um bom e útil trabalho com as constelações,
teremos uma base necessária e confiável para o futuro de nossa associação, e
não precisarei recear por ela. Mantenho-me ligado como membro da associação e
na redação desta revista. Sobre críticas recente ao
trabalho com constelações e à DGfS Em vez de apresentar no final
de minha gestão um panorama sobre a situação da DGfS, prefiro abordar nesta
oportunidade o ressurgimento da crítica externa. Mais uma vez, um livro
recente, Die Seelenpfuscher (Os incompetentes da alma) de Heike Dierbach, faz
pesadas críticas às constelações familiares, à terapia do abraço segundo Prekop
e a outras terapias, incluindo a todas elas no número das “pseudoterapias que
causam doenças”. Embora as críticas não sejam novas, pela primeira vez também a
DGfS foi atacada. Como devemos lidar com isso? Inicialmente, as acusações da
autora: - A constelação familiar é um
método esotérico ou alternativo que carece de fundamentação e de verificação,
utilizado por pessoas sem formação em psicologia ou em medicina. Como a psique
é a parte mais vulnerável do ser humano, o trato com ela pode ter graves
consequências. - Embora proporcionem
vivências fortes, as constelações familiares não ajudam a curar traumas
antigos, superar comportamentos destrutivos, experimentar mudanças de
comportamento ou reforçar as pessoas em seu caminho de vida. As constelações
familiares foram responsáveis por casos de morte e por muitos danos. Depois
delas, as pessoas se sentem pior ou, quando melhoram, o efeito não dura. Não se
investiga o êxito ou o fracasso das constelações. O entusiasmo de alguns
participantes não compensa o aparecimento de uma psicose num cliente após uma
constelação. - Os consteladores que, em sua
maioria, não tem qualificação ou formação, prometem que, com esse método, todos
conseguirão resolver os seus problemas, rapidamente e para sempre. Os consteladores se apresentam
como agentes de um poder superior. Como parte essencial de seu método, dão
conselhos não solicitados e, em caso de fracasso, atribuem a culpa aos
pacientes. - Numa psicoterapia séria, os
erros acontecem quando o terapeuta viola as regras do próprio método. Nas
pseudoterapias, como a constelação familiar, o risco consiste justamente em
seguir as regras do próprio método. - Ao contrário das terapias
que seguem o modelo de Virginia Satir, a criadora do trabalho com constelações, o método das constelações
familiares pressupõe que nas chamadas “ordens do amor” acontece algo que
transcende os indivíduos, e pressupõe a existência de um “campo dotado de
conhecimento”. Sugere-se que a família não
tem o poder de escolher a forma como deseja viver, mas que ela lhe é prescrita
por um poder superior. E afirma-se que os pacientes se curam quando se
conformam com isso, e ficam doentes quando não se conformam. A imagem do ser
humano em Bert Hellinger é extremamente conservadora, e a invenção do “campo
dotado de conhecimento” confere aos consteladores e aos representantes um poder
quase absoluto sobre os pacientes. A introdução de um “poder
superior” fere princípios centrais da psicoterapia. E falar de um “campo ciente” a
alguém que já tem dificuldade para permanecer na realidade é uma atitude
totalmente irresponsável em termos terapêuticos. - A compulsão para repetir já
é conhecida pelas terapias sérias, que entretanto a consideram como o resultado
de uma aprendizagem. Também os fenômenos da representação são fenômenos
corriqueiros. Quando um representante é visto como um avô, é natural que ele
também se sinta como um avô, mas isso nada tem a ver com o avô real. Nas
constelações, os participantes percebem justamente aquilo que o constelador
espera que eles percebam. ( ? ) - Os consteladores se
abastecem ao seu bel prazer no repertório de Bert Hellinger, e não se
interessam por uma verificação. O método é anti-científico, e as poucas
pesquisas existentes foram realizadas pelos próprios consteladores, pelo que
não podem ser levadas a sério. - Embora a DGfS se preocupe em
distinguir entre a psicoterapia e o aconselhamento, muitos aconselhadores
proclamam que as constelações permitem rastrear a origem de doenças
psicossomáticas. Na prática, sempre que se
trata de danos graves, tais como abuso sexual, tendências de suicídio e doenças
como depressão e anorexia, as constelações sempre se movem no domínio da
psicoterapia. -As universidades populares
que oferecem constelações familiares perdem a sua seriedade. É também inadmissível que
universidades acolham trabalhos de diplomação cujo tema seja o método das
constelações familiares. A tentativa de propor a outras
associações esse método é simplesmente um esforço para fingir seriedade. A Associação Sistêmica e a
Associação Alemã para Terapia Sistêmica e Terapia Familiar não se distanciam
decisivamente de Bert Hellinger e do trabalho das constelações familiares. Ora, uma terapia séria não é
compatível com a constelação familiar. Quando associações
profissionais sérias se envolvem com constelações familiares, é preciso que,
pelo menos, elas tomem uma clara distância de Hellinger, sem recorrer ao “campo
ciente” ou a análises místicas. - Os participantes de
constelações familiares não podem ser censurados, pois muitas vezes não
conseguem rapidamente uma vaga em terapias sérias e ignoram os riscos que estão
correndo. Quando psicoterapeutas formados se interessam pelas constelações
familiares, isso acontece porque também eles são apenas seres humanos, e isso
lhes permite dar vazão a seus sentimentos agressivos e até mesmo ganhar
dinheiro. Em suma, segundo a autora, “a
constelação familiar é uma roleta russa com a psique”. Trata-se, portanto, de
uma carga cerrada. Dando um passo para o lado
para sair da linha de tiro e tomar uma respiração, procurarei avaliar, por um
lado, as acusações levantadas e, por outro, as atitudes que, ao meu ver,
deveríamos adotar em relação ao nosso trabalho das constelações, para que ele
possa ter a máxima eficiência e produzir os seus efeitos benéficos. Avaliação das críticas Diante de críticos como Heike
Dierbach não temos chances de argumentar. Ela descarta a priori qualquer
discussão pró e contra, pois isso seria admitir que a constelação familiar seja
colocada em pé de igualdade com as chamadas “psicoterapias sérias”. Como muitos
dos críticos anteriores, ela se isola desde o início, e não se dispõe a fazer
um esforço sério para entender o que acontece nas constelações. Esse preconceito já é antigo,
e consiste numa reação alérgica a certos conceitos como “ordens do amor”,
“destino”, “campo ciente”, ou à própria pessoa de Bert Hellinger. Admitimos que o trabalho das
constelações, em vários de seus pressupostos e experiências, não se conforma ao
Zeitgeist (espírito da época) da psicoterapia. Mas chavões como “insensatez”,
“incompetência”, “imagem do ser humano excessivamente conservadora”, “análises
místicas” não substituem argumentos. A afirmação da autora, de que ela apresenta
em seu livro os fundamentos teóricos e a técnica dos métodos alternativos
criticados, não é verdadeira, pelo menos no que toca às constelações familiares
(ainda não examinei o que se diz sobre os outros métodos). Uma análise
superficial basta para constatar que o livro revela um completo desconhecimento
dos múltiplos processos do trabalho com as constelações. -A autora repete sempre que as
constelações desencadearam sentimentos de suicídio, psicoses e outras sérias
perturbações psíquicas, e que aconteceram casos de morte depois de
constelações. Mas onde estão os números e os relatos concretos? Onde é que
realmente ficou provada uma conexão entre os fatos alegados e as constelações? - Como são justamente, as
pessoas gravemente afetadas que costumam recorrer a métodos alternativos,
porque não encontraram ajuda na rede psicológica, psiquiátrica, social e médica
convencional, ou julgam que não a encontrarão aí, é natural que essas graves
perturbações psíquicas se manifestem durante as constelações e depois delas. O
método das constelações não é uma garantia de cura, e muitas vezes o
comparecimento a um workshop é apenas um episódio a mais na odisséia de cura de
um cliente. Tendo em vista a geral dificuldade de obter ajuda, em casos de
graves perturbações psíquicas, inclusive dentro da rede psicossocial
reconhecida, concluir que o trabalho das constelações envolve um risco especial
é, pelo menos no rigor do termo, algo inaceitável para mim. De resto,
desencadear não significa causar, embora se deva também assumir uma certa
responsabilidade com relação aos fatores desencadeantes. - O trabalho com as
constelações é censurado por não ser científico e por não investigar os seus
resultados. Ao mesmo tempo, somos advertidos a não examinar cientificamente
esse trabalho. Como sair desse dilema? Felizmente, alguns cientistas já se
posicionaram a favor da realização de pesquisas sobre o trabalho com as
constelações, e analisam com seriedade o que acontece nelas. Esse processo
ainda está começando, mas se intensificará. Pois o grande potencial do trabalho
das constelações, que é eficiente na prática e teoricamente interessante, já não
pode ser facilmente descartado por razões ideológicas. Também alguns
consteladores se interessam pessoalmente pela realização de pesquisas
metódicas. Membros de nossa Associação já apresentaram as primeiras
dissertações e teses doutorais de alcance internacional. (ver Praxis der
Systemaufstellung 2/2009, p. 65-73). Mesmo prescindindo disso, não se percebe
um mínimo de cientificidade nas afirmações da Sra. Dierbach. Onde é que ela
prova, por exemplo, que as sugestões dos consteladores influenciam os representantes?
Excetuados alguns casos, que a autora explora, com uma visão extremamente
simplista, a favor de seus próprios argumentos, onde é que os processos das
constelações são analisados em todas as suas facetas? Ora, um abundante
material já foi publicado sobre esse ponto. - O método da constelação de
sistemas de relacionamento não foi desenvolvido em universidades mas no
“mercado livre” da ajuda. Por esta razão, não dispomos até o momento, com
pouquíssimas exceções, de pessoal, know-how e recursos para promover efetivas
investigações e pesquisas científicas. Quanto mais as universidades se
interessarem pelas constelações familiares – e esse processo já começou – tanto
mais pesquisas científicas existirão. - Além disso, já é possível,
com alguma razão, criticar a inadequação dos métodos convencionais de pesquisa
e das teorias usuais, no que toca ao domínio complexo da psique e das relações
humanas. A ciência nem sempre favorece o conhecimento; muitas vezes ela também
o impede, quando uma nova abordagem não se ajusta aos modelos em voga. Com isso,
os novos procedimentos só podem ser desenvolvidos fora dos arraiais da ciência. - A falta de um método
cientificamente padronizado não significa, porém, que não recebamos
indiretamente muitas indicações sobre a eficácia de nosso trabalho. Muitos
consteladores oferecem um trabalho individual complementar, onde as
constelações se inserem no contexto de um atendimento mais longo em
aconselhamento ou terapia, com o correspondente feed-back. Antigos
participantes, anos depois da própria constelação, continuam a recomendar o
trabalho. Membros da mesma família comparecem sucessivamente a constelações e
relatam os seus efeitos. Muitos participantes de grupos de constelações tornam
a inscrever-se, depois de certo tempo, com suas questões, e relatam o que mudou
em suas vidas e o que permaneceu inalterado. - Por que razão as
constelações familiares e outras constelações sistêmicas se difundiram tão
ampla e rapidamente, inclusive em âmbito internacional? Será porque tantas
pessoas em busca de ajuda não encontram rapidamente um lugar na pretensa terapia
séria? Será porque elas buscam vivências fortes e ignoram os seus riscos? A
Sra. Dierbach pretende proteger os participantes dos seminários de
constelações. Afirma que não se pode censurá-los, pois eles são buscadores que
foram transformados em vítimas de um método não científico, utilizado por
incompetentes. E diz que os psicoterapeutas formados que utilizam o método das
constelações são apenas seres humanos com suas fraquezas. Que imagem humana é
essa? Nela eu não reconheço os participantes de meus cursos, nem a mim
pessoalmente. - O trabalho das constelações
revela não apenas as carências das pessoas, mas também as suas realizações de
vida, sua força e competência. Os clientes são geralmente pessoas com
capacidade de julgamento, que não se deixam facilmente iludir ou manipular. Todos
eles sabem ou aprendem que o que irá ajudá-los não é a constelação do
dirigente, ou o que ele possa pensar sobre a ordem, mas aquilo que nas
constelações se manifesta e abre caminhos, e aquilo que eles mesmos vivenciam
nas constelações. Ouso afirmar que esse modo de ver da Sra. Dierbach e de
outros críticos, pretendendo proteger pessoas em necessidade psíquica para
defendê-las do abuso de sua busca, desonra os participantes e os consteladores,
tratando-os como inexperientes, temerários e vítimas. Para mim, depois de
tantos encontros comoventes com as mais diversas pessoas nas constelações, isso
é algo difícil de suportar. - Apesar das confrontações
aparentemente duras com as realidades incômodas de vinculação e desvinculação
nos relacionamentos - ou mesmo por causa delas -, posso afirmar que o método
das constelações, pelo menos em princípio, leva mais a sério os clientes nas
constelações, no que toca à sua responsabilidade, competência e liberdade
pessoal, do que várias das chamadas “terapias sérias”. Que atitudes deveriam tomar
em face das críticas? Penso que, como membros da
DGfS, deveríamos assumir duas atitudes em face dos fortes ataques dos críticos:
por um lado, não devemos deixar-nos impressionar; por outro, podemos aproveitar
essas críticas como uma oportunidade para exercer uma cuidadosa e constante
vigilância sobre o nosso trabalho, fiscalizando-o e desenvolvendo-o,
principalmente nos pontos nevrálgicos. Julgo que cometeríamos um erro
se ficássemos a reboque das críticas, num ansioso esforço para desmontá-las até
que não subsistissem críticas ao nosso trabalho. Quando contemplo, em seus 25
anos, a história das constelações familiares, só posso recomendar uma justa
consciência desse trabalho tão útil, benéfico e interessante. Essa riqueza de
experiências humanas, a amplitude e a eficácia dessa ajuda, a profundidade,
aliada à simplicidade, de muitas dessas intuições sobre as realidades psíquicas
– nada disso é visto ou tocado pela crítica. Muitos dentre nós ostentam
suficientes e, por vezes, extraordinários conhecimentos e experiências em
diversos métodos terapêuticos e em variados campos de aconselhamento. Essa
capacidade de julgamento não pode ser simplesmente ignorada e aviltada, sem
falar da qualidade humana que constantemente vivencio em muitos colegas no país
e no exterior. Julgo que não faria sentido e
seria totalmente inadequado distanciar-nos tanto de Bert Hellinger, que tudo o
que ele fundou e desenvolveu baseado em muitas influências, para a sustentação
e a evolução desse trabalho, devesse desaparecer de nossa experiência e de
nossas mentes. Também dentro de nossas fileiras tem sido feita bastante crítica
a Bert Hellinger. Mas muitos dentre nós justificadamente o valorizamos pela
ajuda e pelo estímulo que pessoalmente recebemos dele, de modo que não
poderíamos, sem prejuízo para nós e para nossa atividade como consteladores,
retroceder para antes do ponto de partida, rejeitando, em razão das críticas
públicas, algo que se tornou importante em nosso trabalho. A DGfS não é uma associação
vinculada a Bert Hellinger. Não nos limitamos a fazer uma escolha arbitrária
entre as suas propostas. [2] A
maioria de nós já deu há tempos uma configuração pessoal ao próprio trabalho
sistêmico, onde confluem elementos pessoais e de muitos outros métodos e
teorias, e constantemente se desenvolvem aspectos novos. Mas devemos renegar a
origem? Com isso tiraríamos, em maior ou menor grau, o chão debaixo de nossos
pés. Aliás, isso não traria proveito, porque a intenção básica da crítica
radical é destruir o nosso trabalho em suas raízes. E a Sra. Dierbach não ataca
somente Hellinger, mas também a nossa associação. Alguns critérios para o nosso
trabalho Algumas vezes, porém, nós
também facilitamos as críticas. Gostaria de mencionar... -Alguns critérios que
considero importantes para o desenvolvimento de um cuidadoso trabalho com as
constelações: - Por mais desejável que seja,
em diversos contextos, realizar experimentos com constelações, o lugar central
do trabalho, sempre que esteja em causa uma necessidade do cliente, deve caber
a ele: ao seu problema, à sua urgência, ao seu objetivo. O constelador, o
grupo, os representantes existem em função do cliente, e não vice-versa. - Na medida do possível, é
preciso que o cliente tenha clareza sobre o que acontece em sua constelação,
mesmo que só possa tê-la depois de algum tempo, ou que aconteçam soluções
eficazes sem que haja uma percepção consciente por parte dele.[3] De que aproveita a verdade de
uma constelação, se o cliente não é capaz de recebê-la? Durante o último congresso
internacional em Colônia, doeu-me ouvir casualmente uma conversa de colegas, na
qual um constelador falava de uma brilhante constelação, onde ele próprio, os
representantes e o grupo se emocionaram muito e apenas o cliente se fechou e
nada entendeu. -Quando as constelações não
estiverem vinculadas a um contexto terapêutico, a ajuda ao cliente pode
perfeitamente limitar-se ao tempo de sua participação num grupo. Contudo,
durante esse tempo é preciso que nasça uma relação entre o constelador e o
cliente, que permita a este voltar a procurá-lo se não conseguir processar a
constelação, se continuar sentindo-se mal depois dela ou tiver outras questões
que tenham nascido da constelação. - Como qualquer outra ajuda,
as constelações não se destinam a fazer com que as pessoas se sintam bem no
menor prazo possível. Não pertencem à indústria do bem-estar. Isto, entretanto,
não significa que não devamos ter a capacidade e a vontade de lidar com as
emoções negativas ou mesmo destrutivas do cliente, associadas às constelações,
de modo a resolvê-las. -O trabalho das constelações é
um método orientado para soluções. Apesar de ser uma prática destituída de
intenções, ela é direcionada a que o cliente possa mudar positivamente algo em
sua vida, crescer como pessoa e em seus relacionamentos, e que algo se cure em
sua alma.Seria uma presunção de nossa parte atribuir-nos o poder de
simplesmente sanar o impacto de uma história de vida pessoal e familiar
inserida em contextos mais amplos. Não obstante, a constelação existe para que
o cliente possa reorientar-se e encontrar uma saída ou uma forma de prosseguir
em sua vida. - Na medida em que trabalhamos
nos habituais contextos de aconselhamento e de psicoterapia, os elementos
espirituais ou místicos que, com uma certa freqüência, penetram em nosso
trabalho, não devem ser tratados como algo sagrado que não possa ser
questionado ou que se apresente como um saber intocável, reservado a um grupo
de “iniciados”. O que constitui o cerne de nosso trabalho são os problemas
comuns da vida nos quadros concretos das relações humanas, mesmo que o contexto
de nossa necessidade frequentemente ultrapasse em muito as nossas experiências
pessoais e familiares imediatas. Toda ajuda envolve um certo grau de
transcendência, no sentido de se ultrapassarem certos limites. Mas ingressar
num espaço maior e mais aberto não significa ingressar no ilimitado. A
espiritualidade está a serviço da vida, e não vice-versa. - A experiência, embora não
possa ser contestada, é sempre limitada. [4]A
certeza de nossas experiências depende sempre do intercâmbio com os outros,
para que permaneçamos abertos à percepção dos limites delas, de modo que se
insiram corretamente em nossa visão do mundo, e que fiquemos abertos a novas
experiências, às vezes totalmente inesperadas, que nos levam por caminhos
imprevisíveis. Embora minha vivência seja sempre a minha vivência, ninguém
vivencia sozinho. Nossa certeza não se baseia apenas em nossa mente pensante,
mas também na coexistência humana e na percepção de que os outros são
relacionados a nós, assim como nós a eles. - Não basta querermos
convencer alguém de nosso trabalho dizendo-lhe que só precisa experimentá-lo e
vivenciá-lo. Devemos também relatar algo sobre o nosso trabalho e torná-lo
suficientemente compreensível em termos teóricos, de modo que, mesmo encarado
de fora, ele pareça plausível, interessante e atraente. Seria lastimável que o
nosso trabalho se tornasse tão esotérico que só pudesse ser entendido por
“iniciados”. - Ciência não é algo que se
oponha à vivência ou à experiência, nem mesmo à experiência espiritual. Ela é
uma determinada abordagem do conhecimento, da explicação da realidade e de
sua modificação. [5] Embora
as teorias científicas às vezes precedam uma experiência, na maioria dos casos
elas explicam posteriormente o que antes foi experimentado e se revelou como
proveitoso. No momento em que constelamos, não pensamos em ciência. Porém,
quando refletimos sobre o nosso trabalho, não devemos ter medo de permitir,
utilizar e promover os pertinentes questionamentos científicos. Faz plenamente
sentido que nos interroguemos sobre o que entendemos por “ordens do amor”,
“destino”, “vinculação”, “consciência”, “sistema”, “alma”, “espírito”, “atitude
fenomenológica”, “campo ciente”, etc. Faz muito sentido que investiguemos com
cuidado o que acontece nas constelações, para compreender os variados processos
que podem ser observados e utilizar essa compreensão para novos
desenvolvimentos, com a finalidade de melhorar e tornar mais eficiente o nosso
trabalho. Estou convencido de que, nas diversas dimensões da realidade que se
manifestam nas constelações, também existe um enorme potencial para a
compreensão científica dos relacionamentos, da psique humana e dos processos de
integração entre o corpo, a alma e o espírito. A vontade de saber é algo que se
coaduna muito com o nosso trabalho. O conhecimento pressupõe o espanto diante
da realidade que se manifesta a nós. Não compartilho o medo de que o
conhecimento possa diminuir a realidade, impedindo uma experiência profunda. - Convém que, no contexto do
nosso trabalho, também procedamos de uma maneira “culta”. Isto envolve, a meu
ver, agir de modo inteligente e responsável, distinguir entre o que é sensato e
o que é irracional, fazer associações mentais, utilizar analogias úteis e
contribuir, com determinados conhecimentos gerais e universais pelo bem da
causa. [6] - A atitude fenomenológica não
consiste numa carta branca para ver surgindo do oculto toda espécie
imaginável de coisas. Ela se refere exclusivamente ao que se manifesta
como um fenômeno nas constelações. O “logos” (o sentido) também tem o seu lugar
aí. Portanto, é preciso que nos perguntemos: - Que sentido e que conexão isso
manifesta? E como esse sentido pode ser expresso em termos de linguagem? - Recomenda-se que, na
divulgação do próprio trabalho com constelações, procedamos com cautela e de
acordo com as normas legais. Quem não tem licença para práticas de cura não
está autorizado a curar e também não deve despertar expectativas de que o fará.
Justamente quando se trata de problemas físicos, psicossomáticos e
psiquiátricos, o foco do trabalho da constelação é dirigido ao aspecto
sistêmico, seja no interior da alma ou no contexto dos sistemas de relações.
Nossa questão é saber o que pode ou precisa ser curado na psique e nas
relações, e que seja igualmente proveitoso para quem tem saúde e para quem
suporta uma doença ou um sintoma. Naturalmente, não é fácil
traçar limites neste campo. As constelações não são uma psicoterapia, mas uma
forma de ajuda à vida. Entretanto, podemos alegar que, com as constelações em
grupos ou em consultas individuais, oferecemos ajuda à vida, à semelhança das
variadas instâncias de aconselhamento. [7] O
trato com doenças e sintomas não é um domínio exclusivo da medicina e da
psicoterapia. O aconselhamento ainda não foi regulamentado na Alemanha – e com
razão, penso eu, dadas as múltiplas questões e implicações que isso envolve.[8] A DGfS e o campo de
trabalho das constelações Como membros da DGfS, mantemos
esta associação especializada com a finalidade de permanecermos em intercâmbio
e promovermos um cuidadoso e conveniente trabalho com as constelações,
movendo-nos num espaço público. Isso envolve crítica externa e questionamento
interno. Desde o início, quando Gunthard Weber reuniu alguns dos primeiros
“discípulos” de Bert Hellinger, o que se visava, em primeiro lugar, era o
intercâmbio – então em estreito contato com o próprio Hellinger – e o desejo de
promover e difundir, de forma responsável, o método de constelar sistemas de
relações, que tinha sido vivenciado como muito positivo e proveitoso, e julgado
plenamente eficiente por nada excluir das vivências humanas. Esse processo
continua e faz progressos. Portanto, participem e apoiem a nossa associação. A DGfS elaborou diretrizes
para o reconhecimento de consteladores, treinadores e cursos de formação. Muito
me alegraria se essas diretrizes não forem consideradas como limitações, e sim
como impulsos de crescimento e estímulos para aprimorar a qualidade do
trabalho. Entrementes, o trabalho das
constelações chegou a uma fase onde ninguém precisa mais de abrir a facão
picadas na floresta virgem dos relacionamentos humanos. Nesse ínterim foi
desbravado um vasto campo das constelações, que precisa ser plantado e
cultivado. Nem todos nós somos descobridores; na maioria, somos utilizados como
cultivadores. Conheço algumas psicoterapias e métodos de aconselhamento. Em
nenhuma dessas abordagens sinto-me tão ligado à vida, à história, ao humano e
tão próximo das pessoas que buscam ajuda e de suas famílias, quanto no trabalho
das constelações. Ele é válido e oferece um sólido fundamento para a nossa
“construção urbana”: a ajuda que prestamos, com as constelações, a pessoas em
necessidade quanto a seus relacionamentos e aos fatos básicos da vida. Desejo a todos os membros da
associação e a todos os demais consteladores muita alegria, reconhecimento e
êxito neste nosso trabalho. Traduzido por Newton Queiroz,
Rio de Janeiro, agosto de 2010. Nota do Tradutor - O original
desta comunicação foi publicado na revista da DGfS “Praxis der
Systemaufstellung” nº 1/ 2010, p. 105-110. Posteriormente, respondendo a
perguntas do tradutor, o Autor forneceu esclarecimentos ao texto, que foram
inseridos em notas de rodapé. [1] Deutsche
Gesellschaft für Systemaufstellungen, que na presente tradução é geralmente
citada pela sigla DGfS. (N.T.) [2] “Não
escolhemos entre as suas intuições apenas o que nos convém, mas nos mantemos
fiéis às orientações básicas sobre o trabalho das constelações, sobre a base
colocada por Hellinger.” (Esclarecimento do Autor). [3] “Por
exemplo, quando o cliente diz: ‘Não entendi a constelação, mas sinto-me muito
aliviado’. (Esclarecimento do Autor) [4] “Quando
alguém teve uma experiência importante para ele, não podemos dizer de fora:
‘Sua experiência é falsa’. Mas cada experiência é naturalmente limitada. Não
posso declarar, sem mais, que minha experiência tem uma validade geral.”
(Esclarecimento do Autor) [5] “A
ciência é um método com o qual tentamos explicar e entender a realidade, com
uma certa reivindicação de validade geral.”(Esclarecimento do Autor) [6] “Isto
é, em favor do trabalho da constelação e de um trabalho que traga ajuda aos
clientes.” (Esclarecimento do Autor) [7] “...isto
é, com os mesmos direitos e deveres. Pois o trabalho das constelações não é em
primeira linha um método de psicoterapia, mas de aconselhamento.”
(Esclarecimento do Autor) [8] “Seria
muito difícil regulamentar o aconselhamento, de forma semelhante ao que se faz
com a psicoterapia. Portanto podem ser aduzidas boas razões para que não seja
adotada uma regulamentação especial.” (Esclarecimento do Autor)
SOBRE CRÍTICAS ÀS CONSTELAÇÕES16/09/2021 22:47:37 A propósito de críticasrecentes ao trabalho com as constelações e à Associação Alemã para ConstelaçõesSistêmicas (DGfS)JakobRobert SchneiderCaros colegasPor ocasião de minha despedidacomo presidente da DGfS, quero dirigir-lhes algumas palavras. Considero obiênio que passou como uma fase de transição para uma nova geração deconsteladores, que agora assume a responsabilidade pela nossa associação.De... RELIGIOSOS E SEUS CORPOS ADOECIDOS16/08/2021 19:24:47 Observo o fenômeno do adoecimento psicossomático das lideranças religiosas há anos. No inconsciente do grupo dos clérigos, existe a crença que as dores físicas são um holocausto agradável a Deus para purificar a alma, sendo necessário submeter o corpo sob a razão e alienando o corpo para salvar a alma. Deus não é sádico e a dor física patológica é uma afronta ao mistério salvífico. Nessa crença demasiadamente anacrônica se evidência uma estratégia de sobrevivência que adoeceu e adoce gerações de membros do clero. Assim, a somatização do sofrimento psíquico é a cartografia da enfermidade da psique, expressa no corpo de cada presbítero. Essas crenças são fruto de uma psique traumatizada. Entendo trauma a partir das pesquisas e dos trabalhos do Prof. Dr. Franz
Ruppert, psicólogo e professor da Escola Superior Católica de Munique, do Dr.
Gabo Maté, médico húngaro-canadense e de Peter A. Levine, PHD em física médica
e doutor em psicologia, criador do método somatic experiencing. Sendo
assim, o trauma é a impotência e o desamparo perante riscos de um determinado
evento.
Ocorre quando uma realidade muito difícil nos é imposta e criamos uma ilusão dessa
realidade para substituir a realidade real difícil, com o propósito de sobreviver,
evitando assim, a gêneses da dor do fato traumatizante. Trauma não é o que acontece com você, é o que acontece dentro de você
como resultado do que aconteceu com você. Segundo Franz Ruppert, o stress
decorrente do fato traumatizante é um risco à vida e para se manter vivo ocorre
a cisão da psique em três partes; a saudável, a traumatizada e a da
sobrevivência. A terceira parte supracitada cria estratégias para sobrevivência ao
trauma como; evitar lembranças do trauma, controlar a si mesmo e as pessoas, procurar
compensações, criar ilusões, atitude de submissão e agressão latente, projeção
nos outros dos próprios sentimentos negativos, congelamento das emoções e negação
da realidade. Com o passar do tempo, a estratégia passa a ser a lente da qual se
enxerga a vida, o que estrutura o comportamento. Para evitar a dor original do
trauma, a psique gera uma contenção de energia psíquica para manter o fato que
originou o trauma “esquecido”, pelo maior tempo possível. Assim, a pessoa passa
a sobreviver e não viver, sendo seu mundo visto de forma distorcida e suas
relações transitadas entre ser vítima e perpetrador. O corpo e psique que desde a concepção estavam inseparavelmente
entrelaçados no organismo vivo, a partir do trauma fica cindido, sendo visto
como estranho, alienado. Os traumas provocam uma separação do Eu e do Corpo,
exprimindo-se no corpo e na psique por meio de sintomas. Essa cisão é
verificada na expressão “eu tenho um corpo”, mas a verdade é “eu sou o meu
corpo”. Para Franz Ruppert, o trauma psíquico impossibilita a
relação saudável com as pessoas, traz consequências emocionais que não
conseguimos lidar no cotidiano e assim, substituímos a realidade por fantasias.
Franz Ruppert os nomeia traumas da identidade, do amor, da sexualidade e perpetrador-vítima.
Os traumas mais profundos têm sua origem na vida
intrauterina, sendo retroalimentados e cristalizados nas relações competitivas
dos grupos sociais que o indivíduo pertence, o primeiro grupo é a família.
Todos nós temos uma necessidade inata de pertencer a um grupo de semelhantes,
porque somos por natureza seres gregários. As relações de competividade entre
os membros do grupo que pertencemos reforçam as estratégias de sobrevivência,
tonificam os traumas, aumentam os níveis de estresse, levando o organismo a liberar
excesso de cortisol e adrenalina, resultando em adoecimento. No grupo dos clérigos o nível de competividade
frequentemente é velado no discurso do serviço à Igreja e a maioria dos membros,
fazem um movimento de serem vistos de forma especial pela figura que representa
o poder, o bispo. Na competividade o objetivo é obter o poder, e quem negocia
com o poder quer alguma coisa do poder ou até mesmo se tornar o poder. No fundo,
são adultos que a partir das suas feridas infantis lutam para serem vistos
pelos pais, representados na figura do bispo ou do superior da congregação
religiosa. A instituição religiosa na qual o presbítero se
tornou membro por força de um rito, gerou um vínculo de pertencimento. No
entanto, essa pertença não promoverá frutos se as relações forem de competição.
Somente pela convivência adulta e saldável nasce o afeto e o vínculo de
pertença afetiva, originando uma relação cooperativa entre os membros. Os
relacionamentos competitivos contribuem para uma cristalização dos traumas, e a
instituição não oferece espaço seguro e adequado de expressão dos conflitos do
mundo interno dos presbíteros. A falta de
expressão gravada no corpo e sinalizada pelos sintomas, adoecem ainda mais os
indivíduos, e por conseguinte, os relacionamentos estabelecidos entre os demais
membros da instituição, sendo em sua maioria tóxicos. Num círculo vicioso, os
membros traumatizados reforçam suas estratégias de sobrevivência, adoecendo
ainda mais a si próprios, tanto nas relações dentro e fora do grupo do clero, quanto
na própria instituição. Assim entendo que, quando no grupo todos se tratarem
como adultos, a começar pelos membros da hierarquia eclesial, dar-se-á o início
das relações de cooperação, pois cada membro será visto com sua própria
identidade, conectados numa consciência de pertença afetiva e efetiva. Então, far-se-á
necessária a aprendizagem da expressão dos sentimentos conflitivos de forma
saudável e terna. Vejamos, o confessionário não é um local de
expressão dos conflitos do mundo interno, pois os conflitos expressos nesse
local correm o risco de serem “demonizados” ou serem vistos como “pecado’” tanto
por parte do confessor quanto por parte do penitente. Essa visão moralizante reforça
a repressão psíquica. Os conflitos internos que não são elaborados em ambiente
seguro constituem terreno fértil para o surgimento do pecado, no sentido
originário dessa palavra, em hebraico: errar o alvo. É necessário distinguir
pecado de conflitos psíquicos. Uma expressão curativa das feridas e dos conflitos
do mundo interno exige tempo, ambiente de confiança, reciprocidade,
assiduidade, disponibilidade e acolhimento. Assim, para alcance significativo
dessas exigências, é preciso ser presente no ouvir sem julgamento, buscando
sempre a habilidade da escuta num processo de ajuda, levando assim, o indivíduo
da vitimização ao protagonismo, do estado de infantilidade para sua condição de
adulto, de sua fixação no passado para o tempo presente, onde ele passa a
encontrar sua força de mudança e a responsabilidade pela sua própria vida. Portanto,
quem ouve tem que ter passado pela experiência de ter falado de si mesmo, de
seus próprios conflitos, para alguém experimentado. Uma figura adequada poderia
ser um conselheiro espiritual habilidoso, humano e experiente. Necessariamente
não precisa ser alguém formado em psicologia, e sim alguém que tenha feito o
caminho interno e se humanizado com suas próprias dores, porque há quem passe
pela dor e se torna amável e quem passe pela mesma dor e se torna amargo. Não
pode ser um ouvinte jovem, esse ainda não teve tempo de vida para trilhar os
vales do coração e da vida espiritual. Não é uma questão de conhecimento
intelectual e sim de sabedoria, que somente o tempo de experiência concede para
quem permaneceu e permanece aberto à força da vida que nos renova. Logo, é
necessário ter percorrido “as moradas do castelo interior”, nas palavras de
Santa Tereza d’Ávila, porque existe uma diferença entre conhecer o caminho e
trilhar o caminho. Bessel
Van der Kolk diz: “apoio social não é o mesmo que estar na presença de outra
pessoa, é estar de forma recíproca, é a reciprocidade que faz a diferença, ser
verdadeiramente ouvido e ser visto pelas pessoas ao nosso redor, sentir que
estamos seguros no coração e na mente de outra pessoa. Mas se suprimo quem sou,
ninguém nunca vai me ver e posso ser muito legal com milhares de pessoas que me
amam, mas nenhuma delas me conhece e no fundo estou isolado”. De todo trauma dá-se origem a uma estratégia de sobrevivência. É a
maneira que a psique encontra de evitar a dor. Para alguns a escolha do
ministério pode ser uma estratégia de sobrevivência. Isso me toca
profundamente pois sou membro de um presbitério há quase três décadas e percebo
que o sofrimento psíquico é latente nas relações clericais, pautada na
competividade e não na cooperatividade. Embora a maioria dos membros do grupo
dos presbíteros sinta o mal-estar da toxicidade das relações, não conseguimos
enxergá-lo e nem o nomear. Bem disse Clarice Lispector, “o óbvio é a verdade
mais difícil de se enxergar”. A luz da verdade evidente ofusca os olhos. Negamos a realidade e vivemos de fantasias,
todos sabem que o rei está nu na sacada do palácio discursando, mas, ninguém ousa
denunciá-lo, mas pelo contrário, os membros da corte e os plebeus ouvem e
admiram o discurso vazio. Ações corajosas Nos últimos anos a Igreja realizou movimentos significativos buscando respostas
acerca da realidade do sofrimento psíquico e emocional de alguns membros do
clero, membros esses, que sofrem e fazem todos sofrerem, pois se um membro
sofre, todos os outros sofrem (1Cor. 12,26). Foram posições corajosas, no
passado não tão distante, a regra era de negação dos conflitos causados por
crimes de violência contra as crianças, enriquecimento ilícito do clero etc. Em
muitas Igrejas particulares e congregações, os critérios de seleção e admissão
ao seminário passam pela colaboração de profissionais leigos da área da
psicoterapia. A psicoterapia é uma importante aliada da espiritualidade. Um religioso
precisa se autoconhecer para interagir como indivíduo adulto de forma saudável
no grupo ao qual pertence. As normativas e punições sobre abusos de crianças e adolescentes por
alguns membros do clero chegaram corajosamente pelas mãos do Papa Francisco. O
idoso olhou com ternura e compaixão para as jovens vítimas, e essas
possivelmente já se encontravam marcadas pelo trauma do amor originado na
relação mãe-filho no âmbito familiar. Esses perpetradores são indivíduos fixados
no trauma sexual, eles conseguem identificar suas vítimas que “exalam”
carências originadas do trauma do amor. As vítimas expõem suas necessidades do
contato de amor verdadeiro de forma inconsciente e exposta, poderá ser retraumatizada
por um novo perpetrador, deixando-se assim, se envolver num arranjo de
sofrimento vítima-perpetrador. Portanto, o círculo vicioso de sofrimento psíquico devido aos abusos do
passado se torna crescentes e mais intensos na nova relação abusiva. O
perpetrador não chega em todos, chega apenas nos que são vulneráveis psiquicamente.
A vítima busca o amor e encontra um contato físico abusivo. Assim, perpetrador
e vítima foram traumatizados um dia em sua infância, devendo ambos serem vistos
com amor. Logo, as leis sancionadas
pela Igreja Católica sobre questões de abusos são fundamentais e deverão gerar
os próximos passos necessários; a educação do mundo interno de cada presbítero tanto
no presente quanto no futuro e a colaboração da Igreja no processo de formação
da ética cristã nas famílias. A lei frutuosa é a de caráter coercitivo e educativo,
sendo necessário um olhar amoroso para as vítimas e os perpetradores num
movimento resolutivo, ou seja, um olhar de justiça inclusiva e nunca de
vingança e exclusão. O Óbvio
sentido, sem voz Sinto em meu corpo e vejo nos corpos dos meus pares o incômodo de adaptar-se
a um modelo de presbítero posto como ideal. Essa idealização arcaica se contrapõe
com a realidade dos membros do presbitério nos tempos atuais. Alguns
presbíteros na tentativa de construir uma identidade fazem um movimento externo,
usando roupas litúrgicas tridentinas com brocados reluzentes, já outros fazem o
movimento contrário, usando vestes litúrgicas tristemente simplórias. Esses
movimentos de busca de identidade presbiteral no foco externo não ajudam e nem
tem força. O movimento permanente e produtivo nasce de dentro. Na esteira do
movimento externo estão a maioria dos que aspiram ser padre, afinal o desejo
começa com o olhar. Já alertou o Mestre,
“[...]não se põem remendo novo em vestes velhas” (Mt.9:16) e o contrário é
verdadeiro, não se põem remendo velho em vestes novas. Desafios novos exigem
novas respostas e soluções criativas que expressem verdade e congruência. Alguns líderes religiosos lançam mão da máscara do otimismo e alegria
durante uma ação litúrgica sob o rosto abatido e triste, alguns presbíteros
vivem uma desconexão entre o que sente e o que é dito em público, sendo o saldo,
uma ação litúrgica desgastante, vazia e um presbítero dividido internamente. Se
pelo contrário, o presbítero tomar consciência que pode celebrar com suas dores
e tristezas, expressando esses sentimentos e emoções, a assembleia ficará
tocada e ele seguro ao expressar a verdade interna. Afinal o mistério celebrado é o memorial da vida, paixão, morte e
ressurreição do Senhor e quem o preside está misticamente ligado ao mistério
celebrado, podendo sorrir e chorar com o Senhor, a partir da sua própria
experiência de vida. Lembro-me de Fernando Pessoa através de seu heterônimo
Álvaro de Campos em um trecho do poema intitulado Tabacaria, que diz, “[...]Fiz de mim o que não soube, e o que
podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo
por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara,
estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido[...].”
(CAMPOS, 1944, p.252). Diz Gabo
Mate sabiamente: “Quando vivemos desempenhando papeis, estamos
sobrevivendo, e o nível de estresse se torna alto e isso leva ao adoecimento.
Desempenhar papeis leva ao adoecimento, porque fazer isso é estressante. Por
trás do desempenho de papeis existe o medo, e o medo é um estado de estresse.” Viver divido é sobreviver, e o modo de sobrevivência é insuportável, é
adoecedor. Quanto mais o indivíduo cria e encontra estratégias de sobrevivência
para evitar o sofrimento psíquico, mais ele mergulha em ilusões que comprometem
sua identidade, podendo mais cedo ou mais tarde se ver impossibilitado de viver
uma vida autônoma e criativa, dando lugar as patologias da depressão, da
síndrome de Burnout e outras doenças físicas e psíquicas, podendo levar alguns
ao surto e ao suicídio. Recordo-me que numa conversa informal, um conhecido
irmão que é pastor evangélico expressou sua preocupação sobre esta temática do
suicídio e outras doenças que acometem o grupo de pastores protestantes e
evangélicos-pentecostais. Sua abordagem pontuava o alto índice de suicídios
entre os pastores nos últimos cinco anos, sendo causa de grande preocupação na
comunidade evangélica. As lideranças religiosas estão num grande sofrimento
psíquico, independentemente de sua confissão religiosa. A dor emocional e
psíquica não se cura com citações dogmáticas religiosas, se cura mergulhando
nas próprias emoções de forma responsável e amparado por quem já percorreu o
mesmo caminho. Dados
apontam que no clero católico brasileiro entre os anos de 2017 e 2018 houve
vinte casos de suicídios e dia após dia presenciamos presbíteros tentando e
conseguindo tirar a própria vida, somando-se até julho de 2021 cinco novos casos
confirmados. Ademais, nos vemos circunscritos na pandemia da Covid-19 que
ceifou e ainda ceifa milhares de vidas. Escreveu Alberto Camus: “o suicida
prepara o suicídio como uma obra de arte”. E nós não observamos a preparação
porque nossas relações estão cada vez mais destituídas de afeto e mais
competitivas. Quando a obra de arte está pronta nos espantamos de pavor e nos
silenciamos até a próxima vítima. O
desencanto pela própria vida e o ministério presbiteral evidencia-se no abuso
do álcool, aumento do número de obesos e diabéticos, pressão arterial
descontrolada e aumento de cardiopatias, isolamento e reclusão, vida sexual
perversiva, ações heroicas inócuas, excesso de atividades sem o devido descanso
causando exaustão física e psíquica, depressão e ansiedade, e consequentemente,
um aumento de membros do clero tomando fármacos como ansiolíticos e hipnóticos.
É preciso lembrar alerta Gabo Mate que “as doenças decorrem do padrão,
estilo de vida que uma pessoa desenvolve na vida. As doenças aparecem como
característica do estilo de vida, que é vivido de forma inconsciente. Doença
não é uma entidade fixa, é um processo que não está separado da vida da pessoa.’ É perceptível o expressivo adoecimento psíquico dos presbíteros no
Brasil sem o suporte necessário, e o crescimento da espiritualidade alienante
poderá levar mais cedo ou mais tarde ao aumento de casos de suicídio e surtos
psicóticos. As evidências estão nos corpos dos presbíteros, “eu sou o meu
corpo” e ao contrário do que foi dito: “quem vê cara não vê coração”, engana-se,
“quem vê cara, vê coração”. Tudo está presente em nosso corpo, ou seja, dores,
alegrias, traumas, desejos e frustrações. Nossa identidade é expressa no corpo,
tudo em nós realizado ou frustrado, pensado ou suprimido, se fez carne. A mente,
mente, o corpo sempre diz a verdade. Nos corpos sagrados do clero, por serem humanos, porque todos os corpos
são sagrados e toda carne é sagrada, está escrito os traumas. Os líderes
religiosos pagam um alto preço ao esquecerem seu corpo, afinal a carne é
sagrada e Templo do Espírito. Assim, a sacralidade da carne ocupa no ato de fé
um lugar privilegiado, “creio na ressurreição da carne”, a alma se expressar no
corpo. Logo, cuidando do corpo com equilíbrio, teremos o corpo que merecemos,
uma vida saudável. Os presbíteros são seres desejantes e desejados, que agindo “in persona
Christi” em momentos litúrgicos continuam humanos. No entanto, alguns
presbíteros usurpam a “imagem divina”, apegando-se a ela como sua primeira
expressão. Essa ação é contraria a de Jesus que se expressou em plenitude em
sua humanidade. Desejando se tornar humano o Verbo se fez Carne, ou seja, toda
carne é santificada e sagrada. Assim, o presbítero que despreza sua humanidade comunica
a imagem de um ser perfeito e mítico através das vestes litúrgicas e de certos
ritos arcaicos. Isso é uma imagem fantasiosa, a comunicação corporal sob as
vestes é real e a comunicação verbal passa por filtros sociais, “a mente, mente”,
mas a corporeidade exprime fatos. A imagem fantasiosa comunicada aos fiéis é creditada dentro do sistema
de crenças do qual ambos pertencem. Assim, num ciclo crescente de tenção
psíquica e emocional evidencia-se esgotamentos e sofrimentos, fantasias e desencanto,
decorrentes da cisão psíquica original. Muitos fiéis acreditam na “imagem
perfeita”, e por acreditarem, fazem exigências sobre-humanas ao presbítero para
suprimir suas carências existenciais. Desse modo, os presbíteros por serem
meramente humanos não podem satisfazer as necessidades dos outros, porque nem
conseguem satisfazer as suas próprias necessidades. No entanto, impelidos pelo
sistema de crenças do qual pertencem, que é do sacrifício, se lançam em satisfazer
as necessidades infantis dos fiéis, surgindo assim, a sensação de impotência por
parte do presbitério, porque nunca irá satisfazer as necessidades infantis advindas
dos fiéis. Há nesse momento a frustração por parte do fiel por ter projetado no
presbítero a figura heroica do pai perfeito que não teve na infância, e que é
desfeita ao se deparar com a realidade humana do presbítero. Na minha
observação as carências existenciais dos fiéis têm como gêneses a relação
primitiva com seus genitores, na maioria das vezes traumática, a mesma realidade
foi a do presbítero com seus genitores. Assim, é estabelecido um relacionamento
simbiótico destrutivo, pautado numa relação abusiva, desgastante e perigosa. O presbítero ao se colocar ou ser colocado no
lugar do pai idealizado do fiel, a imagem idealizada do pai biológico, estará
em risco de experimentar sentimentos de frustrações e agressões, críticas
infundadas por parte dos fiéis, porque ele nunca irá satisfazer as necessidades
infantis projetadas. O presbítero ao ser chamado de pai ocupa na psique do
fiel, uma imagem fantasiosa do pai ideal e da mãe ideal, e expressando-se
paternalmente e maternalmente cria um emaranhamento nas relações presbítero-fiel,
sendo a mesma relação conturbada, reproduzida entre padre-bispo. Agindo com atenção afetuosa chama o fiel de filho ou filha e não de
irmão, “carregando” as dores dos que o procuram, assim diz a música: “meu cansaço
que a outros descansem”, assumem um lugar difícil. Idealizado como um pai
espiritual, pai espiritual não tem defeitos, diferentemente dos pais reais que tem
defeitos, contradições, erram, tem traumas, tem vícios. O pai espiritual
idealizado é sem defeitos, sempre disponível e presente, não dorme, não come,
não tem necessidades, não chora, não sente desejos sexuais, sempre
disponível para satisfazer as necessidades infantis, satisfação de
necessidade que o fiel não teve em sua infância, que seus pais não puderam dar.
Portanto, projeta-se nesse homem, ou melhor na imagem do pai idealizado
e espiritual, algo que ele não pode dar por mais que se esforce. A idealização
é a negação da realidade como foi e como é, a idealização colabora no alívio da
ansiedade infantil, mas não põe fim a ansiedade. Um possível caminho de solução
é presbíteros e fiéis se relacionarem como adultos e cada um no seu lugar de
direito dentro da instituição, numa relação cooperativa ao invés de competitiva.
Isso exige trilhar o caminho da maturidade psíquica-emocional-espiritual, o caminho
da sabedoria do bem viver e da humildade. Imagem e realidade As vestes clericais e/ou roupas litúrgicas não escondem os corpos
adoecidos dos presbíteros. As vestes sacras arcaicas retiradas do baú
tridentino, carregados de bordados e brocados chamam atenção, podendo funcionar
como uma distração para com a insegurança existente, e por conseguinte, podendo
ser uma afirmação de um poder de mando exercido para subjugar e não servir,
estabelecendo assim, uma relação simbiótica destrutiva, expressa em um poder
abusivo. A indústria fashion litúrgica gera grandes lucros, fazendo surgir um
paradoxo entre a simplicidade evangélica e o apelo interno do presbítero de ser
notado e visto no “palco do altar” de forma espetacular. Nos corpos de dois expressivos presbíteros da geração midiática estava
presente, por mais que as roupas sacras tentassem ocultar, um sofrimento
psíquico profundo prestes a se pronunciar de forma avassaladora. Os dois homens
tiveram a coragem, possivelmente movidos pela dificuldade de não conseguirem
disfarçar o sofrimento psíquico-emocional, de tornar público o que era ofuscado
pelos holofotes e câmeras midiáticas, buscando um deles a ajuda profissional
diante de um quadro depressivo e o outro, a ajuda profissional diante de um
quadro de ansiedade. As pessoas de vida pública pagam um preço alto pelo status
midiático, e os homens religiosos que buscam os holofotes um preço
hercúleo. A verbalização da dor possibilitou o início da cura. O
que era negado estava saindo de controle, se tornando mais forte, possuindo-os,
e isso é o sentido da palavra possessão, ser dominado por uma força que não se
tem controle, uma força destrutiva, onde a única forma de exorcizá-la é
descobrindo o nome da força estranha que está no controle, pronunciando-a.
“Qual o teu nome?”, perguntou Jesus a um homem possuído, porque o demônio não
suporta ouvir o próprio nome. Ele não revelou seu nome, disse que era legião,
porque eram muitos. Ao nomear o que é de verdade, a pessoa se liberta. Logo, nomear os demônios pedindo que eles se pronunciem, estando atento ao
que dizem, é o princípio do exorcismo. Esse exorcismo é considerado exitoso quando
dito o nome certo da entidade. Somente ao nomeá-lo corretamente é dado início a
efetiva cura, iniciada na nomeação da depressão e não da tristeza, da tristeza
e não do cansaço. Dizer o que é constitui o princípio da cura, a verdade evidencia
a realidade, dissipando a fantasia, o que é admitido perde força, sendo esse o
caminho para uma psique saudável. O próprio Cristo disse que a verdade liberta
e a dissimulação aprisiona. A síndrome do pânico e a depressão andam de mãos dadas, depressão e
síndrome do pânico são primas-irmãs. Essas duas patologias estão presentes no
clero local e do Brasil, sendo mais evidente nos neo-presbíteros, que como
filhos desse tempo tem mais intolerância as frustrações, tornando-os menos
resilientes. Douton Fé disse: “ser resiliente é ter a capacidade de possuir uma
conduta sã num ambiente insano, ou seja, a capacidade de um indivíduo sobrepor-se
positivamente frente as adversidades”. Interação como solução Willian Cesar Castilho Pereira psicólogo clínico e professor da PUCMG, na
sua obra intitulada Sofrimento Psíquico dos Presbítero: Dor Institucional, pela
editora vozes 2012, aborda diversas questões sobre o adoecimento do clero, apontando
soluções do caminho a ser percorrido no exercício do ministério, sendo este caminho,
o autoconhecimento e a convivência fraterna dos presbíteros num espírito de
cooperação e não de competição. A convivência humana é sempre um desafio,
porque na maioria das vezes estabelecemos vínculos simbióticos destrutivos. No
entanto, para estabelecermos vínculos simbióticos construtivos temos que curar
nossos traumas mais profundos e isso exige coragem, trabalho e perseverança no processo
de autoconhecimento. Franz Ruppert observa em suas pesquisas outro relevante aspecto que
contribui para nossa atual reflexão. Quanto mais profundo e primitivo o trauma
mais difícil se torna lembrar de fatos da infância, e quanto mais negamos a
existência de traumas pessoais, familiares e institucionais, mais traumatizados
somos. Assim, expressamos nas relações nossos traumas, travamos relações tóxicas,
destrutivas e competitivas, consequências do trauma. O sintoma expresso no corpo dos presbíteros está encapsulado na alma, na
psique forjada em primeiro lugar na relação com a mãe, posteriormente forjada com
os demais membros da família de origem. A gênesis do sofrimento psíquico é
multifatorial, no entanto as novas observações apontam para um fator decisivo, a
relação simbiótica destrutiva da mãe com seus filhos gerando traumas para toda
vida. Isso decorre da dificuldade da mãe em satisfazer as necessidades reais da
criança, a começar do período intrauterino. A qualidade do processo psíquico de simbiose e autonomia que a criança
estabelece com sua mãe determinará uma psique saudável ou traumatizada, que se
perpetuará na vida numa constante reedição presente nas relações amorosas,
relações de trabalho, de poder, amizade e relações institucionais. Mudarão os cenários,
mas o roteiro permanecerá. Sendo uma síndrome psíquica mais cedo ou mais tarde
ela se manifestará, por meio das estratégias de sobrevivência e de patologias
psicossomáticas, ou seja, tarefas adiadas geralmente dão mais trabalho para
serem executadas. Observo nos corpos da maioria dos presbíteros que a ferida presente na
psique gera vínculos simbióticos destrutivos, e quem está ferido fere. Algumas vezes se colocam como
vítimas, conseguindo assim, muitos adeptos numa espécie de rede de proteção e manipulação
sobre seus subordinados diante de seus opositores. A vítima consegue mais
aliados do que o perpetrador. Quem se torna vítima tem mais força de atração
solidária, quem se torna vítima tem um grande poder. Outras vezes se tornam
autoritários, reivindicando uma subserviência dos fiéis, inquestionáveis como
homens da verdade absoluta ditada pelo próprio Deus, se valendo de
interpretações pessoais dos dogmas da Igreja, como fundamento do autoritarismo.
Em ambas as situações o líder religioso se isola e não consegue tecer uma
convivência interativa. Essas estratégias de sobrevivência expressam quanto crônico
está o trauma e o sofrimento psíquico.
O sofrimento que teve origem numa família traumatizada é perpetuado numa
estrutura institucional traumatizada, ambas adoecidas. O grau do sofrimento se
evidencia na disputa pelo poder entre os membros do clero e na relação tóxica
com o superior ou bispo. O epíscopo com a psique traumatizada pode representar
o poder farisaico, exercendo uma relação de poder abusiva com seu clero, e o
clero uma relação abusiva com os fiéis. O
enredo da história de poder abusivo da infância com os pais, se repete nas
relações como adulto. O cenário dos
primeiros traumas não é o mesmo, mas, o enredo sim. Portanto, caso o superior ou o bispo tenham uma psique saudável, exercerão
um poder de serviço cooperativo e uma relação simbiótica construtiva, evitando
por sua vez relações tóxicas e projeções fantasiosas que os pressionem a
ostentar a figura do pai biológico idealizado, que o padre e os fiéis não
tiveram. Há de se fazer memória que Jesus e os discípulos sustentaram uma
relação fraterna e cooperativa, evitando qualquer tipo de poder destrutivo,
legalista. Assim, a forma que aprendemos a lidar, a negociar na família, pelo
amor de nossos pais, é a forma que lidamos como adultos nas relações de
amizades, parcerias e com quem exercemos algum tipo de poder nas relações
institucionais e de trabalho. Caso a relação com os pais tenha sido saudável
teremos relações saudáveis como adultos, se foram traumatizantes teremos relações
de vítimas e perpetradores, relações simbióticas destrutivas. Sociedade traumatizada A sociedade produz doenças e a indústria farmacêutica com seus lucros
bilionários apresenta a felicidade em comprimidos. Queremos comprar a
felicidade e o bem estar em capsulas, isso não é possível. Não que as
medicações devem ser abandonadas, elas são suportes terapêuticos importantes,
mas, a cura não está nos fármacos e sim na alma, na superação da cisão criada
pelo trauma na psique. Se um indivíduo com tendências ao suicídio somente tomar
psicotrópicos e não fazer uma psicoterapia que integre seu mundo interior, não
irá resolver o problema, somente irá adiar o evento trágico. A Igreja quanto
instituição é formada por membros das famílias que compõem essa sociedade
traumatizada, os eventos traumáticos são sistêmicos. A Igreja e as famílias não
constituem uma bolha imune ao que passa na sociedade, a Igreja também é uma instituição
que apresenta traumas profundos e traumatizada frequentemente traumatiza. O padre Eugen Drewermann, estudioso psicoterapeuta, fez uma observação
que custou a sua condenação pelo bispo de Paderbom na Alemanha, afirmou: “nas
minhas análises psicoterapêuticas, vejo como as pessoas têm uma imagem de Deus,
transmitida pela Igreja, cheia de repressão, de angustia, de sentimento de
culpa, de dependência e de despersonalização(...) quando os homens começam a
falar de Deus, imediatamente nascem angustias infantis ligadas ao pai, à mãe,
símbolos que a Igreja instrumentalizou de forma psicologicamente negativa(...).Portanto,
é a mesma Igreja que pretende ainda fixar hoje a verdade das pessoas e da sua
salvação em fórmulas administrativas, em jogo de linguagem pré-fabricados e
esclerosados(...). A síntese que procuramos fazer entre certa razão moderna e a
fé é considerada a mais perigosa ameaça. Por isso, o mal é grave: a um Deus
objetivado num discurso frio, opressor, corresponde um homem-sujeito do sistema
burocrático e moralista da Igreja. Diante dessa realidade, desse mal-estar que
afeta o clero e os leigos, disse: “estamos diante de um autêntico burnout
psicoeclesial nas comunidades religiosas masculinas e femininas, diocesanas,
interparoquiais (vicariais) e paroquiais”. Torna-se necessário, apesar do medo de olhar para a realidade
traumatizada dos membros da Igreja, da própria instituição, conhecer
diagnosticar e intervir sob pena de maiores danos. Na obra organizada por M.
Bruscaglioni e E. Spaltro Angeli, é afirmado: “conhecer, diagnosticar e
intervir provocam medos e resistências. Nós nos defendemos do diagnóstico, ou
seja, do nosso conhecimento e do conhecimento dos outros. As dificuldades de
diagnosticar podem também ser entendidas como resistência à mudança(...). Para
afirmar claramente o conceito-base de todo diagnostico e intervenção
psicológica é preciso afirmar que eles devem ser feitos com o homem e não sobre
o homem. Intervenção significa entrar em relação interpessoal, social e
coletiva, ou seja, construir liames, conhecimento metablético. Ser agente de mudança significa determinar
mutações com outros homens-sujeitos e não sobre outros homens-objetos. Caso
contrário, tudo acaba em violência, ou seja, objetivação, reificação, negação
da subjetividade do homem. Preparar-se para o diagnóstico e para a intervenção
psicológica significa habilitar-se a sustentar relações interpessoais, sociais e
coletivas, ou seja, de pares, de pequeno grupo e de grande organização-instituição”. Conclusão Penso que podemos trilhar um caminho de superação dos traumas e
conseguintemente das relações de competitividade toxicas, acessando a parte
saudável da nossa psique, aprendendo a identificar quais são nossas estratégias
de sobrevivência, sair da sobrevivência para o viver. Disse Antônio machado, poeta espanhol, “caminante, no hay camino, se hace caminho al
andar. Al andar se hace el camino”. Circunscritos nesse contexto, devemos
caminhar no trabalho de psicoterapia individual ou em grupo, a começar no
período formativo dos presbíteros. Retomar a figura do orientador e confessor pessoal, precisamos de um
espaço seguro para abrir o coração. Redescobrir os textos dos primeiros padres
da Igreja que são luzes para os dias obscuros que vivemos. Eles foram
criativos, usaram sua inteligência emocional e olharam para seus medos, dúvidas
e traumas. Hoje temos muito acesso as informações com profundos conteúdos, mas
falta sabedoria e essa vem da experiência do viver que inclui erros e acertos,
sabedoria é experiência e não teoria. Para tanto, é necessário honrar os membros
mais antigos do clero, eles chegaram primeiro na ordem do tempo na instituição,
os clérigos mais velhos têm naturalmente uma precedência de tempo no grupo dos
presbíteros, não se trata de mensurar dignidade, todos os membros do clero têm
a mesma dignidade, os mais velhos trazem a experiência, um conhecimento que
devem ser compartilhado como aprendizado, sendo a memória do grupo clerical. Os mais novos, os que chegam no grupo presbiteral evoluem, aperfeiçoam a
história com sua criatividade, energia, e tomando o bastão seguem, até que um
dia também terão que passá-lo adiante. É necessário cada um permanecer no seu
lugar de direito regido pelo tempo, numa postura de diálogo e cultivo de
sentimentos, de ternura mútua. Quando essa
ordem não é respeitada num grupo/numa instituição, o sistema organizacional do
grupo entra em colapso e nenhum projeto de conjunto terá êxito. Fazer a devida intervenção quando necessário, de forma proativa e não
reativa, intervindo fraternalmente e sem medo nos desequilíbrios de alguns
membros do clero e lideranças leigas, o Papa Francisco tem dado o exemplo
cortando na própria carne quando necessário nos casos de escândalos que abalam
a Igreja. Não se trata de uma exclusão e sim de reparação. Sair da postura da competição pastoral e de lugar de poder
administrativo, passar para uma postura cooperativa em todos os níveis de
convivência. Ser menos juízes e mais acolhedores e misericordiosos. Realizar o
caminho fecundo da mística, possibilitando o surgimento em primeiro lugar de
pastores. Um fiel disse-me certa vez, eu quero um padre pastor em primeiro
lugar e não um padre administrador, não quero um empreendedor de “empresa
eclesial”, as paroquias não são empresas, constituem espaço sagrado de convivência
fraterna e celebrativa. Portanto, quanto mais a administração ficar nas mãos de leigos idôneos e
competentes mais os padres terão tempo de serem pastores. O bispo precisa sair
da posição paternalista e tratar os padres como adultos e os presbíteros se
comportarem como adultos perante o bispo evitando projeções infantis. O
presbítero deverá ter a mesma postura de adulto perante seus fiéis tratando-os
também como adultos, tecendo uma relação fraterna e dialogal, sem a presença do
medo e da subserviência, dando lugar a ternura e ao respeito mútuo, ao diálogo
maduro e a ação colegiada, somos seres gregários e interdependentes. É
impensável no complexo mundo que vivemos alguém ter uma ação produtiva sozinha
de efetiva produtividade pastoral. Ousar percorrer o caminho do mundo interno,
os místicos e os padres do deserto trilharam esse caminho, caminho de
acolhimento do joio e do trigo plantado na terra do coração, no cultivo da boa
semente atento ao joio, comtemplando a beleza do trigo que cresce e produz seus
frutos no tempo certo. Os padres do deserto e místicos tinham uma psique
saudável, um mundo interno e emocional integro, atuando e olhando para a vida
de forma real e sem fantasias. Pedro Camilo
BIBLIOGRAFIA BRUSCAGLIONI, M. E. SPALTRO, A. Il
método dela psicologia dell`organizzazione ed
i livelli di funcionamento sociale, em La psicologia organizativa,
Editora Franco Angeli,1982, p. 43-44. CAMPOS, A. Poesias de Álvaro de
Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: ÁTICA, 1944 (imp.1933), - 252. 1ª publ. In
Presença, nº 39. Coimbra: Jul. 1933. Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/163>. Acesso em: 22 de setembro de 2020. CAPPELLI, Piero, O cisma
silencioso, da casta clerical à profecia da fé, Editora Paulus, 1ª edição,
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1995. PEREIRA.W.C.C.P. Sofrimento psíquico dos
presbíteros: Dor institucional. Editora Vozes, 4ª edição, 2012, p.544.
RUPPERT, F. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos- O Trauma da Dependência e a
Busca da Integração Pessoal. Editora Cultrix, 1ª edição, 2012, p.
272. RUPPERT, F. ¿Quién soy yo en una sociedad traumatizada? Cómo las dinámicas
víctima-agresor determinan nuestra vida y cómo liberarnos de ellas. Herder editorial, 1ª edição, 2019. P. 216.
RUPPERT, F. My Body,
My Trauma, My I: Constellating our intentions – exiting our traumabiography. Editora Green Balloon Publishing, 2018, p.
378.
SCHINEIDER, J.R. Origem, Destino e Liberdade- O inconsciente grupal
em sistemas e constelações familiares. Editora Atman, 2019. SCHINEIDER, J.R. A prática das Constelações Familiares. Editora Atman,
Wilhelm Reich: Análise do Caráter- Editora Parma, 2013. Autor: Pedro Camilo, padre e
psicoterapeuta. Revisora do texto: Verônica Santana Epifânio, professora,
pedagoga e mestranda em educação, com ênfase em políticas da educação/alfabetização
e processo de alfabetização, pelo Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE)
/ UFES.
RELIGIOSOS E SEUS CORPOS ADOECIDOS16/08/2021 19:24:47 Observo o fenômeno do adoecimento psicossomático das liderançasreligiosas há anos. No inconsciente do grupo dos clérigos, existe a crença queas dores físicas são um holocausto agradável a Deus para purificar a alma, sendonecessário submeter o corpo sob a razão e alienando o corpo para salvar a alma.Deus não é sádico e a dor física patológica é uma afronta ao mistério salvífico.Nessa crença demasia... INDICAÇÃO DE LIVROS10/08/2021 22:09:41 FENOMENOLOGIA
E CONSTELAÇÕES FAMILIARES: introdução a alguns conceitos fundamentais Autores:
Edebrande Cavalieri Sinopse: Bert Hellinger, criador do método psicoterapêutico
das Constelações Familiares, tomou como embasamento filosófico a fenomenologia
de Edmund Husserl. Esta obra tem por objetivo mostrar os principais conceitos
da fenomenologia husserliana e seu aproveitamento na sistematização de Bert
Hellinger. Além disso, esse trabalho decorre de um curso oferecido a
profissionais consteladores e nesse sentido guarda um caráter de flexibilidade,
sem obrigatoriedade de seguir um caminho rígido. Pode ser estudado sob a forma de
ziguezague, pois em cursos as demandas e dificuldades dos alunos exigem do
professor essa capacidade de ir à frente e retornar. Entre os conceitos da
fenomenologia que consideramos mais importantes para as constelações
familiares, podemos destacar a intencionalidade da consciência, o mecanismo das
reduções, a intersubjetividade, a transcendentalidade e as constituições ativa,
genética e passiva. Por fim, inspirados na fenomenologia husserliana e nas
constelações familiares e em sintonia com as demandas dos dias atuais, tocamos
no tema da vida ética. Pois fenomenólogos e consteladores podem ser
considerados, como dizia Husserl, “funcionários da humanidade”, cuidando de sua
renovação e cura. O
autor EDEBRANDE CAVALIERI é Professor Titular da Universidade Federal do
Espírito Santo na área de Filosofia por 33 anos. Doutor em Ciências da Religião
pela UMESP-SP e autor dos livros: Via a-teia para Deus e a ética teleológica a
partir de Edmund Husserl, EDUFES, 2012; Estudos de Fenomenologia da Religião,
CRV, 2018; Ética e Religião, CRV, 2016; Conjuntura eclesial e religiosa, CRV,
2020. Para adquirir entre em contato com o Prof.
EDEBRANDE CAVALIERI pelo telefone: +55 27 99989-6254 MEU CORPO, MEU TRAUMA, MEU EU - Estabelecendo intenções. Saindo da traumobiografia.Este livro contempla a conexão entre as doenças do corpo e os traumas que vivemos. Os psicotraumas sofridos na tenra infância ou na fase adulta deixam marcas que se manifestam através de sintomas físicos. A visão integrada da mente e do corpo pode revelar o ingrediente desencadeador das nossas doenças e mostrar em que medida isso seria previsível. Neste
livro é apresentada uma versão atualizada da teoria de Franz Ruppert desde a
publicação do livro? Autonomia e Simbiose nos Relacionamentos: O Trauma da
Dependência e a Busca da Integração Pessoal?, publicado em 2012. É apresentado o Método da Intenção nos Encontros Consigo Próprio ou Constelações da Intenção. É um livro útil para quem tem interesse em conhecer a si próprio, ou para quem pretende utilizar mais uma ferramenta para aprofundar os processos dos seus clientes em terapia, assim como para estudantes e praticantes da Teoria e Terapia do Psicotrauma orientado para a Identidade - IoPT. Para adquirir este livro acesse: http://liabertuol.com.br/livro QUEM SOU EU EM UMA SOCIEDADE TRAUMATIZADA?Diante da situação social de conflitos, presente nas nações, Franz Ruppert se fez várias perguntas como: " Quem sou eu e o que quero?" Quem sou eu numa sociedade traumatizada onde as relações são pautadas na competição e não na cooperação? Mudar a sociedade não nasce das mudanças estruturais econômicas e políticas nasce da mudança da estrutura psíquica. A sociedade é traumatizada porque seus indivíduos estão traumatizados. Somente com a quebra do círculo vicioso entre perpetrador e vítimas, chegaremos numa sociedade cooperativa e justa. Essa obra proporciona um mergulho na psiquê traumatizada de cada um de nós e consequentemente nas relações traumatizadas e traumatizante. As luzes que o autor lança nos traumas que nos conduzem nas relações simbióticas e destrutivas perpetrador/vítimas. A mudança nasce do interior.
Para adquirir esse Livro entre em contato: Maria Justina pelo Whatsapp 54 9973-5583 Simbiose e
Autonomia nos Relacionamentos: O Trauma Da Dependência E A Busca Da Integração
PessoalFranz
Ruppert investiga como o processo simbiótico original com a mãe pode causar na
criança um trauma primitivo, levando a uma divisão prematura em sua vida
psíquica que a impedirá de desenvolver uma identidade própria e a manterá
dependente durante toda a vida. Um trabalho terapêutico para reintegrar essa
divisão original é imprescindível para que ela possa superar, na idade adulta,
os problemas psíquicos nascidos daí. Esse livro mostra como esse processo de
integração da divisão original pode ser realizado com base no método das
constelações familiares, desenvolvido inicialmente de acordo com o modelo de
seu criador, Bert Hellinger, e posteriormente enriquecido pelas inovações
introduzidas pelo autor. Editora: Cultrix
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livro você encontra nas melhores livrarias.
INDICAÇÃO DE LIVROS10/08/2021 22:09:41 FENOMENOLOGIAE CONSTELAÇÕES FAMILIARES: introdução a alguns conceitos fundamentais Autores:Edebrande Cavalieri Sinopse: Bert Hellinger, criador do método psicoterapêuticodas Constelações Familiares, tomou como embasamento filosófico a fenomenologiade Edmund Husserl. Esta obra tem por objetivo mostrar os principais conceitosda fenomenologia husserliana e seu aproveitamento na sistematização de Bert... AULA 8: A DESCOBERTA DA TRANSCENDENTALIDADE29/01/2020 15:03:17 AULA 8: A DESCOBERTA DA TRANSCENDENTALIDADE No segundo parágrafo de Meditações cartesianas quando aborda a necessidade de um recomeço radical em filosofia que o caminho do filosofar exige prudência crítica e postura de se estar sempre pronto a transformar o antigo cartesianismo toda vez que for necessário, e, sobretudo, “evitar certos erros sedutores dos quais nem Descartes nem seus sucessores souberam evitar a armadilha” . Para Husserl, Descartes inaugura um “novo tipo de filosofia”, passando do objetivismo ingênuo da metafísica para um “subjetivismo transcendental”. Reconhece que desde o século XVIII a filosofia encontra-se num estado de decadência em relação a épocas anteriores. O que aconteceu? O mundo moderno presenciou a fé religiosa transformando-se em convenção externa e uma nova fé tratou de captar e pôr em destaque a humanidade intelectual. Trata-se da fé numa filosofia e numa ciência autônomas e assim, toda a cultura humana deveria ser guiada e esclarecida por visões científicas. Mas, essa nova fé empobreceu, deixando de ser uma fé verdadeira. A filosofia cresceu muito, mas não se encontra nela qualquer ligação interna. O que se tem são pseudo-exposições, pseudo-críticas. E, conclui o quadro real da situação: “Esforços recíprocos, consciência das responsabilidades, espírito de colaboração séria visando a resultados objetivamente válidos, ou seja, purificação pela crítica mútua e capazes de resistir a qualquer crítica posterior, nada disso existe” (HUSSERL, 2001, p. 23). A situação em que se vive nos tempos atuais é de penúria ainda maior no domínio do pensamento. O quadro da humanidade atual ficou ainda mais confuso e complexo. Do objetivismo cientificista ingressamos num caminho de notícias falsas, discursos falsos, decisões tomadas a partir de premissas nulas, que nem mesmo o campo do Direito ficou ileso. O que está determinando a capacidade de se sustentar é à força da argumentação que se ergue a partir da crença. Crer passou a substituir o compreender e o entender. As novas tecnologias de informação acabaram gestando uma sociedade apressada, que não suporta gastar muito tempo para pensar, ler ou escrever. Tudo deve ser desenvolvido em posts. Algumas figuras acabaram ganhando força nessa penúria intelectual e nem mais cuidado com as palavras ou com o pensamento racional organizado e sistematizado se preserva. São tempos de frases curtas, pensamentos curtos ou nenhum, decisões rápidas e impensadas. Então, é no quadro da crise do pensamento que nasceu a filosofia transcendental em Descartes e nesse mesmo quadro Husserl propõe um novo rumo, mas continuando o caminho aberto por Descartes, evitando contudo perder-se ou ser seduzido por alguma outra proposta. E onde se situa o momento tão elogiado por Husserl na filosofia cartesiana denominado de caminho transcendental? A fenomenologia é uma filosofia transcendental, mas diferente da filosofia kantiana. Em Descartes foi a descoberta do Ego cogito que caracterizou a inauguração moderna mais importante na filosofia. Ali está a transcendentalidade. Mas conforme Husserl, Descartes não explorou as possibilidades que essa dimensão daria para o pensamento. E seduzido pelas ciências, enveredou nos caminhos metodológicos. A fenomenologia também se inicia pelo Ego cogito, mas em razão da intencionalidade da consciência, teremos um Ego cogito cogitatum. Tem então um objeto intencionado que Husserl denomina de “guia transcendental”. Ora, conforme ele mesmo nos informa no parágrafo 21 de Meditações cartesianas o ponto de partida não estaria no ego cogito, mas o objeto simplesmente dado. Depois é que a consciência remonta ao modo de consciência correspondente e aos horizontes ali implicados. Assim como um objeto pode ser pensado, também pode ser fantasiado, imaginado, desejado, mantido na memória, enfim, na transcendentalidade encontra um horizonte infinito de dimensões que transformam e enriquecem. Nascem daí as diversas teorias: da percepção, da intuição, da significação, do julgamento, da vontade. Husserl lamenta como faltou a Descartes a orientação transcendental. Nas lavras de Husserl: Descartes “fez do ego cogito um axioma, uma substância cogitans separada, um mens sive animus humano, ponto de partida de raciocínios de causalidade. É essa confusão que fez de Descartes o pai do contrassenso filosófico, que é o realismo transcendental”. Afirma Husserl (2001, p. 98) que “Descartes não escapou por ter se enganado a respeito do sentido verdadeiro de sua epoché transcendental e da redução ao ego puro. Mas, a atitude habitual do pensamento pós-cartesiano é bem mais grosseira, precisamente por ter ignorado completamente a epoché cartesiana”. Ele tem o mérito de ter feito a maior das descobertas, porém não captou o sentido correto dessa descoberta, o sentido da subjetividade transcendental verdadeira. A fenomenologia é um caminho para a exploração do “campo infinito da experiência transcendental”. Todo cogito carrega consigo seu cogitatum. É por esse motivo que a consciência tem de ser uma consciência intencional, isto é, carregar sempre seu cogitatum. É o que veremos na aula a seguir.
AULA 8: A DESCOBERTA DA TRANSCENDENTALIDADE29/01/2020 15:03:17 AULA 8: A DESCOBERTA DA TRANSCENDENTALIDADE No segundo parágrafo de Meditações cartesianas quando aborda a necessidade de um recomeço radical em filosofia que o caminho do filosofar exige prudência crítica e postura de se estar sempre pronto a transformar o antigo cartesianismo toda vez que for necessário, e, sobretudo, “evitar certos erros sedutores dos quais nem Descartes nem seus sucessores so... AULA 7: PONTO DE PARTIDA DA FENOMENOLOGIA29/01/2020 14:49:52 AULA 7: PONTO DE PARTIDA DA FENOMENOLOGIA As Investigações Lógicas, escritas entre 1900 e 1901, são consideradas a obra inicial e fundamental como ponto de partida da fenomenologia. São três volumes que perfazem umas 900 páginas de texto denso e profundo. Os grandes estudiosos do pensamento husserliano tomaram esse texto como inicial e primordial para se conhecer a fenomenologia. Edith Stein testemunha que seu ingresso na fenomenologia se deu com a leitura dessa obra, determinando sua ida à cidade de Gottingen para estudar com o próprio Husserl. E é ali nessa obra que o mestre apresenta o ponto de partida comumente dito de maneira sintética como “voltas às coisas mesmas”. Na parte que trata das investigações para a fenomenologia e teoria do conhecimento que se propõe a esclarecer os fins a que tendem essas investigações, ele assim declara ao modo de uma convocação: Não queremos dar-nos por satisfeitos com meras palavras, isto é, com uma compreensão verbal meramente simbólica, como a que temos em nossas reflexões sobre o sentido das leis estabelecidas na lógica pura sobre conceitos, juízos, verdades, etc., com suas múltiplas particularidades. Não nos satisfazem significações que ganham vida – quando ganham – de intuições remotas, confusas, impróprias. Queremos retornar às coisas mesmas [grifo nosso]. Na língua alemã, esta frase grifada está assim escrita: Wirwollenauf die “Sachenselbst” zurückgehen! (HUSSERL,2001, p. 218) . Cena semelhante podemos encontrar na trajetória de René Descartes quando diz que se encontrava perdido entre dúvidas e erros, e que não conseguia encontrar coisa alguma para discutir que não fosse duvidosa. Até mesmo os saberes da matemática se apresentam de maneira confusa e obscura. Nesse sentido é extremamente significativo que Husserl no final da carreira escreve “Meditações cartesianas”, dando a entender que o caminho iniciado por Descartes com a descoberta da transcendentalidade deveria ser continuado, pois Descartes fora seduzido pelas ciências empíricas abandonando o projeto transcendental que mais a frente discutiremos. Em que consiste voltar às coisas mesmas? Não poderia significar um retorno às essências ao modo do que os escolásticos fizeram. Em Husserl, o retorno às coisas significa um ver face a face aos objetos do mundo, uma face a face do fenômeno. Deixar de lado, ou fazer uma epochéou na língua matemática que ele tanto conhecia um colocar entre parênteses sob a forma de suspensão do juízo. Trata-se de retornar às intuições mais originárias de onde emerge o conhecimento, um retorno àquilo que nos aparece como algo experimentado, vivido, conhecido, fantasiado, imaginado, pela consciência transcendental. É necessário “dar um tempo” aos pré-conceitos de toda ordem colocando-os em suspensão. Por exemplo: no campo da religião voltar às coisas mesmas significa experimentar o mundo sagrado antes dos ditos dos textos sagrados. Estes se referem a uma experiência vivida. O mesmo direito temos hoje de fazer antes essa experiência e depois nos confrontar com os textos sagrados. Vivemos num fundamentalismo radical que desconsidera qualquer possibilidade de nossa própria vivência. O que determina é a norma. Então, os olhares dos religiosos na atualidade sofrem da necessidade de uma redução, de uma suspensão. As pessoas hoje se guiam puramente pelos pré-conceitos abdicam da riqueza do caminho de voltar às coisas mesmas. Nas aulas do curso citei como exemplo o momento da chegada dos portugueses no Brasil em 1500. A primeira preocupação deles foi até motivo de envio de cartas a Portugal solicitando vestimentas, era o fato de os indígenas andarem nus. Para os portugueses, carregados de preconceitos morais já consolidados, andar nu era uma indecência, uma imoralidade. Por isso, era preciso cobrir as vergonhas dos indígenas. Nesse caso, voltar às coisas mesmas significa retornar à vivência estabelecida no andar nu dos indígenas. Até onde nos é permitido caracterizar o andar nu como imoral? Ou a imoralidade não estaria nos olhares preconceituosos do homem branco? [1] HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas. Vol. 1. Madrid: Alianza Editorial, 2001.
AULA 7: PONTO DE PARTIDA DA FENOMENOLOGIA29/01/2020 14:49:52 AULA 7: PONTO DE PARTIDA DA FENOMENOLOGIA As Investigações Lógicas, escritas entre 1900 e 1901, são consideradas a obra inicial e fundamental como ponto de partida da fenomenologia. São três volumes que perfazem umas 900 páginas de texto denso e profundo. Os grandes estudiosos do pensamento husserliano tomaram esse texto como inicial e primordial para se conhecer a fenomenologia. Edith Stein test... AULA 6: A FENOMENOLOGIA E SEU ENSINO17/01/2020 12:01:19 AULA 6: A FENOMENOLOGIA E SEU ENSINO Nesse ponto, muitos alunos iniciam os estudos de fenomenologia e aqui também abandonam. Conforme testemunha Martin Heidegger¹ , o ensino de Husserl era um exercício progressivo, bem como aprendizagem do “ver fenomenológico”. Em primeiro lugar, o mestre exigia a renúncia de qualquer uso não crítico de conhecimentos filosóficos, bem como a não trazer para o diálogo a autoridade dos grandes pensadores. Trata-se de não partir de pré-juízos, teorias já consolidadas. Era necessário estabelecer uma epoché (suspensão de juízos), como falaremos mais adiante. Heidegger confessa que não conseguia se afastar de Aristóteles e que o “ver fenomenológico” fecundava a interpretação dos textos desse pensador. O passo decisivo é caracterizar o que vem a ser esse “ver”. Como não se trata de uma corrente filosófica ou um sistema, caberá apenas ver a possibilidade do pensamento de corresponder ao apelo do que é pensado. Trata-se de verificar e compreender a fenomenologia como possibilidade. A fenomenologia se apresenta então como uma descrição do fenômeno produzida pela consciência intencional. Trata-se de atentar para o fluxo imanente das vivências que constitui a consciência. Aqui reside a condição a priori de possibilidade do conhecimento. Nota-se que não estamos no mesmo modo de tratar o entendimento a partir das formas a priori de espaço e tempo. O ver fenomenológico implicar em abrir os olhos para isso que estou vendo, para que a coisa percebida apareça no horizonte em que se mostra e nos limites em que se mostra. Não estamos falando de uma realidade objetiva ou subjetiva, pois a percepção não é uma faculdade que se encontra na interioridade. A percepção é puramente ato de perceber que ocorre no interior das relações intencionais. O ato de ver é um acontecimento do fenômeno. Merleau-Ponty seguindo as trilhas do ver fenomenológico vai tratar da percepção reduzindo inicialmente todas as teorias idealistas da percepção e da consciência, buscando os vetores internos ao fenômeno, que possibilitam ver o fenômeno em outras perspectivas, em outros perfis. E, sustenta que “é por meu corpo que compreendo o outro, assim como é por meu corpo que percebo as coisas” (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 25). O sentido de um gesto não se esconde no interior da consciência, mas se confunde com a estrutura do mundo que o gesto desenha. O mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo. E, por isso ele é um fenômeno inesgotável. Não há uma verdade interior a ser perscrutada, pois nem homem interior existe. O homem está no mundo e nele se conhece. É no mundo que se dá o “ver fenomenológico”. Então, a dificuldade para se conhecer a fenomenologia não está na ordem do entendimento. Enquanto a pessoa não conseguir ver fenomenologicamente as coisas irá ter dificuldades cada vez maiores nos estudos de fenomenologia. A primeira orientação que dou aos alunos para entender o pensamento fenomenológico está aqui – “vocês devem se esforçar para ver fenomenologicamente as coisas, os fenômenos”. Permanecer na atitude natural ou cientificista a pessoa cairá na impossibilidade absoluta de conhecer o pensamento fenomenológico. ¹ HEIDEGGER, Martin. Meu caminho para a fenomenologia. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 299.
AULA 6: A FENOMENOLOGIA E SEU ENSINO17/01/2020 12:01:19 AULA 6: A FENOMENOLOGIA E SEU ENSINO Nesse ponto, muitos alunos iniciam os estudos de fenomenologia e aqui também abandonam. Conforme testemunha Martin Heidegger¹ , o ensino de Husserl era um exercício progressivo, bem como aprendizagem do “ver fenomenológico”. Em primeiro lugar, o mestre exigia a renúncia de qualquer uso não crítico de conhecimentos filosóficos, bem como a não trazer para o diálo... AULA 5: CRÍTICA AO PSICOLOGISMO17/01/2020 11:54:41 AULA 5: CRÍTICA AO PSICOLOGISMO O ambiente científico em final do século XIX e início do século XX estava marcado pela disputa epistemológica entre dois grupos: os psicologistas e os logicistas. Em discussão estava a divergência quanto ao fundamento teórico que se dava para a ciência. Desta forma, Frege, Russell e outros lógicos empreendiam esforços para vincular a Matemática à Lógica e assim torná-la uma ciência sem contradições. Frege demonstrava em seus estudos como a Aritmética é pura lógica. E assim, enquanto a Lógica atestava o sistema de verdades matemáticas se teria conseguido escrever a Aritmética conforme um sistema lógico, sem contradições, verdadeiro. A empreitada era grande, pois esse trabalho deveria mostrar concretamente que todas as proposições matemáticas podem ser expressas na terminologia lógica e se deveria demonstrar também que todas as proposições matemáticas verdadeiras são as expressões verdadeiras para a lógica. O logicismo foi muito importante e se constituiu no ponto de partida para o desenvolvimento da Lógica Matemática Moderna. Um dos pensadores que servirá de fundamento para o psicologismo é o empirista John Stuart Mill. A tendência era de se abandonar os dados da intuição em vista da construção de sistemas formais e realizar assim a unificação da ciência. O Positivismo só piorou essa questão. Hussserl estava diante de uma oposição dura entre objetivismo e subjetivismo. Desenvolve-se a posição de um psicologismo lógico que objetivava assimilar a lógica à psicologia. Também poderíamos dizer da existência de um psicologismo semântico que reduz as significações linguísticas às entidades psicológicas e um psicologismo epistemológico que reduz o conhecimento a um processo psicológico. Conforme Cavalieri¹ , as questões relativas ao sujeito e à subjetividade foram eliminadas da práxis científica. A psicologia considerava essas dimensões sob a ótica do naturalismo ou fisicalismo, de forma que ao se definir a consciência a considerava como um conjunto de reações físico-químicas que ocorriam no cérebro. Assim, os psicologistas defendiam que tanto a lógica quanto as demais ciências tinham sua fundamentação teórica na psicologia do pensamento. Portanto, tanto o objeto do conhecimento como o próprio pensamento eram reduzidos a fatos e operações psíquicas, desconsiderando a infraestrutura lógica do pensamento. Husserl inaugura a fenomenologia escrevendo entre os anos de 1900 e 1901 as Investigações lógicas. E, logo no primeiro volume se dedica inteiramente na análise da psicologia e do psicologismo. Para ele é impossível alcançar a apoditicidade (necessidade e universalidade) da verdade sem a idealidade das significações lógicas e das significações em geral. Por isso, as leis lógicas que são o sustentáculo da ciência não podem fundamentar-se na psicologia, que é uma ciência empírica, sem a precisão das regras lógicas. Assim, o psicologismo revela-se infrutífera, pois não consegue resolver o problema fundamental da teoria do conhecimento, ou seja, o problema de como é possível alcançar a objetividade. Como é possível que o sujeito cognoscente alcance com certeza e evidência uma realidade que lhe é exterior e cuja existência é heterogênea à sua? O psicologismo se origina do naturalismo e ambos tendem a anular a dualidade ou a diferença entre o sujeito e o objeto, afirmando que a única realidade é a natureza. Tudo é natural ou físico, a consciência é uma expressão vaga do que se costuma atribuir a eventos físico-fisiológicos ocorridos no cérebro e no sistema nervoso. Para o psicologismo tudo deveria ser reduzido a entidades empíricas observáveis e assim a teoria do conhecimento seria uma psicologia. O psíquico não é uma coisa, mas um fenômeno. O fenômeno é a consciência enquanto fluxo temporal de vivências e cuja peculiaridade é a imanência e a capacidade de outorgar significação às coisas exteriores. A consciência, sendo estudada em sua estrutura imanente ela surge como possibilidade do conhecimento, como consciência transcendental. A postura psicologista redunda na impossibilidade do conhecimento científico enquanto conhecimento universal e necessário. É um engano teórico que compromete a possibilidade do pensamento. Mas, o interesse de Husserl pela psicologia é muito grande e faz uma proposta de uma psicologia fenomenológica² que trata efetivamente da subjetividade e do psiquismo humana a partir da consciência intencional. Para ele, é preciso resgatar as bases filosóficas de uma ciência rigorosa do psíquico, superando assim a crise da psicologia positivista e cientificista. Esse projeto pela busca de uma psicologia fenomenológica está nas obras finais de seu pensamento: “Psicologia fenomenológica” de 1925; “Artigo da Enciclopédia Britânica” de 1927; “Conferências de Amsterdam” de 1928; e “A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental” de 1936. A filosofia é em todos os sentidos e de pleno direito a única ciência absolutamente rigorosa porque fornece a si própria os seus fundamentos e dos de todas as ciências, sejam elas, puras ou empíricas. ¹ CAVALIERI, Edebrande. A via a-teia para Deus e a ética teleológica
a partir de Edmund Husserl. Vitória: EDUFES, 2013. ² GOTO, T.A. Introdução à Psicologia Fenomenológica: A Nova Psicologia de Edmund Husserl. São Paulo: Paulus, 2015.
AULA 5: CRÍTICA AO PSICOLOGISMO17/01/2020 11:54:41 AULA 5: CRÍTICA AO PSICOLOGISMO O ambiente científico em final do século XIX e início do século XX estava marcado pela disputa epistemológica entre dois grupos: os psicologistas e os logicistas. Em discussão estava a divergência quanto ao fundamento teórico que se dava para a ciência. Desta forma, Frege, Russell e outros lógicos empreendiam esforços para vincular a Matemática à Lógica e assim torn... AULA 4: PONTO DE PARTIDA DO FILOSOFAR17/01/2020 11:42:08 AULA 4: PONTO DE PARTIDA DO FILOSOFAR Husserl está convencido que a primeira forma de relação do homem com o mundo não se situa na ordem do conhecimento ou da representação, pois nossa compreensão de mundo é anterior às determinações científicas. Essa certeza é fundamental para o ato de iniciar a filosofar. Não se começa com as representações, com os conceitos. A filosofia, para ele, tinha uma função especial, de criar uma “nova forma cultural” que estabelecesse “uma nova relação de convivência comunitária”. Assim, a comunidade profissional dos filósofos teria por tarefa dedicar-se a “uma movimento comunitário crescente em vista da educação, afirma Husserl (1996, p. 70-71). E esclarece:
A filosofia assim se torna um diálogo intersubjetivo e uma meditação infinita. Somos um laço de relações e nisso consiste a necessidade de uma reflexão que caminha de maneira intersubjetiva, e não uma meditação que ocorre e se desenvolve tão somente no espaço restrito e solitário de uma sala. A filosofia não pode tornar-se uma doutrina, pois assim não educaria, mas domesticaria. Não tornaria os homens livres. A filosofia só cumpre sua tarefa na medida em que torna e transforma as pessoas em seres livres. “A filosofia não torna livre apenas o filósofo, mas também qualquer homem que seja formado na filosofia” (HUSSERL, 1954, p. 6). Não uma liberdade como expressão de um indivíduo isolado. Ela nos obriga a buscar as diversas gêneses de sentido. O filósofo tenta pensar sempre o mundo, o outro e a si mesmo. Inclusive tenta pensar o transcendente, Deus¹ . Sobre isso, Husserl (1954, Hua VI, p. 5-6) nos oferece uma compreensão lapidar:
Foi por esse caminho que desenvolvi uma via não teológica para Deus, ou seja, sem ser negação, mas percorrendo os caminhos do mundo, da história, nessa teleologia que nos conduz ao bem. ____________________________ ¹ Conferir a tese de doutorado de Cavalieri, EDUFES, 2013: “A via a-teia para Deus e a ética fenomenológica a partir de Edmund Husserl”.
AULA 4: PONTO DE PARTIDA DO FILOSOFAR17/01/2020 11:42:08 AULA 4: PONTO DE PARTIDA DO FILOSOFAR Husserl está convencido que a primeira forma de relação do homem com o mundo não se situa na ordem do conhecimento ou da representação, pois nossa compreensão de mundo é anterior às determinações científicas. Essa certeza é fundamental para o ato de iniciar a filosofar. Não se começa com as representações, com os conceitos. A filosofia, para ele, tinha uma fun... AULA 3: O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO17/01/2020 11:34:13 AULA 3: O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO Muitas estudantes cometem equívocos ao considerar que um ou outro autor com algumas obras expressam o que vem a ser a fenomenologia. Acabam reduzindo erroneamente e compreendendo erradamente as principais ideias da fenomenologia. Herbert Spiegelberg¹ foi muito certeiro ao caracterizar a fenomenologia como “movimento”. Edmund Husserl (1859-1938) A fenomenologia teve início com Edmund Husserl, apesar de o termo já ser conhecido dos meios acadêmicos. O termo apareceu pela primeira vez no século XVIII com Christian Wolff que se referia a uma espécie de teoria da ilusão. Depois, Kant também utilizou desse termo indicando como disciplina propedêutica à metafísica. E em Hegel o termo aparece como título da sua maior obra – Fenomenologia do Espírito. Em algumas conferências de Franz Brentano também aparece na reflexão a respeito da metafísica. Mas Husserl não se vincula a nenhum conceito anterior para o uso do termo “fenomenologia”. Husserl nasceu em 08 de abril de 1859 em Prossnitz (Morávia), de origem judaica, mas nunca seguiu a religião, tendo mais tarde se convertido ao luteranismo por ocasião de seu casamento com Malvina. Essa conversão ao luteranismo tem outro motivo mais profundo. Para ele o cristianismo tem um sentido de universalização, pois não se prende um determinado grupo étnico, racial ou cultural. Todos podem ser cristãos. Isso está de acordo com a filosofia, também saber universal que supera os limites. Cristianismo e filosofia se equivalem em termos de universalidade de atitudes. Seus estudos superiores foram na direção da astronomia e matemática, inclusive seu doutoramento foi sobre o cálculo das variações em Karl Weierstrass. Teve a oportunidade de ouvir o filósofo Friedrich Paulsen sobre lições de ética e ficou muito impressionado. Da matemática aprendeu algo muito importante para a filosofia. Para ele, esse saber deveria buscar sempre a clareza e a evidência. Estudou com Karl Stumpf e sob sua orientação publicou a obra Sobre o conceito de número, que sofreu grande crítica do matemático G. Frege. A partir daí sua busca se direcionou para a escola de Franz Brentano. Foi ali que aconteceu uma guinada no pensamento de Husserl. Acrescentam-se ainda os estudos sobre o Conceito humano de mundo de Richard Avenarius e a Análise das sensações de Ernst Mach. Quando se lê as Investigações lógicas é possível encontrar aí o diálogo de Husserl com todos esses autores. O próprio Husserl em suas conferências de Amsterdam em 1928 confessa que a sua fenomenologia pode ser compreendida como uma “certa radicalização de um método fenomenológico desenvolvido e praticado anteriormente por certos pesquisadores das ciências da natureza e certos psicólogos²” . Entre os cientistas da natureza estão Ernst Mach e Ewald Hering; e entre os psicólogos já é por demais conhecida a influência de Franz Brentano. Na obra: Os problemas fundamentais da fenomenologia Husserl indica que o primeiro germe da redução fenomenológica estaria em J. S. Mill. O que nos chama a atenção é que as críticas presentes em Prolegômenos à lógica pura são dirigidas a Mach e Mill. Mas, reconhece neles principalmente nas últimas obras a gênese de sua própria fenomenologia. Isso nos convoca a estudarmos diversos autores em outras áreas do conhecimento para entendermos a fenomenologia hussserliana. A primeira experiência de Husserl como docente aconteceu na universidade de Halle (1887-1901), mas não como professor titular. A situação econômica da família nessa época não era das melhores. E aqui sua pedagogia filosófica tinha uma característica que ele mesmo confessa: “Busco conduzir, não instruir³” . Depois, foi ensinar na Universidade de Leipzig e Freiburg, formando grupos de estudos da fenomenologia que se reunia às sextas-feiras na própria casa. Foi a partir dessa experiência de grupos de pesquisa que surgiram inúmeros outros mundo a fora. Os círculos fenomenológicos e sucessores na fenomenologia Os círculos fenomenológicos ampliaram e desenvolveram os horizontes da fenomenologia. Assim foram aparecendo expoentes fundamentais em diversas áreas da filosofia e ciências humanas: Alexander Pfander (Psicologia), Adolf Reinach (Ontologia), Moritz Geiger (Estética), Hedwig Conrad-Martius (Realidade), Roman Ingardem (ontologia), Edith Stein (Fenomenologia e mística), Alexandre Koyré (Ciência), Ludwig Landgrebe (Filosofia), EugenFink (Filosofia), Alfred Schutz (Sociologia), Max Scheler (Filosofia), Nicolai Hartmann (Filosofia), Martin Heidegger (Fenomenologia hermenêutica). Na França outro grupo de pensadores deu à fenomenologia novos contornos: Gabriel Marcel (Filosofia), Jean-Paul Sartre (Filosofia), Maurice Merleau-Ponty (Filosofia), Paul Ricoeur (Filosofia Hermenêutica), Emmanuel Levinas (Filosofia ética). Em decorrência das perseguições nazistas, outro grupo migrou para os Estados Unidos: DorionCarins, MarwinFarber, Aron Gurwitsch, Felix Kaufmann, Fritz Kaufmann e Fritz Kaufmann, Arnold Metzger e Alfred Schutz. O esforço filosófico de Husserl e seus sucessores se direcionou e se direciona ainda hoje a resolver de maneira simultânea uma crise das ciências do homem e uma crise das ciências em geral. Ainda não escapamos desse desafio. O curso objeto desse escrito incluiu uma conferência de Husserl que fora discutida sob a forma de seminário: A crise da humanidade europeia e a filosofia4 . A fenomenologia pode ser definida como um diálogo e uma meditação infinita e não nos cabe prever onde vai dar. Ela se caracteriza pelo inacabamento. Ao contrário dos sistemas filosóficos. E esse inacabamento não se refere a uma fraqueza, mas ao desafio que a sustenta – “revelar o mistério do mundo e o mistério da razão”, como nos diz Merleau-Ponty5 . __________________________ ¹ SPIEGELBERT, Herbert. The phenomenologicalmovement. Dordrecht/Boston/London: KluverAcademicPubliscers, 1994. 768p. ² HUSSERL, Edmund. PhänomenologischePsychologie. VorlesungenSommersemester 1925. Haag: M. Nijhoff, 1962. (HUSSERLIANA IX). ³ HUSSERLIANA, Vol. 5, 1954, p. 17. 4 HUSSERL, Edmund. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. 5 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994. P. 20.
AULA 3: O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO17/01/2020 11:34:13 AULA 3: O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO Muitas estudantes cometem equívocos ao considerar que um ou outro autor com algumas obras expressam o que vem a ser a fenomenologia. Acabam reduzindo erroneamente e compreendendo erradamente as principais ideias da fenomenologia. Herbert Spiegelberg¹ foi muito certeiro ao caracterizar a fenomenologia como “movimento”. Edmund Husserl (1859-1938) A fenomenolo... AULA 2: O MOTIVO-GUIA17/01/2020 10:49:06 AULA 2: O MOTIVO-GUIA Muitas vezes é comum ouvir a indagação de como uma pessoa com formação completa incluindo o doutorado em matemática iria investir ainda mais seus estudos e pesquisas no campo da filosofia. E ao que nos parece, essa motivação já se apresenta numa conferência inaugural em Hale, onde ensinou de 1887 a1901, Über die ZieleundAufgaben der Metaphysik ("Sobre os objetivos e problemas da metafísica"). O objeto tradicional da metafísica é o estudo do Ser. Neste texto Husserl já apresenta seu método de análise da consciência como o caminho para uma nova e universal filosofia e uma nova metafísica. Para Husserl, a base filosófica para a lógica e a matemática precisa começar com uma análise da experiência que está antes de todo pensamento formal. Essa preocupação com a metafísica foi continuada de maneira mais intensa por seu discípulo Martin Heidegger¹ que sustenta um “passo de volta”, de “repetição” e de “desconstrução” da tradição metafísica. Por isso, alguns alunos confundem a proposta da fenomenologia, principalmente no que consiste a dimensão transcendental, e dizem que esse movimento é uma continuidade da filosofia transcendental kantiana. Alguns entendem que não se trata de reconstruir uma nova metafísica, mas recolocar a filosofia em novas bases. Em Meditações Cartesianas escreve: “A fenomenologia exclui apenas uma metafísica ingênua que se refere às absurdas coisas em si, mas não a Metafísica em geral”. Husserl define a metafísica como ciência dos mais altos princípios e últimos problemas. Contudo, a metafísica clássica é considerada ingênua por que pôs entre parênteses a idealidade (sentido), precisamente aquilo que é a medula de tudo e conserva um caráter de evidência plena. Na verdade, a crítica da fenomenologia husserliana indica um fracasso da metafísica e tendência positivista que vem desde Galileu, que transformou a natureza num vestido de ideias. Isso leva à perda do sistema de valores e fins racionalmente estabelecidos. “Meras ciências de fatos fazem meros homens de fatos”, nos diz Husserl. As representações científicas acabaram por exercer um afastamento do mundo caindo numa grande abstração, pois o mundo é aquilo que eu vivo e não uma definição. Nesse sentido a metafísica tradicional em seu modo de descrever os seres teve continuidade nas representações abstratas da ciência. Conforme Merleau-Ponty (1994, p. 18), “a filosofia não é o reflexo de uma verdade pré-estabelecida, mas assim como a arte, é a realização de uma verdade”. Na obra: “A Crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental”, escrita na maturidade Husserl escreve: “Levar a razão latente à compreensão de suas possibilidades e, consequentemente evidenciar a verdadeira possibilidade duma Metafísica. Eis o único meio de introduzir a Metafísica e a Filosofia Universal no laborioso caminho da realização”. A extensão dessa crise é maior que imaginamos. A metafísica objetivista da ciência moderna tem responsabilidade na crise contemporânea. A metafísica se transformou numa mera descrição dos entes. E conforme Heidegger, o problema : o sentido do ser caiu no esquecimento. Pois, a metafísica tradicional restringe o ser no que é característico universal. A fenomenologia então em termos metodológicos propõe um retorno ao mundo-da-vida (Lebenswelt), subjetivo-relativo, dimensão aproximativa, solo de toda operação de conhecimento e toda determinação científica. A crítica ao psicologismo e ao naturalismo cientificista mostra um pouco essa crise que na verdade é uma crise da formação cultural moderna, da formação cultural ocidental. A metafísica é expressa pela técnica e a instrumentalização geral do mundo. Retorno ao mundo subjetivo-relativo, dimensão aproximativa, (Lebenswelt) que é o solo de toda operação de conhecimento e toda determinação científica. Assim, nas palavras de Merleau-Ponty (1994, p. 19), “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta ‘profundidade’ quanto um tratado de filosofia”. _______________________ ¹É de fundamental
importância a leitura de Ser e tempo
buscando compreender como é fundamental uma espécie de “destruição da história
da ontologia”, onde ocorreu uma trivialização da questão do ser.
AULA 2: O MOTIVO-GUIA17/01/2020 10:49:06 AULA 2: O MOTIVO-GUIA Muitas vezes é comum ouvir a indagação de como uma pessoa com formação completa incluindo o doutorado em matemática iria investir ainda mais seus estudos e pesquisas no campo da filosofia. E ao que nos parece, essa motivação já se apresenta numa conferência inaugural em Hale, onde ensinou de 1887 a1901, Über die ZieleundAufgaben der Metaphysik ("Sobre os objetivos e problemas... AULA 1: CENÁRIO INICIAL DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA17/01/2020 10:38:12 CONTEXTO GERAL DA FENOMENOLOGIA AULA 1: CENÁRIO INICIAL DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA Nos diversos ambientes acadêmicos em que ensinei ou participei de estudos sobre a fenomenologia era comum ouvir as pessoas explicitarem as dificuldades diante desse pensador. A grande maioria dos estudantes acaba iniciando os estudos em Martin Heidegger, desconsiderando a herança que ele mesmo carregou e nem sempre reconheceu. Podemos identificar algumas dificuldades fundamentais para se compreender a fenomenologia. Extensão da obra de Husserl O primeiro obstáculo se refere à extensão da obra de Husserl. Em vida ele não se preocupou em organizar ou publicar tudo o que escrevia. Permaneceram os manuscritos taquigrafados¹ a serem transcritos e publicados pelos continuadores de seu pensamento. Sabemos que esses manuscritos poderiam ter tido um destino trágico, a fogueira disseminada pelo governo nazista. Graças ao monge Herman Van Breda, esses manuscritos foram levados às escondidas para a Bélgica e lá foram guardados. Diante desse risco ocorrido, sua obra foi depositada em cópias e arquivada em Lovain (Bélgica), Freiburg (Alemanha), Köln (Alemanha), Escola Superior de Paris (França), Duquesne’s Simon Silverman (USA). Hoje, a extensão de sua obra é de 42 volumes da Husserliana, 14 volumes de cartas e documentos, 9 volumes de estudos complementares e 13 volumes de estudos específicos. Ainda há pouca coisa traduzida para a língua portuguesa. A extensão de sua obra e o tempo gasto para transcrição e publicação levou muitas pessoas a compreenderem Husserl apenas em um determinado espaço de tempo, o que levou a muitos juízos equivocados. Hoje se entende que do ponto de vista metodológico do estudo do pensamento husserliano seja adotada a perspectiva motivacional, exigindo o pesquisador percorrer um determinado conceito ao longo de toda a obra. Além disto, a fenomenologia se constituiu desde o início com um movimento que a cada dia mais se estende e cresce. Não se trata de uma filosofia ao modo de sistema, fechada, mas uma abertura do pensamento para outras dimensões da realidade. Assim, por exemplo, quando sua assistente Edith Stein perguntou a Husserl o caminho investigativo que ela poderia trilhar, ele imediatamente abriu sinceramente um tema que ele pouco havia refletido, a empatia² (Einfullung). E assim Husserl foi fazendo com os vários alunos e participantes dos círculos de estudo por onde lecionava, especialmente Halle, Göttingen e Freiburg. Seus alunos encontraram desde o início a liberdade para o pensar, mantendo-se apenas a metodologia empregada. E isso era o que mais desafiava seus alunos. O ver fenomenológico Martin Heidegger, discípulo e assistente de Husserl, em seu texto “O meu caminho na fenomenologia³” confessa:
As Investigações Lógicas são as obras inaugurais do pensamento husserliano e datam de 1900 e 1901. Antes ele publicou Filosofia da aritmética que foi muito criticada pelo matemático, lógico e filósofo Friedrich L. Frege, que pesquisava a fronteira entre a filosofia e a matemática e foi um dos principais criadores da lógica matemática. A dificuldade encontrada por Martin Heidegger para entender o pensamento fenomenológico não se situava na dimensão do entendimento, mas do ver. Ele diz que somente a partir do momento em que passou a “ver fenomenologicamente” o mundo é que iniciou a compreensão do modo de proceder da fenomenologia. Assim, para muitos alunos, a dificuldade não está na falta de leitura, mas na atitude a ser adotada diante da fenomenologia. Em outras palavras, estamos diante de um novo método de pensar e investigar a realidade. Muitos preconceitos e incompreensões decorrem dessa dificuldade por parte dos leitores de Husserl e seus discípulos. Heidegger se refere aos estudos junto a Franz Brentano. Este pensador exerceu papel fundamental no desenvolvimento da fenomenologia como da própria psicanálise. Nessa mesma escola estudou também Freud, além de Husserl e Heidegger. O pensamento de Husserl é de fato muito complexo. Ele mesmo dizia que seus leitores não tinham paciência de acompanhar seus livros e iam entendê-lo através de Max Scheller e Martin Heidegger. ___________________________________ ¹ Husserl usava a Taquigrafia de Gabelsberger, muito comum na Alemanha e Áustria na época. ² Sobre essa questão vale percorrer a reflexão da discípula, assistente de Husserl e primeira mulher alemã com o título de doutorado Edith Stein, martirizada em Auschwitz. ³ HEIDEGGER, Martin. O meu caminho para a fenomenologia. Covilhã (Portugal): LusoSofia Press, 2009. P. 4.
AULA 1: CENÁRIO INICIAL DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA17/01/2020 10:38:12 CONTEXTO GERAL DA FENOMENOLOGIA AULA 1: CENÁRIO INICIAL DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA Nos diversos ambientes acadêmicos em que ensinei ou participei de estudos sobre a fenomenologia era comum ouvir as pessoas explicitarem as dificuldades diante desse pensador. A grande maioria dos estudantes acaba iniciando os estudos em Martin Heidegger, desconsiderando a herança que ele mesmo carregou e nem sempr... INTRODUÇÃO17/01/2020 08:37:15 CURSO DE INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA PRIMEIRA PARTE Dr. Edebrande Cavalieri ¹ Estamos apresentando uma síntese de um curso sobre a fenomenologia husserliana ministrado em 2018 aos alunos do Instituto de Imensa Vida de Desenvolvimento Humano de Vitória, Espírito Santo. A proposta foi de se apresentar os principais conceitos da fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938), base do trabalho de Bert Hellinger. Nas aulas foi possível exemplificar os conceitos e possibilitar aos presentes perguntarem, bem como comentar o que estava sendo apresentado relacionando com a perspectiva adotada pelo Instituto. Apresentamos sob a forma de slides nas aulas e aqui desenvolvemos uma pouco mais o tema. Nessa primeira etapa apresentamos 12 aulas com os aspectos mais gerais da fenomenologia. Na segunda parte faremos um detalhamento maior dos principais conceitos herdados da fenomenologia husserliana. Ainda está em projeto desenvolver outros campos mostrando a fenomenologia desenvolvida por outros pensadores como Martin Heidegger, Merleau-Ponty, Edith Stein, etc. Apresentamos esse trabalho dividido em duas partes: na primeira abordamos o contexto geral em que está situada a fenomenologia e na segunda parte vamos tomar os principais conceitos para o estudo. Muitos alunos me perguntam por onde começar o estudo da fenomenologia. Penso que partindo de Edmund Husserl seja o caminho mais correto. Alguns tentam estudar esse pensado, mas enveredando pelo atalho, querendo talvez chegar mais rapidamente à compreensão dos conceitos. Assim tomam Martin Heidegger ou outro pensador, geralmente discípulos do mestre. Uma das justificativas para isso foi o fato de suas obras serem publicadas tardiamente, estando em grande parte ainda taquigrafadas na primeira metade do século XX. Hoje, esse atalho não se justifica mais, pois o conjunto da obra husserliana está à disposição dos leitores. Aqueles que dominam a língua alemã e o inglês estarão mais preparados, pois as traduções para outros vernáculos é lenta. A fenomenologia é um dos movimentos mais importantes da filosofia contemporânea, ainda em grande parte desconhecida dos meios acadêmicos. Gostaria de citar uma frase de Husserl que expressa bem o que vem a ser esse pensamento: Não é da filosofia que deve partir o impulso da investigação, mas sim das coisas e dos problemas. E foi exatamente nessa direção que o pensamento husserliano avançou descortinando novos horizontes. Ele não desconsiderava a tradição, mas não ficava preso a ela. ____________________________ ¹Professor Titular da área de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo e doutor em Ciências da Religião.
INTRODUÇÃO17/01/2020 08:37:15 CURSO DE INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA PRIMEIRA PARTE Dr. Edebrande Cavalieri ¹ Estamos apresentando uma síntese de um curso sobre a fenomenologia husserliana ministrado em 2018 aos alunos do Instituto de Imensa Vida de Desenvolvimento Humano de Vitória, Espírito Santo. A proposta foi de se apresentar os principais conceitos da fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938), base do trabalho de Bert He... Quem organizou esse método de trabalho?10/12/2019 16:01:29 Bert Hellinger Quem foi Bert Hellinger? Foi membro, como religioso professor na Congregação dos Missionários Mariannhill por 25 anos e trabalhou a maior parte de sua vida como padre na região da África do Sul junto à população dos Zulus.
Como foi a sua saída da Congregação?
Quando Hellinger saiu ele se casou?
Quando posso fazer uma constelação?
Se constela um defeito de caráter?
Como acontece uma constelação?
Qual a finalidade das constelações?
Por que nas constelações os representantes expressam sentimentos de alegria ou dor dos membros da família que ele está representando? Isso não é manifestação do espiritismo?
O que são Ordens do Amor?
Quais são as ordens do amor?
Quem organizou esse método de trabalho?10/12/2019 16:01:29 Bert Hellinger Quem foi Bert Hellinger? Foi membro, como religioso professor na Congregação dos Missionários Mariannhill por 25 anos e trabalhou a maior parte de sua vida como padre na região da África do Sul junto à população dos Zulus. Quando nasceu: 16.12.1925Quando faleceu: 19.09.2019 Como foi a sua saída da Congregação?Numa entrevista que Hellinger deu a Gabriele Ten Hovel que ... Conceitos da Constelação10/12/2019 15:03:24 Emaranhamentos:
Destino:
Liberdade:
Conceitos da Constelação10/12/2019 15:03:24 Emaranhamentos:Quando alguém da família atual, vive a vida e o destino de um antepassado de forma inconsciente. O indivíduo, membro da família atual, é como que teleguiado pelo destino de alguém que foi excluído do sistema familiar anterior. O excluído pode estar na família dos genitores, dos avós ou dos bisavós, materno ou paterno, ou mesmo alguém que perdeu ou fez um sacrifício para que a famíli... NEWSLETTERObtenha dicas para alavancar seu negócio e se tornar um case de sucesso + LIDAS + COMENTADAS ARQUIVOPág. 1 de 1 - 18 postagens |
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